Radar detecta nuvem de joaninhas e quase confunde meteorologistas

O Serviço Meteorológico Nacional dos Estados Unidos (National Weather Service, NWS/NOOA) publicou em seu Twitter (dia 05/06/2019) uma sequência de imagens de radar mostrando uma mancha sobre uma região a norte da cidade de Los Angeles (Califórnia). A princípio, seria chuva moderada. No entanto, o texto já diz que se trata de uma nuvem de joaninhas.

Nuvem de joaninhas em uma imagem de radar. Foto: Reprodução Twitter/@nwssandiego

O grande eco aparecendo no radar SoCal esta noite não é precipitação, mas na verdade uma nuvem de joaninhas, chamada de “bloom”.

Tweet original: https://twitter.com/NWSSanDiego/status/1136115889516867586

Um radar meteorológico funciona emitindo um pulso de energia em várias direções. Ao encontrar um objeto do tamanho em que esse tipo de energia interaja, o pulso de energia é refletido e retorna à antena que emitiu o sinal. Uma analogia é quando você está em um cômodo vazio e faz um barulho: a onda sonora da sua fala percorre em todas as direções, refletindo nas paredes e retornando ao seu corpo na forma de um eco. Analisando-se esse retorno, é possível estimar o tamanho do objeto em que o pulso interagiu e sua distância. Juntando a informação obtida com uma varredura de 360° ao redor da antena, é possível fazer um mapa dos “ecos” do radar.

A intensidade da energia de retorno é proporcional ao volume dos objetos com que interage. Ou seja, quanto mais intensa a chuva, mais forte a energia do retorno. E isso é apresentado sobre um mapa com uma escala de cores: geralmente, cores quentes indicam chuva forte, verde indica chuva moderada e cores frias, chuva fraca.

O radar meteorológico emite um tipo de energia para interagir com gotas de chuva e granizo. No entanto, objetos de tamanho próximo ou maiores vão interagir e refletir esse sinal de volta para a antena. Um exemplo comum é o de refletir em alguma montanha e retornar, o que é chamado de “eco de terreno”. Refletir em aves ou insetos também é comum, mas como estão isolados, aparecem na imagem apenas como um ruído.

Caso uma nuvem de insetos passe pelo local, ela adquire um formato quase indistinguível de uma região de chuvas na imagem do radar, voando entre 1,5 e 2,7 km de altura. Através dessa imagem sobre o mapa, é possível estimar o tamanho da nuvem como tendo um diâmetro aproximado de 130 quilômetros. A maior parte estava concentrada em uma área de apenas 16 quilômetros de diâmetro, e mesmo assim não era uma nuvem, mas estava relativamente espalhada. Graças a observadores locais, foi confirmado que não havia chuva, e sim um monte de “pontinhos voando para todos os lados” reconhecidos como joaninhas.

Atualização: de acordo com o meteorologista Pedro Augusto Sampaio Messias Ribeiro, “se o radar for de dupla polarização, pode-se observar o coeficiente de correlação entre H [polarização horizontal] e V [polarização vertical] e o Zdr [razão entre essas polarizações], então se percebe que são alvos não meteorológicos. Inclusive biólogos estudam as migrações de insetos e aves com esses dados de radar”.

Acredita-se que um inverno anormalmente chuvoso e chuvoso poderia ter permitido um número maior do que o habitual de joaninhas sobreviverem à hibernação. Então, acordados pelo aumento da temperatura, elas começaram a se mover em massa para se alimentar.

Correções das publicações da mídia

Esse post virou notícia na BBC (inclusive na BBC Brasil) e replicada por grandes portais. No entanto, logo no título aparecem erros conceituais: “A nuvem gigantesca de joaninhas que confundiu satélites no céu da Califórnia”. A imagem é gerada por um radar (um só) e não por um ou mais satélites. Um satélite meteorológico está sobrevoando a Terra a centenas ou mesmo milhares de quilômetros de altitude, coletando imagens da atmosfera com um intervalo de tempo de horas, geralmente. Já o radar é um instrumento que fica instalado na superfície terrestre e apresenta frequência temporal de imagens de poucos minutos.

Além disso, ambos são instrumentos meteorológicos, ou seja, dizem respeito ao estudo da atmosfera e seus fenômenos. O termo “climatológico” se refere às condições médias da atmosfera de uma região na escala de décadas – o que não está ligado diretamente ao uso desses equipamentos. Daí também que vem o nome do NWS (onde o W vem de Weather, Meteorologia em inglês), bem mais geral do que só falar em climatologia.

Por fim, a nuvem de insetos não confundiu o instrumento, pois ele cumpriu seu objetivo em detectar objetos na localização correta. A classificação do evento ocorre através de modelos matemáticos de conversão de unidades e que contou com o espírito crítico dos meteorologistas envolvidos no monitoramento para pesquisar o que realmente era aquela medição observada na tela do radar.

Veja mais em Science Alert – Mysterious Blob Caught on Weather Radar Claimed to Be a Massive Ladybug Swarm e The Weather Channel – Bugs Show Up on Radar in the Midwest para ver outras imagens de radar que não representavam fenômenos meteorológicos. O radar publica suas imagens no site do NWS/NOAA.

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