A frase do título significa “um pouco de italiano”, usada para dizer que alguém sabe ou fala um pouco da língua italiana. O apóstrofo indica que houve uma elisão, ou seja, a omissão da parte final da palavra para simplificar a pronúncia ou para se adaptar ao uso coloquial. Veja um pouco mais sobre italiano nesse post.
História
A língua italiana, como a conhecemos hoje, não foi sempre falada pelo povo da Península Itálica. Para entender sua origem, é preciso voltar ao século V a.C., quando o território era habitado por diversos povos independentes, com línguas e culturas distintas.
Dentre esses povos, os romanos se destacaram por fatores geográficos e comerciais que lhes permitiram conquistar territórios vizinhos e impor sua língua: o latim. No entanto, havia duas formas de latim: o latim clássico, usado na literatura e em comunicações oficiais, e o latim vulgar, falado pelo povo. Este último não seguia rigorosamente as normas gramaticais e variava de região para região, influenciado pelas línguas locais e sua própria evolução.
Com o declínio do Império Romano, a península passou a ser invadida por diferentes povos, o que enfraqueceu ainda mais o latim falado. Embora o latim escrito continuasse em uso entre os mais eruditos, o latim vulgar se transformou, absorvendo características das línguas dos novos habitantes. Assim, surgiram os vulgares, que pouco a pouco se consolidaram e deram origem a novas tradições literárias.
Após a queda do Império Romano no século V, o latim vulgar começou a evoluir de forma diferenciada em cada região, influenciado pelas línguas locais e pelas invasões de povos germânicos, eslavos e árabes. Essa fragmentação deu origem às línguas românicas, que compartilham um vocabulário comum, mas possuem características gramaticais e fonéticas únicas. Veja quais são esses idiomas:
- Português: falado principalmente em Portugal, Brasil e países africanos lusófonos
- Espanhol: também conhecido como castelhano, falado na Espanha e na América Latina
- Francês: falado na França, em partes da África e em outras regiões
- Italiano: falado na Itália e em comunidades italianas pelo mundo
- Romeno: falado na Romênia e na Moldávia
- Catalão: falado na Catalunha, em Andorra e nas Ilhas Baleares
- Occitano: falado em partes do sul da França
- Sardo: falado na Sardenha, na Itália
- Galiciano: falado na Galícia, na Espanha, próximo ao português
- Ladino: falado por algumas comunidades judaicas sefarditas, com base em variantes antigas do espanhol
- Mirandês: língua cooficial em Portugal, falada na região de Miranda do Douro, com influências do galego-português e do leonês
- Asturiano: também chamado de bable, é falado no Principado das Astúrias, na Espanha, e tem semelhanças com o leonês
- Aragonês: falado nos vales montanhosos de Aragão, na Espanha, é uma língua minoritária ameaçada de extinção
- Corsicano: língua falada na Córsega, tem grande semelhança com dialetos toscanos do italiano e é influenciada pelo francês
- Franco-Provençal: falado em partes da França, Suíça e Itália, situa-se linguisticamente entre o francês e o italiano
- Napoletano-Calabrês: grupo de dialetos falados no sul da Itália, reconhecido pela sua rica tradição musical e poética
- Siciliano: língua histórica da Sicília, com influências árabes, normandas e espanholas, distinta do italiano padrão
- Emiliano-Romanhol: dividido em Emiliano e Romanhol, é falado nas regiões da Emília-Romanha, com características que o aproximam do norte da Itália
- Vêneto: falado na região de Veneto, no nordeste da Itália, tem status de língua regional e uma tradição literária própria
- Lombardo: falado na região da Lombardia, no norte da Itália, apresenta variações significativas entre seus dialetos
- Lígure: língua românica falada na Ligúria, Itália, com forte influência marítima e conexões culturais com Gênova
- Piemontês: falado no Piemonte, no noroeste da Itália, tem reconhecimento oficial como língua regional, distinta do italiano
- Dálmata (extinta): era falada na costa da Dalmácia, atualmente na Croácia, e desapareceu no século XIX, com seu último falante falecido em 1898
- Mozarábico (extinta): variedade românica falada na Península Ibérica durante a ocupação muçulmana, influenciada pelo árabe e extinta após a Reconquista.
Avançando no tempo, entre 1302 e 1305, Dante Alighieri escreveu em latim a obra De Vulgari Eloquentia, um estudo sobre os diferentes dialetos falados na península. Dante buscava identificar um dialeto que pudesse se destacar entre os demais e servir como língua culta unificadora. Apesar de concluir que nenhum tinha todas as qualidades necessárias, ele mesmo deu um passo decisivo ao escrever sua obra-prima, A Divina Comédia, não em latim, nem no dialeto popular florentino, mas em uma linguagem híbrida: uma base florentina enriquecida com elementos das tradições literárias latina, siciliana e provençal.
No século XVI, com o advento da imprensa — ao lado da descoberta da América e do florescimento do Renascimento — ressurgiu a “questão da língua”. Como não havia padronização entre as obras literárias, gramáticos e editores começaram a organizar sistematicamente as regras ortográficas. Apesar do prestígio crescente do florentino, os diversos dialetos continuavam vivos e disputavam entre si o posto de língua padrão.
