Nuvens no Museu do Louvre e Versailles

Alguns anos atrás, foi publicada uma matéria na qual um meteorologista e um crítico de arte usavam de suas visões de mundo moldadas por suas profissões para discorrerem de obras artísticas – veja mais no post Visão de um meteorologista sobre algumas pinturas. Agora, apresentarei algumas obras expostas no Museu do Louvre e Palácio de Versailles com alguns comentários sobre a representação das nuvens (e outros fenômenos de interesse meteorológico) em cada uma – um especial sobre Monet está no post Monet e as nuvens.

Sobre os museus

Localizado no coração de Paris, o Museu do Louvre é uma das instituições culturais mais renomadas e visitadas do mundo. Originalmente uma fortaleza construída no final do século XII sob o reinado de Felipe II, conhecido como “Philippe Auguste”, o Louvre foi inicialmente concebido como uma defesa contra invasões vindas do norte. Ao longo dos séculos seguintes, o complexo passou por várias transformações, incluindo sua expansão e renovação durante o Renascimento francês.

No século XVI, o rei Francisco I transformou o local em uma residência real e começou a colecionar obras de arte, muitas das quais ainda podem ser vistas hoje no museu. No entanto, foi somente em 1793, durante a Revolução Francesa, que o Louvre foi oficialmente inaugurado como museu público, sob o nome de “Museu Central das Artes”. Desde então, o museu tem continuado a expandir suas coleções e atrair milhões de visitantes todos os anos.

Entre as inúmeras obras de arte icônicas expostas no Louvre, estão “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci, e a escultura grega antiga conhecida como “Vênus de Milo”, que representa a deusa do amor e da beleza. Além delas, o Louvre abriga uma vasta coleção que abrange desde arte egípcia e mesopotâmica até arte islâmica, assim como pinturas e esculturas de diversas épocas e culturas europeias.

Promenade de Louis XIV en vue du Parterre du Nord vers 1688. Fonte: Wikipedia
Promenade de Louis XIV en vue du Parterre du Nord vers 1688. Fonte: Wikipedia

O Palácio (Château) de Versalhes, localizado nos arredores de Paris, é um dos mais magníficos e emblemáticos símbolos da grandiosidade da monarquia francesa. Construído no século XVII, inicialmente como um pavilhão de caça, foi transformado pelo Rei Luís XIV em um esplendoroso palácio real, refletindo sua visão de poder e opulência. Além do edifício principal e jardins, seu terreno contém outros palácios menores e até uma fazenda.

Com seus vastos jardins ornamentados, salões luxuosamente decorados e uma arquitetura deslumbrante, o Palácio de Versalhes foi palco de eventos históricos e cenário de intrigas da corte durante os reinados de Luís XIV, Luís XV e Luís XVI. Foi também no Salão dos Espelhos deste palácio que o Tratado de Versalhes foi assinado em 1919, encerrando a Primeira Guerra Mundial.

O palácio exibe uma vasta coleção de pinturas de renomados artistas europeus e tratam desde retratos da realeza e cenas mitológicas até paisagens exuberantes. Os jardins de Versalhes são adornados com esculturas clássicas, de deuses e deusas da mitologia grega e romana, e barrocas. O palácio possui uma coleção de móveis ricamente ornamentados que datam dos séculos XVII e XVIII, muitos dos quais foram encomendados pelos reis para decorar os suntuosos apartamentos reais e salões de recepção. Versalhes também é famoso por suas magníficas tapeçarias, tecidas em lã e seda e adornadas com cenas históricas, mitológicas e pastorais.

