A música “Mia Gioconda” ficou famosa no Brasil a partir de 1996 com a transmissão da novela “O Rei do Gado”. Cantada por Agnaldo Rayol, a letra da música Mia Gioconda narra a história de um pracinha da Força Expedicionária Brasileira que conheceu uma italiana durante a Segunda Guerra Mundial e se apaixonaram, mas tiveram de se separar quando o soldado deve voltar ao Brasil. Ela casa perfeitamente com o enredo da novela, em que esse caso também ocorre e ainda nasce um filho. Mas e se existise uma música que contasse o que aconteceu com ela e o filho na Itália?

A maioria dos soldados brasileiros desembarcou no sul da Itália, especialmente no porto de Nápoles, a partir de julho de 1944. Esse porto era, à época, controlado pelos Aliados e servia como base para entrada de tropas e suprimentos. Embora Nápoles fosse o principal ponto de desembarque, alguns efetivos e equipamentos também passaram por outros portos italianos como Taranto e Livorno, especialmente à medida que a guerra avançava para o norte. A FEB combateu principalmente na região dos Apeninos e do norte da Itália, participando de batalhas importantes como a Tomada de Monte Castello, a Batalha de Castelnuovo, a Conquista de Montese e a Rendição de tropas alemãs em Fornovo di Taro.
O Rei do Gado
Bruno Berdinazzi (interpretado por Marcello Antony), personagem da novela “O Rei do Gado”, foi um jovem ítalo-descendente que lutou como pracinha na Segunda Guerra Mundial, integrando a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na campanha da Itália. Durante o tempo em que esteve no front, Bruno viveu uma intensa história de amor com uma italiana, com quem teve um filho. No entanto, ele morreu em combate, sem ter a chance de voltar ao Brasil ou conhecer o próprio filho. Sua morte abalou profundamente seu pai, Giuseppe Berdinazzi (interpretado por Tarcísio Meira), que recebeu apenas uma medalha como reconhecimento pelo sacrifício do filho. A dor de Giuseppe era tão profunda que ele desenvolveu uma crença quase mística: enterrou a medalha no solo da fazenda da família, acreditando que, como uma semente, o gesto poderia trazer Bruno de volta à vida.
A tragédia de Bruno ocorre em meio ao histórico conflito entre os Berdinazzi e os Mezenga, duas famílias rivais na disputa por terras. Do lado rival estava o patriarca Antônio Mezenga (interpretado por Antonio Fagundes), cujo filho, Enrico Mezenga (Leonardo Brício), se envolvia romanticamente com Giovanna Berdinazzi (Letícia Spiller), irmã de Bruno. Essa rivalidade intergeracional culmina no amor proibido entre Enrico e Giovanna, do qual nasceu Bruno Berdinazzi Mezenga, que viria a ser o Rei do Gado. Geremias Berdinazzi, irmão de Bruno e Giovanna, viria a se tornar o Rei do Café e do Leite.
O herdeiro de Bruno Berdinazzi foi mencionado pela mãe, Marieta Berdinazzi (Eva Wilma), durante a leitura de uma carta enviada por Gema (Luísa Fiori), a mulher italiana com quem Bruno se envolveu durante a Segunda Guerra Mundial, antes de morrer em combate. A carta trazia a revelação de que Gema havia tido um filho com Bruno, mantendo viva a memória do pracinha mesmo após sua morte. Apesar da referência à criança, o filho de Bruno não chega a aparecer ao longo da primeira fase da novela, permanecendo apenas como uma lembrança entre os personagens que conviveram com o soldado.
Com o passar dos anos, já na reta final da trama escrita por Benedito Ruy Barbosa, o herdeiro de Bruno finalmente entra na história sob o nome de Giuseppe (interpretado por Emílio Orciollo Neto). O jovem italiano aparece nos últimos capítulos do folhetim, vindo ao Brasil com seu tio-avô Geremias Berdinazzi (vivido por Raul Cortez), que foi para a Itália em sua busca. Sua chegada à fazenda de Geremias desperta uma enorme alegria no velho produtor de café, que o reconhece como legítimo membro da família Berdinazzi, encerrando assim um ciclo de perdas e reconciliações.
Ao longo de sua estadia no Brasil, Giuseppe descobre também a existência de Luana Berdinazzi (Patricia Pillar), filha de Giácomo (Manoel Boucinhas), irmão que Geremias havia deserdado após acusá-lo de trapaça. Luana se casa com Bruno B. Mezenga no último capítulo da novela, reatando os laços perdidos pelo tempo e pelas disputas entre as famílias.
Mia Gioconda
O nome Gioconda está diretamente associado à célebre pintura Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, uma das obras de arte mais famosas do mundo. O título original da pintura em italiano é La Gioconda, em referência a Lisa Gherardini, esposa de Francesco del Giocondo, de quem deriva o sobrenome “Gioconda”. Assim, o nome carrega uma forte carga simbólica ligada ao mistério, à beleza enigmática e ao ideal renascentista de arte e feminilidade. Com o tempo, Gioconda passou a evocar não apenas a figura retratada na obra, mas também uma ideia de mulher fascinante, contemplativa e inesquecível — atributos frequentemente explorados em outras manifestações artísticas, como na música, literatura e teatro.