Curiosamente, não foram apenas os escritores que contribuíram para essa padronização. Um nome decisivo foi o de Galileu Galilei, que optou por escrever sobre ciência não em latim, como era de praxe, mas no florentino vulgar, tornando suas descobertas mais acessíveis ao público.
Mais tarde, no século XIX, outro nome fundamental foi Alessandro Manzoni, autor de Os Noivos. Manzoni, natural de Milão, escolheu o dialeto florentino para sua obra e trabalhou ativamente pela sua difusão, inclusive no Ministério da Instrução Pública. Sua escolha teve grande influência na consolidação do florentino como base do italiano moderno.
Assim, o italiano não surgiu de forma espontânea, mas foi o resultado de um longo processo intelectual, construído ao longo de séculos por escritores, estudiosos e reformadores. O mais curioso é pensar que, até pouco tempo atrás, ninguém realmente falava italiano — ele precisou ser aprendido.
Antes da unificação da Itália, em 1861, o território italiano era dividido em diversos reinos, ducados, principados e estados independentes. Cada uma dessas regiões tinha suas próprias variedades linguísticas, baseadas em línguas e dialetos que evoluíram do latim vulgar falado no Império Romano, influenciada por invasões e contatos culturais. Por exemplo, o norte da Itália sofreu influências germânicas, enquanto o sul teve influências árabes, normandas e gregas. No momento da unificação, apenas cerca de 2,5% da população falava italiano como língua materna. A maioria continuava usando dialetos regionais em casa e em suas comunidades. Esses dialetos ainda são falados hoje em dia mas vêm perdendo falantes cada vez mais.

Atualmente a Itália é dividida em 20 “stati”, cada um com sua “capoluogo” (cidade principal). Essas regiões se subdividem em províncias e, posteriormente, em comuni (municípios). Surgidos por volta do ano 1000 d.C., os comuni representam a base da organização administrativa e cultural italiana, sendo o principal ponto de identificação dos italianos, mais até do que as regiões ou províncias. “Paese” é uma palavra polissemica: pode significar tanto o país (nazione, Stato), quanto uma pequena localidade, como um vilarejo ou uma cidadezinha. Assim, quando um italiano diz “il mio paese”, pode estar se referindo tanto à Itália como Estado, quanto ao seu pequeno município de origem.
O italiano é a língua oficial do país. Também é uma das línguas oficiais da Suíça, falada no cantão de Ticino e em algumas áreas dos Grisões. Além disso, é amplamente utilizado na República de San Marino e no Vaticano. O italiano também é falado em comunidades de imigrantes em países como Argentina, Estados Unidos, Brasil, Canadá e Austrália, devido às grandes ondas migratórias dos séculos XIX e XX.
Material de estudo gratuito
Para ter um primeiro contato com o italiano de forma gratuita, você pode fazer o curso de italiano do Duolingo. Atualmente (2025), são 3 seções com 10+30+30 unidades e com um alinhamento até o A1 avançado do CEFR.
O Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Italianas da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP) disponibiliza um conjunto de materiais didáticos gratuitos (vídeos, apostilas e material multimídia), elaborado especificamente para alunos e professores brasileiros de italiano, que pode ser utilizado como recurso para a autoaprendizagem, sem tutoria, ou em sala de aula presencial, com a mediação de um professor.
A primeira parte desse material, intitulada Dire, Fare, Partire!, e a segunda, Dire, Fare, Arrivare!, estão disponíveis nos links para o site de cursos de extensão da Pró-reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo (PRCEU/USP). O curso consiste em módulos de 16 aulas e de 17 aulas em cada parte. A série de videoaulas aborda as dificuldades linguísticas e culturais enfrentadas por brasileiros ao aprender italiano, dividindo cada episódio em três partes: uma introdução no estúdio, em que a professora apresenta o tema com cartazes e ilustrações; cenas ficcionais que retratam situações cotidianas com exemplos práticos das dificuldades; e explicações adicionais intercaladas às cenas, onde a professora aponta soluções linguísticas e comenta diferenças culturais. Além disso, cada episódio inclui uma entrevista no estúdio com um convidado para aprofundar aspectos linguísticos ou culturais.
Além disso, existe o Dizionari Garzanti Linguistica e outros dicionários monolíngue gratuitos para consulta online. O Intuitionary tem os principais vocábulos usados em dezenas de idiomas em uma tabela, como português e italiano, permitindo compará-los diretamente. A Enciclopédia Treccani é uma das mais importantes obras de referência da cultura italiana, reunindo conhecimento abrangente em diversas áreas do saber, publicada pelo Instituto da Enciclopédia Italiana desde 1929.
Outros posts foram escritos para expandir o conhecimento de italiano:
- Um po’ di italiano: grammatica
- Um po’ di italiano: vocabulario (EM BREVE)
- Chaves em italiano
- Tour pela Itália
- Vivaldi e As Quatro Estações (EM BREVE)
- Ennio Morricone
- Doces italianos
- Verdadeira pizza napolitana
- Tagliatelle à bolonhesa
Fontes