Previsão de tempo

A previsão do tempo envolve a observação sistemática da atmosfera através de instrumentos (ou mesmo visualmente) em várias partes do mundo (e até mesmo fora dele, através de satélites), introdução desses valores em supercomputadores para rodar modelos numéricos (programas) desenvolvidos a partir de muita Física, Matemática e Computação e gerar imagens e gráficos, aliado à interpretação de meteorologistas com anos de experiência. Tudo isso para tentar prever o futuro estado da atmosfera em determinados locais e períodos.

Todas as previsões são baseadas em probabilidades, já que devido ao comportamento caótico da atmosfera não é possível prever com 100% de certeza algum fenômeno (como aquela cena do filme “De volta para o Futuro 2”, em que o Dr. Brown afirma que “vai parar de chover em 3,2,1” e pára). Nos anos 1970, o cientista Edward Lorenz descobriu que pequenas mudanças ou pequenos erros em um par de variáveis em seus modelos computacionais de previsão produziam efeitos tremendamente desproporcionais a longo prazo. Lorenz chamou sua descoberta de “efeito borboleta“, tirado do título de artigo que ele publicou em 1979: “Previsibilidade: pode o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadear um tornado no Texas?”. Veja mais sobre Caos e efeito borboleta nesse vídeo do canal Nerdologia.

Assim, quanto mais no futuro, mais incerta é a previsão. Por isso que as previsões mais confiáveis ficam entre 3 a 7 dias, no máximo. Períodos maiores (escala de meses) já envolvem uma previsão do clima, que é a condição média da atmosfera para um maior período de tempo. Sabe aquela conversa sobre mudanças climáticas? Não tem a ver com a situação “hoje de manhã estava frio e agora a tarde ficou muito quente”, isso seria uma mudança de tempo. Mudar o clima é daqui algumas décadas ficar comum nevar em São Paulo no inverno, por exemplo. A previsão de clima é muito importante para economia, por exemplo, se fizer muito calor no próximo verão, as vendas de sorvetes no Brasil podem aumentar muito.

Um outro exemplo de mudanças climáticas: no inverno de 2013-2014 dos EUA, a mídia noticiou um inverno extremamente rigoroso como se desmentisse todo o trabalho científico sobre aquecimento global. Não é porque está frio por um final de semana que não estão ocorrendo mudanças no clima – a tendência da temperatura mudar é em torno de 20 a 50 anos, com oscilações. O que aconteceu não foi que esse inverno foi muito frio, e sim que nesse período voltou a fazer um frio que não fazia a 20 anos – fazia esse tempo todo que não nevava. Isso era normal, mas nos últimos 20 anos estava tão quente que uma geração inteira estava acostumada a temperaturas menos baixas e os mais velhos já estavam esquecendo do frio intenso.

Existe também a questão de que o início e término das estações do ano não obedecem os limites impostos pelo homem. Assim, primavera e outono geralmente são estações de transição, ora com cara de verão, ora com cara de inverno. E nada impede de durante verão e inverno ocorrerem mudanças de tempo.

No Brasil, existem vários institutos (estatais e particulares) especializados na previsão de tempo e clima. Exemplos: CPTEC/INPE, INMET, Somar, Climatempo, MetSul. Todos eles trabalham utilizando a metodologia científica, ou seja, utilizam um conjunto de regras básicas de como se deve proceder a fim de produzir conhecimento, que envolve padronização na obtenção de dados, tratamento matemático utilizando leis da Física e comprovadas experimentalmente. A obtenção de dados envolve milhares de estações meteorológica distribuídas em continentes, boias, balões, navios e aviões, assim como satélites e radares. Os centro de previsão recebem os dados, que são introduzidos em supercomputadores, que ocupam vários metros quadrados, onde são processados através de equações matemáticas desenvolvidas a partir de leis Físicas que descrevem o movimento de fluidos, transferência de calor, etc, após de séculos de pesquisa e debates entre cientistas do mundo todo, e que continuam em constante desenvolvimento. Para ver mais sobre a matemática envolvendo os cálculos de movimentação das massas de ar, veja o post Fluídos geofísicos e Meteorologia.