Movimentos artísticos

Apesar do vasto acervo de ambas as instituições, a representação das nuvens é mais evidente nas pinturas, particularmente as confeccionadas do período renascentista até o início do século XX. O Renascimento foi um período de grande inovação e progresso artístico na Europa, especialmente na Itália, durante os séculos XIV ao XVI. Na pintura, o Renascimento trouxe uma série de elementos que revolucionaram a maneira como os artistas representavam o mundo ao seu redor, dentre os quais:

  • Naturalismo e Realismo: O Renascimento valorizava a observação direta da natureza e do mundo ao redor. Os artistas buscaram retratar a realidade com maior fidelidade, abandonando muitos dos elementos estilizados e simbólicos encontrados na arte medieval. Isso levou a uma ênfase na representação precisa de detalhes, desde as características faciais individuais até os elementos da paisagem.
  • Pintura a óleo: Embora a técnica de pintura a óleo não tenha sido inventada durante o Renascimento, esse período testemunhou seu desenvolvimento e refinamento. Os artistas renascentistas exploraram as possibilidades expressivas da pintura a óleo, aproveitando sua capacidade de criar cores ricas, transições suaves e detalhes precisos. Essa técnica permitiu uma maior flexibilidade e sutileza na aplicação da cor, contribuindo para a riqueza visual das pinturas renascentistas.
  • Luz e Sombras (“Chiaroscuro”): Outro aspecto importante introduzido pelos artistas renascentistas foi o uso habilidoso de luz e sombras, também conhecido como chiaroscuro. Eles observaram como a luz interage com os objetos na vida real, criando áreas de destaque e áreas de sombra. Ao incorporar esses efeitos de luz e sombra em suas pinturas, os artistas foram capazes de modelar formas tridimensionais e criar uma sensação de volume e textura nos objetos representados. Isso adicionou um novo nível de realismo e drama às obras de arte renascentistas.
  • Perspectiva Linear: Uma das características mais distintivas da arte renascentista foi o desenvolvimento da perspectiva linear. Os artistas renascentistas estudaram a geometria e a matemática para criar a ilusão de profundidade em suas pinturas. A perspectiva linear envolve a representação de objetos tridimensionais em uma superfície bidimensional, utilizando linhas convergentes que se encontram em um ponto de fuga. Isso permitiu que as obras de arte parecessem mais realistas e imersivas, dando uma sensação de profundidade e espaço.
  • Perspectiva Atmosférica: Além da perspectiva linear, os artistas renascentistas também exploraram a perspectiva atmosférica, que é a maneira como a atmosfera afeta a aparência dos objetos à distância. Eles observaram que os objetos distantes tendem a parecer mais pálidos, menos nítidos e mais azulados devido aos efeitos da atmosfera entre o observador e o objeto. Integrando essa compreensão em suas pinturas, os artistas foram capazes de criar uma sensação de profundidade ainda maior e uma atmosfera mais natural.

Um conhecimento profundo de perspectiva e uma habilidade excepcional na representação de formas e detalhes arquitetônicos, assim como de sombra e luz, permitem o uso do ilusionismo espacial: uma técnica artística utilizada para criar a ilusão de espaço tridimensional em uma superfície bidimensional, como uma parede ou tela. Ela envolve a pintura de elementos arquitetônicos, como colunas, arcos, escadarias e abóbadas, de tal maneira que pareçam se projetar em direção ao espectador ou se estender para além do plano da superfície.

Posteriormente, vieram outros movimentos artísticos na Europa ocidental, como:

  • Maneirismo (1527-1580): Uma expressão artística complexa e exagerada, marcada por formas distorcidas e uso dramático da luz, buscando transmitir uma sensação de artificialidade e ambiguidade emocional.
  • Barroco (1600-1750): Um estilo artístico ornamental e dinâmico que enfatiza o drama, o movimento e a grandiosidade, utilizando contrastes de luz e sombra para evocar emoções intensas e religiosas.
  • Rococó (1699-1780): Uma estética artística caracterizada por sua delicadeza, graciosidade e ornamentação extravagante, refletindo uma atmosfera de leveza e frivolidade, muitas vezes associada à aristocracia e à vida cortesã.
  • Neoclassicismo (1750-1850): Um movimento que busca resgatar os valores estéticos da arte clássica grega e romana, caracterizado pela simplicidade, proporção e idealização, em contraposição à extravagância barroca e rococó.
  • Romantismo (1780-1850): Uma expressão artística que enfatiza a emoção, a individualidade e a imaginação, valorizando a natureza, o sublime e o exótico, e frequentemente explorando temas como o amor, a liberdade e a nostalgia.
  • Realismo (1848-1900): Um movimento que busca representar a vida cotidiana de forma objetiva e fiel, rejeitando idealizações e focando em temas sociais, políticos e psicológicos, com uma abordagem detalhada e precisa.

