Islândia e a Revolução Silenciosa

Depois dessa onda de protestos que abalou o país, devemos refletir sobre algumas questões envolvidas. Para começo de conversa, sempre existiram manifestações no Brasil (por exemplo, no vão do MASP as vejo quase que diariamente) sobre assuntos como moradia, segurança, transporte, condições de emprego, cultura, etc. Talvez você não saiba disso, mas como saber disso? A maioria das pessoas é informada pela mídia de massa (televisão em sua maioria, rádio, tv e internet), e se não aparece aí, não dá pra saber o que realmente acontece. Se é mais importante fazer uma matéria de 10 minutos falando sobre o CT do Corinthians em vez de usar o tempo para comentar as reivindicações de algum grupo de manifestantes, isso vai de acordo com a pauta do jornalismo da emissora. Geralmente só aparecem manifestações na mídia se invadem faixas de trânsito, ateiam fogo em pneus ou quebram vidros. A primeira coisa que deveriam os repórteres deveriam divulgar era a lista completa de reivindicações do movimento e discuti-las com a sociedade. No entanto, essa pauta geralmente é resumida a “aumento salarial” ou “moradores não querem ser despejados de …” e são entrevistados pessoas alheias ao movimento, motoristas que falam “olha só, atrapalhando o trânsito! Por que não vão protestar em silêncio?”.

A Revolução não será televisionada. Esse inclusive é o nome de um filme, que trata do poder da mídia ao ocultar informações sobre o golpe de estado que Hugo Chávez havia sofrido na Venezuela, enquanto apoiava o grupo golpista. O mesmo tipo de influência pode ser visto em Muito Além de Cidadão Kane, que fala sobre o poder que a rede Globo exerce no país, e explica um pouco porque no dia com o maior número de manifestantes em São Paulo (70 mil no dia 17/06/2013), a maioria segui para protestar em frente ao prédio da Globo. Os “baderneiros” passaram a ser chamados de manifestantes, e distinguiu-se quem ia protestar e quem ia vandalizar. Isso tudo vai ser assunto para outro post, mas nesse gostaria de falar sobre a Revolução Silenciosa que ocorreu na Islândia (já dá pra entender porque chamam de “silenciosa” né?).

Protestos em Austurvöllur (Islândia) por causa da crise econômica islandesa em 2008. Fonte: Wikimedia.

A Islândia é formada por um arquipélago no Atlântico norte e que, como vários países europeus, sofreram uma grave crise econômica na virada da década de 2010. Em 2003, sob a pressão neoliberal, a Islândia privatizou o seu sistema bancário, até então estatal, transformando a ilha em um paraíso fiscal para os grandes bancos. Instituições como o Lehman Brothers usavam o crédito internacional do país a fim de atrair investimentos europeus, sobretudo britânicos. Esse dinheiro era aplicado na ciranda financeira, comandada pelos bancos norte-americanos. A quebra do Lehman Brothers expôs a Islândia que assumiu, assim, dívida superior a dez vezes o seu PIB (Produto Interno Bruto). Em 2008, O governo foi obrigado a re-estatizar os seus três bancos e as atividades da bolsa de valores foram suspensas.

Parece uma máxima neo-liberal: privatizar os lucros, coletivizar o prejuízo. Assim, o governo decidiu que cada um dos islandeses deveria pagar 130 euros mensais durante 15 anos para cobrir a farra feita pelos bancos norte-americanos, holandeses e ingleses naquele país! A crise levou o país à falência e estabeleceu-se uma crise política de enorme proporção.

Em 2009, a população realiza enormes protestos, pedem a antecipação das eleições e causam a queda do primeiro ministro e de todo o governo. Em 2010, novos protestos exigem um referendo sobre a dívida e, com 93% dos votos, decidiu-se não pagar a dívida que era responsabilidade do sistema financeiro internacional. Olhe só como a situação foi enfrentada (texto retirado do site Carta Maior):

“Uma assembleia popular, reunida espontaneamente, decidiu eleger corpo constituinte de 25 cidadãos, que não tivessem qualquer atividade partidária, a fim de redigir a Carta Constitucional do país. Para candidatar-se ao corpo legislativo bastava a indicação de 30 pessoas. Houve 500 candidatos. Os escolhidos ouviram a população adulta, que se manifestou via internet, com sugestões para o texto. O governo encampou a iniciativa e oficializou a comissão, ao submeter o documento ao referendum realizado em 20/10/2012.” O novo governo investigou toda a situação. Executivos e políticos ligados aos bancos foram processados e alguns condenados à prisão.

Assim, o que aconteceram decorrentes dos protestos: demissão em massas do governo, nacionalização dos bancos, referendo sobre questões fundamentais econômicas, prisão dos principais responsáveis pela crise, nova constituição escrita pela população (retirado do vídeo do canal ThePlot911).

A grande mídia censurou as notícias, pois contrariam os interesses de grandes corporações (como elas mesmas), do sistema financeiro e anunciantes que as sustentam e dos governos que protegem e mantém todo a engrenagem rodando. O livro “O país que não resgatou seus bancos” conta detalhadamente a história.

Até mais, e obrigado pelos comentários! =)

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