Música italiana

A música italiana tem uma história rica e diversificada, influenciada por diferentes movimentos e estilos ao longo dos séculos. Aqui estão alguns dos principais movimentos musicais italianos e algumas curiosidades.

Teatro alla Scala (ou La Scala), em Milão, uma das mais famosas casas de ópera do mundo. Foto: ViniRoger
Teatro alla Scala (ou La Scala), em Milão, uma das mais famosas casas de ópera do mundo. Foto: ViniRoger

Música Clássica e Ópera (Séculos XVI-XIX)

No Renascimento (século XVI), a Itália foi um dos berços da música polifônica, com compositores como Giovanni Palestrina influenciando a música sacra. Depois, veio a Ópera Barroca (século XVII), nascido na Itália com a Camerata Florentina, e compositores como Claudio Monteverdi ajudaram a consolidar o estilo. Por fim, a Ópera Clássica e Romântica (século XVIII-XIX), quando compositores como Gioachino Rossini, Gaetano Donizetti, Vincenzo Bellini e Giuseppe Verdi tornaram a ópera italiana famosa mundialmente.

Il Barbiere di Siviglia” (O Barbeiro de Sevilha), de Gioachino Rossini, é uma das óperas buffas mais famosas e aclamadas da história da música. Estreada em 1816, a obra é baseada na peça homônima de Pierre Beaumarchais e narra a história do esperto barbeiro Fígaro, que ajuda o Conde Almaviva a conquistar a bela Rosina, driblando as artimanhas do ciumento doutor Bartolo. Com uma partitura vibrante e cheia de energia, a ópera destaca-se por árias icônicas como “Largo al factotum”, com sua célebre frase “Figaro! Figaro! Figaro!”, e a cativante “Una voce poco fa”. A mistura de melodias contagiantes, humor afiado e brilhante orquestração fez desta ópera um dos pilares do repertório operístico, consolidando Rossini como um mestre da ópera cômica.

O mio babbino caro” é uma das árias mais conhecidas e emocionantes de Giacomo Puccini, extraída da ópera Gianni Schicchi (1918), parte do tríptico Il Trittico. Cantada pela personagem Lauretta, a ária ocorre em um momento de tensão, quando seu amor por Rinuccio é ameaçado por disputas familiares. “E lucevan le stelle” (E reluziam as estrelas, em português) é uma ária do terceiro ato da ópera Tosca, de Giacomo Puccini, com libreto de Luigi Illica e Giuseppe Giacosa. Estreou no Teatro Costanzi de Roma, em 14 de janeiro de 1900. A ária é cantada pelo personagem Mario Cavaradossi, enquanto aguardava sua execução. “Nessun dorma” é uma famosa ária do último ato da ópera Turandot criada em 1926 por Giacomo Puccini. A ária refere-se à proclamação da princesa Turandot, determinando que ninguém deve dormir: todos passarão a noite tentando descobrir o nome do príncipe desconhecido, Calaf, que aceitou o desafio.

Giuseppe Verdi foi um dos maiores compositores de ópera do século XIX, criando obras que combinaram melodias marcantes com grande impacto dramático. Um dos trechos mais icônicos de sua obra é o “Coro dos Escravos Hebreus” (Va, pensiero), da ópera Nabucco (1842), um hino de saudade e esperança que se tornou símbolo do nacionalismo italiano. Outro coro poderoso é o “Coro dos Ferreiros” (Vedi! le fosche notturne), de Il Trovatore (1853), conhecido por seu ritmo vibrante e percussivo. Em La Traviata (1853), a ária festiva “Libiamo ne’ lieti calici” destaca-se como um dos brindes mais famosos da ópera, celebrando a vida e o amor. Já a grandiosa “Marcha Triunfal“, de Aida (1871), simboliza a glória e a pompa da vitória egípcia, sendo uma das passagens mais impressionantes da ópera.

Luciano Pavarotti (1935-2007) foi um cantor italiano, grande intérprete das obras de Bellini, Donizetti, Verdi e Puccini, dentre outros em seu grande repertório. É reconhecido como o tenor que popularizou mundialmente a ópera. Pavarotti começou sua carreira profissional como tenor lírico em 1961 na Itália.

Canzone Napoletana (Século XIX-XX)

Originária de Nápoles, essa tradição musical inclui canções líricas populares como “O Sole Mio”, “Funiculì Funiculà” e “Torna a Surriento”. “’O Sole Mio”, composta em 1898 por Eduardo di Capua (música) e Giovanni Capurro (letra), é uma ode ao sol e à beleza da vida, com uma melodia apaixonante que a tornou uma das canções italianas mais reconhecidas no mundo. Já “Funiculì Funiculà”, composta em 1880 por Luigi Denza (música) e Peppino Turco (letra), foi criada para celebrar a inauguração do funicular do Vesúvio, utilizando um ritmo animado e contagiante que rapidamente conquistou popularidade.