O acervo de pinturas dos museus aqui comentados aborda principalmente o período histórico que contém esses movimentos, sendo possível observar influências de suas principais características em todas as obras.

Comentários sobre as pinturas

O italiano Andrea Mantegna (1431-1506) foi um dos que introduziu o ilusionismo espacial em afrescos e pinturas sacras. Na pintura La Crucifixion (1456-1459), é possível identificar alguns de seus elementos, embora não de uma forma muito madura. O céu vai de um azul no topo até um esbranquiçado próximo ao horizonte, inclusive na frente de dois morros que devem estar mais distantes. As nuvens são esparsas e de pouco desenvolvimento (provavelmente altocumulus), sugerindo tempo aberto. Além de não ser relatada chuva na Bíblia durante a crucificação, as nuvens de tempo bom podem ser uma alegoria para os que creêm em Cristo como salvador, que morreu na cruz pelos pecados da humanidade.

Em sua obra Saint Sebástian (1480), as nuvens parecem maiores e mais bem desenvolvidas (certamente nuvens do tipo cumulus), mas também trazendo a sensação de proximidade. São Sebastião foi um dos mártires romanos dos primeiros séculos da Igreja Cristã, por professar e não renegar sua fé em Cristo. Seu corpo foi amarrado a uma árvore e alvejado por flechas atiradas por seus antigos companheiros, que o deixaram aparentemente morto, mas foi resgatado e continuou pregando o evangelho. Assim, as nuvens trazem uma sensação de proximidade de São Sebastião do céu e do divinio.

Embora substancialmente relacionada com o século XV, a influência de Mantegna está bem marcada sobre o estilo e as tendências da arte italiana de sua época. Giovanni Bellini (1430-1516) em seus primeiros trabalhos obviamente segue os passos do cunhado, e também com forte temática cristã. Em Le Calvaire (1450-1475), Bellini opta por retratar o céu no dia da crucificação de Cristo como nublado, ou seja, com nuvens do tipo stratocumulus stratiformis (ou altostratus) por não apresentarem contornos bem definidos e cobrirem todo o céu. Essa escolha traz um ar mais de lamentação e tristeza, mas não chega a pesar muito por causa da boa iluminação e das cores nos elementos em primeiro e segundo plano. Esses elementos são bem mais sóbrios em sua outra pintura, Le Christ rédempteur bénissant (1450-1475). Nele, as nuvens também trazem um peso maior ao, além de ocupar todo o céu, apresentarem uma coloração mais acinzentada. Interessante notar a formação de pileus (um “chapéu” no topo da nuvem) ou mesmo nuvens altocumulus lenticularis no canto esquerdo superior, que ocorrem em casos de vento forte nessa altitude.

A dramaticidade das nuvens, trazendo maior peso emocional negativamente, também pode ser observado na obra L’Enlèvement de Proserpine (1550-1575), do italiano Nicolò dell’Abate (1509-1571). Nela, ocorre o rapto de Prosérpina, filha de Júpiter com Ceres na mitologia romana. Por ser uma situação de conflito e tensa, as nuvens ajudam a trazer o tom sombrio exigido pela situação.