A música Mia Gioconda, composta por Vicente Celestino, é uma canção dramática e intensa que reflete o estilo característico do cantor, marcado por interpretações passionais e vibrantes. Com uma letra que narra uma história de amor profundo e trágico, a música combina elementos líricos e teatrais, evocando sentimentos de dor, saudade e devoção eterna. A figura de “Gioconda” é idealizada como um amor perdido, quase mitológico, cuja ausência consome o eu lírico, conferindo à obra um tom operístico e sentimental, típico da chamada “canção romântica” brasileira do início do século XX.
A letra da música mistura descrição em português e diálogos em italiano, primeiro por parte do soldado e depois, da italiana. Traduzindo toda a música para o italiano e adaptando para que ainda tenha métrica e rima, uma posśivel versão seria essa:
Dal giorno in cui nasciamo e viviamo in questo mondo,
ci manca una costola, la troviamo in un secondo.
A volte è qui vicino, la vogliamo abbracciare,
ma spesso molto lontano dobbiamo andare.Vediamo il destino di un soldato brasiliano,
partì verso l’Italia, divenne un veterano.
E là, così distante, l’amore gli fiorì,
e disse a una giovane queste parole lì.Italiana
La mia vita oggi sei tu
Io ti voglio tanto bene
Partiremo tuti insieme
Ti lasciar non posso piùItaliana
Voglio a te, piccola bionda
Ha il viso degli amori
Le tue labbra son due fiori
Tu sarai la mia GiocondaVinto ormai il nemico, un tempo forte e leale,
la F.E.B. ricevette un ordine ufficiale:
“Dovete ritornare, chi si è sposato non può
portare con sé la sposa, la sposa resterà qui, però.”Allora il bravo giurò, tornando alla vita civile:
“Verrai con me, amata, nel cielo del mio Brasile!”
E mentre lei aspettava sul molo napoletano,
ripeteva queste parole nel suo idioma italiano.Brasiliano
La mia vita oggi sei tu
Io ti voglio tanto bene
Chiedo a Dio che tu venga
Ti scordar non posso piùBrasiliano
Sono ancora la tua bionda
Mio sposo hai lasciato
Questo cuore abbandonato
Che chiamasti di GiocondaDi Gioconda!
Di Gioconda!
Com a morte do soldado, a “Gioconda” lamenta a perda de seu amor e pai de seu filho:
Mio Tesoro
Passaram-se os anos, a espera foi em vão, / Passarono gli anni, l’attesa fu vana,
o barco foi embora, sem uma explicação. / la nave partì, senza una spiegazione strana.
A Gioconda chora, abraça o seu menino, / La Gioconda piange, stringe il suo bambino,
um filho do Brasil, perdido em seu destino. / un figlio del Brasile, perso nel destino.Nos campos, na cidade, ela ouve um acorde, / Per i campi e la città, sente un accordo,
lembranças de um amor que o tempo não morde. / ricordi di un amore che il tempo non ha morso.
Talvez se foi no mar, talvez na guerra cruel, / Forse è andato via sul mar, forse in guerra crudele,
mas ainda sonha vê-lo sob o mesmo céu. / ma ancora sogna vederlo sotto lo stesso cielo.Italiana / Italiana
A minha vida foste tu / La mia vita eri tu
Te esperei por tantos anos / Ti ho aspettato tanti anni
Te busquei em oceanos / Ti ho cercato tra gli oceani
Mas não voltas nunca più / Ma non torni mai di piùItaliana / Italiana
Nosso filho tem teu rosto / Nostro figlio ha il tuo viso
Tem teu jeito brasileiro / Ha il tuo sguardo brasiliano
Nos seus olhos, prisioneiro / Nei suoi occhi, prigioniero
Vejo o sonho mais disposto / Vedo un sogno un po’ più vivoPelas noites frias, canta para o pequeno, / Nelle notti fredde, canta al piccolino,
uma canção antiga, num amor sereno. / una canzone antica, con un amor divino.
Se a vida lhe roubou, se o vento lhe levou, / Se la vita gliel’ha tolto, se il vento l’ha portato via,
ela crê que um dia o céu lhe explicará. / crede ancora che il cielo un giorno glielo spiegherà.Brasiliano / Brasiliano
Disseste um dia que voltavas / Mi dicesti “tornerò”
Mas nem cartas, nem sinais / Ma né lettere, né un segno
Só silêncio, só os ais / Solo il pianto, solo il legno
E uma vida que esperavas / Di una vita che aspettòBrasiliano / Brasiliano
Nosso filho diz teu nome / Nostro figlio dice il nome
Eu o vejo e volto a amar / Io lo guardo e torno ad amar
Mas meu peito a soluçar / Ma il mio petto a singhiozzar
Chora sempre por teu nome / Piange sempre per il tuo nomePor teu nome! Por teu nome! / Per il tuo nome! Per il tuo nome!
Essa poesia foi gerada em parte com o chatGPT, nos dois idiomas.