Ainda falando de canções populares, merece destaque “Bella Ciao“, uma canção italiana de resistência que se tornou um hino antifascista e símbolo da luta pela liberdade. Originalmente baseada em uma canção folclórica dos trabalhadores rurais no final do século XIX, foi adaptada durante a Segunda Guerra Mundial pelos partigiani, os guerrilheiros que combatiam a ocupação nazista e o regime fascista de Mussolini. Com uma melodia marcante e uma letra que expressa sacrifício e esperança, a canção foi amplamente adotada como símbolo de resistência em diversos contextos históricos e políticos ao redor do mundo. Nos tempos modernos, ganhou nova popularidade ao ser incluída na série “La Casa de Papel”, reafirmando seu impacto cultural e sua mensagem de luta contra a opressão.

Música Popular Italiana e Sanremo (Século XX)

Nos anos 1950, a Festival de Sanremo ajudou a consolidar a música popular italiana. É o mais importante e tradicional festival de música da Itália, realizado anualmente desde 1951. Considerado o precursor do formato do Eurovision, o evento revelou inúmeros artistas e clássicos da música italiana, influenciando a cena musical do país e do mundo. A música vencedora de 1958 é a famosa “Volare”, originalmente intitulada “Nel Blu Dipinto di Blu“. Composta por Domenico Modugno e Franco Migliacci, a canção se destaca por sua melodia envolvente e sua letra onírica, que evoca a sensação de liberdade ao voar pelos céus azuis. Ao longo dos anos, foi interpretada por diversos artistas, e uma das versões mais famosas foi gravada pelos Gipsy Kings, que transformaram a canção em um vibrante hit flamenco-rumba na década de 1980, trazendo uma nova energia à música e ampliando ainda mais seu alcance global.

Um dos momentos históricos do festival aconteceu em 1968, quando a canção “Canzone Per Te“, composta e interpretada por Sergio Endrigo, venceu a competição, com uma apresentação do cantor brasileiro Roberto Carlos. É uma canção romântica que expressa a dedicação e o carinho de alguém por outra pessoa, oferecendo uma música como uma forma de amor eterno. A letra fala sobre os sentimentos profundos e sinceros que se podem ter por alguém, usando a música como meio de comunicação e afeto.

Sergio Endrigo (1933-2005) foi um renomado cantor e compositor italiano, conhecido por suas canções poéticas e emocionais. Uma de suas mais icônicas músicas é “Io Che Amo Solo Te” (1955), um verdadeiro hino ao amor puro e incondicional. Com uma melodia suave e letra que expressa a devoção a um amor exclusivo e profundo, essa canção é um marco da música italiana e foi imortalizada por várias gerações de ouvintes.

Cantautori (Anos 1960-1970)

Movimento de cantores-compositores (cantautori) que traziam letras poéticas e sociais. Alguns dos grandes nomes incluem Fabrizio De André, Lucio Battisti, Francesco Guccini e Lucio Dalla.

Emilio Pericoli (1931-2013) foi um cantor e compositor italiano conhecido por sua voz suave e melódica. Ele ganhou destaque internacional com a canção “Al Di Là” (1961), que se tornou um grande sucesso, especialmente após ser interpretada no Festival de Sanremo. A música, com sua melodia romântica e melancólica, fala de um amor que transcende a distância, capturando a essência da paixão que resiste ao tempo e ao espaço.

Ricchi e Poveri é um grupo musical italiano formado nos anos 1960 e que alcançou grande sucesso internacional. A canção “Mamma Maria” (1982) é uma das mais conhecidas do grupo, com seu ritmo alegre e uma letra que celebra o vínculo com a figura materna. Em “Sarà Perché Ti Amo” (1984), Ricchi e Poveri exploram o tema do amor romântico, com uma melodia contagiante e um refrão que rapidamente se tornou um clássico da música pop italiana.

Música Prog Rock Italiana (Anos 1970)

Inspirado no rock progressivo britânico, bandas como Premiata Forneria Marconi (PFM), Banco del Mutuo Soccorso e Le Orme trouxeram uma identidade única ao gênero.

Italo Disco (Anos 1980)

Gênero de dance music eletrônico que influenciou a cena mundial, com artistas como Gazebo, Sabrina Salerno e Righeira.

Al Bano Carrisi (1943-) e Romina Power (1951-) formaram uma das duplas mais queridas da música italiana, com inúmeras canções de sucesso. “Felicità” (1982) é uma das suas músicas mais emblemáticas, celebrando a alegria e a felicidade simples do cotidiano. Com uma melodia envolvente e uma letra otimista, a canção se tornou um grande hit, simbolizando a química especial entre os dois artistas e sua visão positiva do amor e da vida.