Ao avançar na linha do tempo, é possível perceber uma diminuição da temática cristã nas obras de arte europeias, enquanto ganham peso a mitologia greco-romana e paisagens. Giovanni Paolo Pannini (1691-1765) foi um pintor e arquiteto conhecido principalmente por suas vistas de Roma antiga. Na composição de elementos para suas pinturas de paisagens, as nuvens atuaram como preenchimento de fundo. No entanto, seus contornos bem definidos chamam atenção. Isso pode ser bem observado em Prédicateur au milieu des ruines, Ruines antiques (1729) e Marcus Curtius se jetant dans le gouffre (1730-1740). Em Ruines d’architecture antique avec la pyramide de Cestius et la statue de Flore (1720), nuvens mais cinzentas denotam um horário com menor iluminação solar e trazem um ar bucólico e saudosista para ruínas de um antigo império. Já nas obras Préparation du feu d’artifice et de la décoration de la fête donnée sur la place Navone, à Rome, le 30 novembre 1729, à l’occasion de la naissance du Dauphin (1729) e Caprice architectural avec prédicateur dans des ruines romaines (1725-1750), o parece que a intenção era a de pintar nuvens do tipo cumulus, mas seus formatos saíram um pouco fora do natural. Na obra de 1729, boa parte das nuvens mais lembram colunas de fumaça, por serem compridas e de contornos amorfos de ambos os lados. Geralmente, nuvens de contornos bem definidos apresentam uma base mais reta quando olhada de lado, devido ao seu processo de formação, e somente nuvens mais próximas do zênite que tem uma aparência amorfa em todo seu contorno. Na outra pintura, até mesmo um buraco aparece dentro da nuvem de modo que a nuvem em si fica com um volume aproximadamente constante ao redor do buraco, o que seria muito estranho de aparecer em uma formação natural.

Voltando na questão da iluminação das nuvens, é comum pensar que uma nuvem quanto mais escura, maior a probabilidade de gerar chuva. No entanto, nuvens ganham tons acinzentados devido à falta de iluminação. Isso pode ser devido ao seu grande volume de água impedir a passagem de luz solar (e, nesse caso, realmente representar a possibilidade de chuva) ou simplesmente receber menos luz por estar na sombra de outra nuvem ou o sol estar a se pondo. Um exemplo de nuvens começando a ficar cinzas ao pôr-do-sol pode ser visto na pintura Le Village et les cascades de Tivoli, de Giovanni Battista Busiri (1698-1757), e Une Bataille, de François-Joseph Casanova (1727-1802). Nas pinturas Saint Paul ermite (1642), de Jusepe de Ribera (1591-1652), e Paysage avec laveuses de linge (1625-1650), de Le Dominiquin (1581-1641), nota-se que o céu próximo ao horizonte ainda preserva tons azuis sem a presença de amarelado e as nuvens mais escuras são camadas horizontais finas estreitas faixas, sem desenvolvimento vertical. Assim, perdem sua típica coloração branca por causa da posição do sol com relação a elas.

Claude Joseph Vernet, La Nuit; un port de mer au clair de lune (1771). Foto: ViniRoger
Claude Joseph Vernet, La Nuit; un port de mer au clair de lune (1771). Foto: ViniRoger

Claude Joseph Vernet (1714-1789) foi um pintor francês conhecido por suas paisagens marítimas e paisagens naturais. Vernet foi especialmente hábil em capturar a luz e os efeitos atmosféricos em suas obras, uma característica comum do Rococó. Ele fez algumas pinturas de ambientes externos a noite, como La nuit (1762) e La nuit; un port de mer au clair de lune (1771). Elas retratam nuvens do tipo stratus fractus, formadas durante a noite devido à combinação de estabilidade atmosférica e muita umidade ou pelo término do crescimento vertical e espalhamento horizontal da nuvem. Seu lento desenvolvimento e movimentação no céu transmitem tranquilidade em uma paisagem noturna.