Os resultados desses processamentos são interpretados por equipes com profissionais da Meteorologia com anos de experiência nessas análises e publicados na mídia. Geralmente, quem apresenta previsão do tempo na televisão não é meteorologista, é um jornalista (isso gera uma piadinha sem sentido que acontece muito: “você é meteorologista, então quer ser a moça do tempo no jornal?”). No rádio é o contrário: geralmente são contratadas empresas de Meteorologia e são feitas chamadas (ao vivo ou gravadas) com meteorologistas apresentando a previsão de tempo).

Mapa de temperaturas gerado a partir dos dados do modelo meteorológico operacional dos Estados Unidos (NOAA/NCEP), previsão para o dia 22/07/2013, que foi o dia em que o centro da América do Sul foi o lugar mais frio da Terra (com exceção da Antártida)
Mapa de temperaturas gerado a partir dos dados do modelo meteorológico operacional dos Estados Unidos (NOAA/NCEP), com escala de cores em °C; previsão para o dia 22/07/2013, em que o centro da América do Sul foi o lugar mais frio da Terra (com exceção da Antártida)

Essa breve descrição de como é feita a previsão do tempo é um contraste de como muitas vezes a previsão do tempo é tratada como adivinhação. Não é o caso da observação popular de fenômenos da natureza que permitem inferir previsões em diferentes horizontes de tempo – veja mais no post sobre Meteorologia Popular. Mas geralmente em campos do conhecimento que envolve previsão, aparecem pessoas afirmando poderes mágicos e místicos sobre o tempo, como a Fundação Cacique Cobra Coral. Fundada em 1931 por Ângelo, pai de Adelaide, ele teria sido o primeiro a receber o espírito do índio norte-americano, que antes haveria encarnado no ex-presidente Abraham Lincoln e no cientista Galileu Galilei. Adelaide incorporaria também “uma equipe de engenheiros siderais, cada um responsável por um fenômeno da natureza”, e teria o dom de prever o futuro e controlar o tempo.

Além da questão do comportamento caótico da atmosfera, um ponto que gera muita desconfiança do público com relação à Meteorologia diz respeitos às “pancadas isoladas de chuva“. Existem nuvens que se desenvolvem muito na vertical, com pouco alcance na horizontal, formando chuvas intensas, porém de curta duração e que cobrem uma área pequena. Assim, pode não chover no seu bairro, mas do outro lado da rua está chovendo. Como estavam previstas chuvas, a pessoa que estava na área onde não choveu diz que a Meteorologia errou. Devido ao lado emocional, as pessoas tendem a contabilizar mais as vezes em que a Meteorologia erra as previsões e produz um efeito desagradável, criando um viés subjetivo na avaliação dos resultados das previsões de tempo.

Outro ponto em que as pessoas afirmam uma incerteza grande da previsão de tempo: temperaturas máxima e mínima. Esses conceitos não significam que a temperatura do dia será algum valor entre 10°C e 30°C, por exemplo, e sim que a maior temperatura do dia será de 30°C, o que geralmente ocorre por volta de 15h, e a menor será de 10°C, geralmente ao nascer do Sol. Nesse caso, já dá pra saber que de manhã será frio e de tarde irá fazer muito calor.

Em alguns países, como os EUA, a previsão do tempo apresentada ao público é muito detalhada e cheia de detalhes técnicos (uma cultura bem diferente da nossa). Até mesmo o conceito de pressão atmosférica é bem mais utilizado por lá do que aqui. É muito comentado nas previsões dos EUA sobre valores e tendências da pressão do ar: se subir, tempo aberto, e se baixar, tempo fechado, basicamente. Caso queira acompanhar variações na pressão do ar, você também pode construir um barômetro caseiro.

Voltando na questão do frio e calor, essa sensação é muito subjetivo pois depende bastante do clima em que a pessoa vive e outros fatores fisiológicos e psicológicos. Se alguém falar para você “amanhã vai fazer frio” e a previsão de temperatura for de 15°C, isso é frio para você? Ainda existe o conceito de sensação térmica, que leva em consideração a umidade e velocidade do vento para estimar a temperatura sentida pela pessoal considerando esses fatores meteorológicos.

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