Toto Cutugno (1943-2023) foi um dos artistas mais populares da música italiana, com uma carreira de sucesso que atravessou várias décadas. Sua canção “L’Italiano” (1984) é um símbolo do orgulho nacional italiano, celebrando a identidade cultural do país com uma melodia cativante e letra que ressalta as características típicas da vida italiana. Outra música famosa de Cutugno, “Solo Noi” (1980), transmite uma mensagem de amor e exclusividade, com um tom otimista e romântico que reforça a ideia de que, quando se está com alguém especial, o mundo parece ser só seu.

Música Pop e Rock Italiana (Anos 1990-2000)

Artistas como Laura Pausini, Eros Ramazzotti, Zucchero e Ligabue dominaram essa fase, levando a música italiana para o cenário internacional. Laura Pausini (1974-) é uma das artistas italianas mais bem-sucedidas internacionalmente, conhecida por sua poderosa voz e capacidade de conectar com o público através de suas letras emocionais. Seu primeiro grande sucesso, “La Solitudine” (1993), catapultou-a para a fama e se tornou um marco na música pop italiana. A canção, com uma melodia melancólica e uma letra profunda, fala sobre a dor da solidão e a saudade de um amor perdido, capturando perfeitamente a angústia e o desespero de um coração partido. Com sua performance emocional, Laura Pausini estabeleceu-se como uma das principais representantes da música italiana no cenário mundial.

Andrea Bocelli, renomado tenor italiano, conseguiu levar a ópera e o canto clássico a um público global, mesclando elementos da música erudita com o pop em um estilo conhecido como crossover clássico. Em 1995, lançou a icônica canção Con Te Partirò, composta por Francesco Sartori (melodia) e Lucio Quarantotto (letra). A música, que se tornou um dos maiores sucessos de sua carreira, fala sobre despedida e saudade, mas também sobre a promessa de reencontro e a jornada ao lado da pessoa amada, independentemente da distância. Inicialmente apresentada no Festival de Sanremo, a canção ganhou ainda mais notoriedade na versão em dueto com Sarah Brightman, intitulada Time to Say Goodbye, conquistando reconhecimento mundial e tornando-se um clássico do repertório de Bocelli.

Hip-Hop e Rap Italiano (Anos 2000-2010)

O rap ganhou força com artistas como Caparezza, Fabri Fibra e Marracash, abordando temas sociais e políticos.

Indie e Nova Cena Italiana (Anos 2010-2020)

O indie rock e o pop alternativo cresceram com artistas como Calcutta, Thegiornalisti e Måneskin, que modernizaram a música italiana.

Menções honrosas

Importante mencionar aqui Ennio Morricone, compositor, arranjador e maestro italiano, considerado um dos maiores autores de músicas para filmes. Ele compôs algumas músicas que já tinham letra originalmente, embora a maioria de suas composições fosse instrumental ou feita para trilhas sonoras. Em alguns casos, ele trabalhou com letristas para criar versões cantadas de suas melodias. Muitas das trilhas instrumentais de Morricone ganharam versões letradas posteriormente, como “Cinema Paradiso” (1988), “Se” e “Love Theme from Cinema Paradiso”.

No Brasil, não foi só Roberto Carlos que cantou em italiano. Muitos artistas tiveram experiências com o italiano em suas canções.

Adoniran Barbosa (1912-1982) foi um dos mais importantes compositores e intérpretes de samba paulista, conhecido por seu estilo irreverente e letras que retratam o cotidiano da vida urbana e as peculiaridades da cultura paulista. Sua música “Samba Italiano” (1965) é um exemplo de sua habilidade em misturar elementos de diferentes estilos musicais, trazendo o samba e o espírito de imigrantes italianos no Brasil, ao mesmo tempo que faz uma brincadeira com o sotaque e as tradições italianas. A canção é uma fusão de humor e crítica social, com Adoniran retratando de forma cômica as dificuldades dos imigrantes e suas adaptações no Brasil.

A canção “Mia Gioconda” (1997) foi interpretada por Agnaldo Rayol (1938-2024) e composta por Vicente Celestino em 1945. Sua inspiração está na história real do soldado brasileiro João Pedro Paz, integrante da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial, que se apaixonou pela italiana Iole Tredici durante a campanha na Itália. A música narra a paixão entre um soldado brasileiro e uma italiana durante a campanha da FEB na Itália, destacando as dificuldades enfrentadas pelo casal devido à guerra e à separação ao final do conflito, quando as namoradas não puderam acompanhar seus parceiros de volta ao Brasil.

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