O neto de Claude Joseph, Émile Jean-Horace Vernet (1789-1863), foi outro famoso pintor francês, mas agora por suas pinturas históricas e de batalhas – aliás, boa parte de sua família era de pintores. Ao retratar campos abertos, para ter amplitude horizontal, uma consequência é o aumento da quantidade de céu. Aí que entram as nuvens, para ajudar a compor o cenário. Devido a queima de pólvora nas batalhas, também muita fumaça aparece a partir do chão. Isso pode ser observado em Le siège de Constantine.

Voltando a falar de Claude Joseph Vernet, retomo a discussão apresentada no post anterior sobre o quadro “The Shipwreck”, exposto no National Gallery of Art. No Louvre, existe uma pintura bem semelhante: Marine. Le naufrage. Nela, elementos como o maior distanciamento do barco naufragado e a ausência de cores quentes deixa o quadro menos dramático. O raio também não está presente, havendo mais espaço para representar a chuva caindo no mar em segundo plano. O neto também pintou um oceano bravio de cenário tempestuoso em “La Vague” (1820-1825), que pertence a uma coleção particular mas que já esteve exposta no Palácio de Versailles. Retratar cenas dramáticas e paisagens selvagens é bem típico do romantismo.

No Palácio de Versailles, existem pinturas de Charles Le Brun (1619-1690) com motivos renascentistas em que o céu é representado de forma opressora e com bastante dramaticidade, como se os deuses oprimissem e castigassem os mortais. Os raios são representados por linhas em zigue-zague brancas, mas ligeiramente amareladas, por vezes nas mãos de criaturas celestiais. Comparando o formato dos raios das pinturas vistas até agora com as fotografias de alta definição mais atuais, nota-se que o raio em si é bem mais fino com um clarão ao redor, e que o formato é bem mais recortado do que as pinturas – detalhes imperceptíveis a olho nu devido à rapidez e luminosidade do fenômeno.

Pinturas de Le Brun expostas no Palácio de Versailles: La Hollande renversée sur son lion, L'Allemagne regardant la Victorie avec épouvante, L'Espagne défaite e Bellone en fureur (todas de 1864-1865). Foto: ViniRoger
Pinturas de Le Brun expostas no Palácio de Versailles: La Hollande renversée sur son lion, L’Allemagne regardant la Victorie avec épouvante, L’Espagne défaite e Bellone en fureur (todas de 1864-1865). Foto: ViniRoger

O pintor britânico John Constable (1776-1837) foi um dos artistas pioneiros na percepção e estudo da mudança destas condições atmosféricas na arte. Dedicou-se ao ensino e desenvolvimento de novos caminhos para descrever a cor do céu. Marcou fortemente esta sua obsessão com estudos das nuvens e da abóbada celeste, também experimentou diferentes técnicas com folhas molhadas e sereno, capturando novos efeitos, para retratá-los em seus trabalhos.

Constable realizou estudos sobre o céu com nuvens (Etude de ciel) e até de tempestades (Côte sous la tempête) para melhor trabalhar com a carga emocional que as nuvens podem trazer à paisagem. É possível até ver o efeito do vento através de obras como Printemps. East Bergholt Common (Suffolk) (1840) e La baie de Weymouth (Dorset) à l’approche de l’orage (1818-1819), onde nunvens escuras trazem o prenúncio de uma tempestade. Seus quadros têm algo dos impressionistas na execução e tratamento da cor, mas são definitivamente românticos em seus motivos. A exemplo dos impressionistas, Constable preferia pintar ao ar livre e nas suas telas tentava plasmar as alterações nas condições da natureza tal como ocorriam: névoa, chuva fina, sol tênue, umidade.

