Claude Monet, o icônico pintor impressionista, deixou um legado artístico marcado por sua habilidade única em retratar a natureza em constante mutação. Sua profunda conexão com as nuvens transcendeu a mera representação visual, tornando-se uma parte essencial de sua obra. Ao estudar meticulosamente os efeitos da luz e da atmosfera, Monet capturou a essência efêmera das nuvens em suas pinturas, criando céus dinâmicos e atmosferas envolventes que convidam o espectador a se perder na beleza da natureza.
Desde jovem, o francês Claude Monet (1840-1926) demonstrava talento para a arte e, após estudar na Academia Suisse, iniciou sua jornada como pintor. Contudo, sua vida pessoal foi marcada por dificuldades financeiras e a perda precoce de sua mãe, o que o levou a buscar refúgio na pintura como uma forma de escapismo.
Monet foi um dos principais expoentes do movimento impressionista, que emergiu na França durante o século XIX. Os impressionistas buscavam capturar a essência de um momento fugaz, explorando a luz, cor e movimento em suas obras. Monet contribuiu significativamente para esse movimento, experimentando com pinceladas soltas e cores vibrantes, buscando representar não apenas o que via, mas também suas próprias impressões e emoções diante da natureza.
Em meados do século XIX, a pintura ao ar livre com luz natural tornou-se popular. As paisagens desempenharam um papel central nas pinturas de Monet. Ele encontrou inspiração nas paisagens campestres da França, especialmente em sua casa em Giverny, onde criou seu famoso jardim de nenúfares (plantas aquáticas da família das ninfeáceas). Monet tinha uma habilidade notável para capturar a atmosfera e a beleza efêmera da natureza, utilizando uma paleta de cores brilhantes e uma técnica impressionista única para retratar a luminosidade e a textura das paisagens.
Inclusive, o termo Impressionismo surgiu a partir de uma crítica a um dos primeiros quadros de Monet, “Impressão, nascer do sol”, feita à obra pelo pintor e escritor Louis Leroy: “‘Impressão, nascer do Sol’ – eu bem o sabia! Pensava eu, justamente, se estou impressionado é porque há lá uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha“. A expressão foi usada originalmente de forma pejorativa, mas Monet e seus colegas adotaram o título, tendo consciência da revolução que estavam a iniciar na pintura.
Nesta pintura, o sol é colocado contra o céu do amanhecer, com contraste laranja e azul-violeta. Por ser uma manhã de muito nevoeiro no porto, as nuvens ficam coloridas pelo sol nascente, no nevoeiro denso, e os barcos ganham forma, sem grande definição. Inclusive, a formação de nevoeiro é retratada em outras obras. As pinceladas abreviadas e mais escuras na água criam movimento e ondulações, enquanto tons de laranja e amarelo aparecem como um reflexo do nascer do sol nas águas do porto. Os mastros dos navios são por vezes perturbados pelas ondas, pois as silhuetas dos barcos parecem desaparecer na neblina.
Uma observação interessante sobre esta pintura é que embora o sol pareça muito mais brilhante que o resto da cena, se visto removendo toda a cor, o sol quase desaparece. Isto demonstra o domínio de Monet na representação de efeitos de luz em cenas que ele pintou. Esta reprodução precisa da impressão de Monet e o clima resultante das condições atmosféricas dominam e limitam a importância dos grandes detalhes. O mesmo efeito pode ser visto também na pintura Vétheuil dans le brouillard (1879).
Monet tem obras no movimento artísitco do Realismo também. A pintura View At Rouelles Le Havre (1858) apresenta nuvens com formatos bem parecidos aos de uma fotografia ou se observasse diretamente na natureza. Já em The Garden of the Princess (1867), mesmo o primeiro plano sendo Realista, as nuvens apresentam pinceladas bem mais próximas do estilo impressionista.
Muitas pinturas do Impressionismo, quando vistas à distância apresentam uma qualidade quase fotorrealista. De perto, as pinceladas e o design geral são muito suaves. Isso é perceptível na obra The Magpie (1868-1869), uma de suas mais famosas e atualmente exposta no Museu d’Orsay, em Paris. Nela, também é possível observar a ênfase na cor, luz e sombras típica da pintura impressionista, que é especialmente adequada à técnica “en plein air”. Monet e outros artistas logo começaram a explorar as possibilidades das cenas de inverno usando vários tons de branco. O uso de múltiplas cores em suas sombras por Monet logo se tornou uma técnica difundida dentro do movimento impressionista.
Outra obra com uma interpretação parecida é Snow at Argenteuil (1875). Argenteuil é um subúrbio de Paris e fica às margens do Sena. Monet viveu lá de 1871 a 1879, tendo sido cenário de dezenas de suas pinturas. A área foi afetada por fortes nevascas durante o inverno de 1874-1875, motivando muito da retratação de cenários com neve. O céu apresenta um esbranquiçado que pode ser de nuvens baixas, e por isso sem contorno bem definido, mas formadas de cristais de gelo devido à baixa temperatura. Por vezes, esse esbranquiçado é devido ao próprio vento que levanta os flocos de neve do chão e forma essa “névoa”.
O uso de diferentes tons de branco e importante também para representar as nuvens. Isso pode ser observado em outra das pinturas mais famosas de Monet: Woman with a parasol (1875, mas também existe uma versão de 1886). Monet capta os efeitos fugazes da luz solar, utilizando tons de cores claras e escuras para indicar sombras e áreas iluminadas pelo sol. Assim, as nuvens também fazem sombra umas nas outras através de diferentes tons de branco/cinza seguindo a mesma orientação da sombra da modelo.
Além disso, há uma representação muito convincente do movimento no ar, principalmente pelo desenho do vestido e da sombrinha, mas também pelas pinceladas erráticas que fazem as nuvens, o que transmite uma sensação de movimento. Na versão de 1886, é mais visível a questão do vento devido ao lenço da modelo. As nuvens parecem mais nítidas, porém mais desenvolvidas (tipo cumulus).
Até mesmo a chuva foi representada em um quadro de Monet. A pintura Pluie à Belle-Île (1886), que retrata a chuva ocorrendo em campo aberto. Nele, boa parte das pinceladas acontecem em leve diagonal com as laterais, tanto no céu quanto na frente da superfície, simulando o vento levando a chuva na horizontal. Assim, tem-se a impressão de que o caminho das gotas de chuva borra a visão da paisagem pela pessoa.
As cores do nascer ou pôr-do-sol também foram representadas no céu de várias pinturas, algumas das quais com nuvens refletindo essas tonalidades, somente deixando a luz passar ou fazendo sombra umas sobre as outras: tudo depende da altura da nuvem e de sua posição com relação ao sol e ao observador.
O Musée de l’Orangerie, em Paris (na Place de la Concorde, perto do Museu do Louvre) é famoso, dentre outras obras, por conter oito painéis de Monet, cada um com dois metros de altura e 91 metros de comprimento, dispostos em duas salas ovais que formam o símbolo do infinito e com claraboias, permitindo a entrada de luz natural. Um desses painéis é chamado The Water Lilies – The Clouds (1920–1926). Nele, as nuvens são representadas no reflexo de um lago contendo lírios – temática essa muito frequente no final de sua vida.
Mas um dos aspectos que mais chama chama atenção nas centenas de pinturas de paisagens que Monet fez é a variedade de estilos que o pintor imprimiu às nuvens, imprimindo desenhos completamente diferentes uns dos outros apenas controlando o jeito das pinceladas e as cores. Segue uma lista das pinturas que mais me impressionaram, com link para a imagem de cada uma:
- Road by Saint-Simeon Farm (1864)
- La Pointe de la Hève, Sainte-Adresse (1864)
- The Seashore at Sainte-Adresse (1864)
- Towing a Boat, Honfleur (1864)
- Beach of Sainte-Adresse (1864)
- La Pointe de la Hève at Low Tide (1865)
- Seascape – Storm (1866-1867)
- The Seine Near its Estuary, Honfleur (1868)
- The Seine at Bougival (1869)
- View of Argenteuil (1872)
- Sailing boats, regatta in Argenteuil (1874)
- Au Petit-Gennevilliers, soleil couchant (1874)
- Marine View with a Sunset (1875)
- Cliffs near Dieppe (1882)
- Port of Dieppe, Evening (1882)
Tem mais interpretações de pinturas nos posts Visão de um meteorologista sobre algumas pinturas e Nuvens no Museu do Louvre e Versailles.
Fontes
- Wikipedia – Claude Monet e Lista de pinturas de Claude Monet
- Wikiart – Claude Monet
- Totally History – Impression, sunrise e outros posts