John Constable, La baie de Weymouth (Dorset) à l'approche de l'orage (1818-1819). Foto: ViniRoger
John Constable, La baie de Weymouth (Dorset) à l’approche de l’orage (1818-1819). Foto: ViniRoger

Alexandre-Hyacinthe Dunouy (França, 1757-1841) é conhecido por suas paisagens e cenas marítimas. Algumas de suas obras estão expostas no Louvre, mas chamo atenção para Éruption du Vésuve en 1813, pintada em 1818. Nela, é representada a fumaça gerada pela erupção do vulcão Vesúvio (Itália). Durante uma erupção vulcânica, o magma (rocha derretida no interior da Terra) sobe em direção à superfície através de fissuras na crosta terrestre. Ele contém uma grande quantidade de gases dissolvidos, incluindo vapor d’água, dióxido de carbono, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e outros. À medida que o magma se move em direção à superfície, a pressão diminui, fazendo com que esses gases se expandam e se libertem.

Pinturas de Pierre-Henri de Valenciennes no Louvre. Foto: ViniRoger
Pinturas de Pierre-Henri de Valenciennes no Louvre. Foto: ViniRoger

Pierre-Henri de Valenciennes (França, 1750-1819) é reconhecido por suas paisagens pitorescas e seu papel no ensino da arte. Ele também pintou o vulcão Etna em erupção, mas com uma atividade bem mais moderada e nuvens orográficas ao redor: Orage sur l’Etna. No Louvre, existem dois paineis montados com pinturas suas, cada um com doze paisagens, por terem tamanho reduzido. Em sua maioria, as nuvens recebem grande destaque, duas delas apresentando chuva: Ciel à la villa Borghèse: temps de pluie (chuva se aproximando) e Le Lac de Nemi sous la pluie; dit aussi : pluie sur le P[alais] de Nemi (chuva fraca e próxima, praticamente um nevoeiro). Em Le palais de Nemi, é interessante notar a proximidade da base das nuvens por serem nuvens baixas e o terreno ser alto.

Théodore Géricault (França, 1791-1824) é famoso pelo seu drama e realismo expressivo, especialmente em Le radeau de la Méduse (1818) e Scène du déluge (1818). Neles, as nuvens carregadas e com chuva trazem um cenário bastante dramático associado aos naufrágios.

Jean-Baptiste-Camille Corot (França, 1796-1875) é conhecido por suas paisagens românticas e influência na Escola de Barbizon. Dentre suas pinturas de paisagens expostas no Louvre, estão Maisons de pêcheurs à Sainte-Adresse (Seine-Maritime), que retrata nuvens do gênero altostratus, e Une soirée. Batelier amarré à la rive, com nuvens altocumulus stratiformis.

Alexandre-Gabriel Decamps (França, 1803-1860) é renomado por suas pinturas de temas orientais e cenas exóticas. Algumas de suas obras apresentam nuvens com contornos bem nítidos (Marius défait les Cimbres dans la plaine située entre Belsannettes et la grande Fugère(Provence),dit: La défaite des Cimbres, 1833), enquanto outras já beiram o impressionismo (Tigre et éléphant à la source, dit aussi Le désert indien, 1849 ou Le passage du gué, 1853, que apresenta uma paleta de cores bem particular).

François-Auguste Biard (França, 1799-1882) é conhecido por suas obras que retratam temas históricos, sociais e exóticos, além de sua habilidade técnica e detalhismo. Em Magdalena-Bay, vue prise de la presqu’île des Tombeaux, au nord du Spitzberg; effet d’aurore boréale (1840), por exemplo, é retratada a aurora boreal.

Paris tem dezenas de outros museus e galerias de arte. O Musée d’Orsay, situado em uma antiga estação ferroviária nas margens do rio Sena, é um tesouro incomparável da arte do século XIX e início do século XX. Dentre suas obras-primas, destacam-se pinturas impressionistas, como as de Monet (veja mais no post Monet e as nuvens), Renoir e Degas, que revolucionaram a arte com sua representação da luz e do movimento, assim como as de Van Gogh e Gauguin, que exploraram novas formas de expressão e cores vibrantes. A coleção também inclui obras do realismo e do simbolismo, proporcionando uma visão abrangente das correntes artísticas que moldaram o período.

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