O escocês Alex Shearer escreveu e publicou o livro infantojuvenil “The cloud hunters” em 2012, chegando traduzido ao Brasil em 2014 com o título “Os caçadores de nuvens”. No universo do livro, existem centenas de ilhas que, em vez de cercadas por oceanos, estão suspensas em uma atmosfera tão densa que tudo tende a flutuar. A principal fonte de água potável vem das nuvens, cuja busca e extração fica a cargo dos aventureiros caçadores de nuvens.
Nesse universo, o livro conta a história de Christien, um jovem que sonha com a independência e aventura dos excêntricos caçadores de nuvens. Em sua escola, ele conhece uma nova aluna, a caçadora de nuvens Jenine. Com isso, vê a chance de viver sua vida de aventuras, conhecendo os céus e suas incríveis criaturas. Ao longo dessa jornada, o garoto vai em busca daquilo que o move e o que o guiará pelo resto da vida.
Resumo (com muitos spoilers!)
Christien faz parte de uma família abastada, vivendo em uma ilha com várias outras pessoas. Um pequeno navio de caçadores de nuvens atraca de maneira mais ou menos permanente nessa ilha para que uma menina, Jenine, possa frequentar a escola. Depois de desenvolverem alguma amizade entre eles, até que Christien finalmente consegue convencê-la a ir com eles buscar água durante um final de semana.
No entanto, essa primeira viagem acaba sendo apenas um aperitivo para uma aventura ainda maior: coletar e levar água para as Ilhas da Dissidência, passando pelas Ilhas Proibidas. O caminho por essas ilhas é mais curto, porém mais perigoso, e havia um objetivo oculto nessa jornada: resgatar o pai de Jenine, Mikhail, da condenação à morte. Junto com o tio, Kaneesh, e a mãe, Carla, Jenine e Christien desembarcam em Quenant, uma ilha com fundamentalistas religiosos que já marcaram data para cumprir a pena de enforcamento do prisioneiro.
Mesmo já tendo escapado e viver oculto naquela sociedade como um mendigo, Mikhail reencontra a família e organiza uma fuga usando seu barco para levar os outros prisioneiros para longe da morte certa. Interessante que Chris não vira um caçador de nuvem, apesar de ter amadurecido muito durante essa jornada.
Universo do livro (sem spoilers)
Séculos atrás, colonizadores abandonaram o velho mundo (a Terra), que estava poluído, destruído e quase inabitável. O planeta que encontraram para viver tem o núcleo exposto, sendo chamado de Sol. Ao seu redor, orbitam milhões de ilhas de diversos tamanhos. A atmosfera é tão densa que se pode nadar em qualquer lugar, ou navegar de uma ilha para outro pelo espaço usando navios movidos a energia solar e vento.
A fauna do planeta é toda diferenciada, cheia de peixes-do-céu, tubarões-do-céu e baleias voadoras. Águas-vivas com centenas de metros flutuam sobre as cidades construídas nas ilhas, raspando seus vevenosos tentáculos sobre as casas e obrigando os moradores a se abrigarem durante esses eventos. Tanto os animais quanto as pessoas podem “nadar no ar”, subindo ou descendo como se estivessem na água mesmo – mas parece que subir e descer tem lá suas dificuldades.
“a nuvem está ali. Começa a se formar ao seu redor, em fiapos e lascas soltas. Logo se transforma em uma névoa fina, depois se adensa, escurece. Você sente a friagem, depois sente frio. Antes que perceba, mal consegue enxergar a própria mão na frente dos olhos.” (p. 23)
A água é o produto mais precioso que existe e uma das formas de consegui-la é caçando nuvens. Barcos vagam pelos céus buscando lugares em que ocorre a formação de nuvens. Ao encontrarem uma, um conjunto de bomba e condensador é ligado para sugar e aglutinar as gotículas de água em grandes tanques. Posteriormente, ela é comercializada em portos das mais diferentes ilhas.
“Então, é hora de lançar-se ao trabalho. Você chama o resto da tripulação. A nuvem é tão densa que você só consegue ver silhuetas vagas no convés. Tateia com familiaridade até a ponte de comando, liga os motores e os condensadores. A bomba de sucção começa a trabalhar, atraindo a umidade do ar para os tanques reservatórios. É como se todo o navio estivesse com sede e sugasse a água para dentro de si como se para salvar a própria vida. Engole o vapor com apetite insaciável, voraz. Levam-se horas até encher os reservatórios.” (p. 23)
Esse é o trabalho de uma tribo nômade que viaja por todo o mundo atrás de nuvens. Os caçadores de nuvens costumam ser vistos como párias em todas as sociedades que visitam, e ainda vivem com conflitos com membros de outras etnias que também buscam nuvens para obter e vender a água. Ao leitor, é inevitável fazer o paralelo com os piratas e os ciganos.
Os trechos do livro apresentados no post mostram um pouco sobre a coleta de água de uma nuvem. No mundo real, existem diferentes métodos para obter água da umidade atmosférica ou mesmo de nevoeiros – que na verdade são nuvens formadas junto do solo. No Chile, existe um sistema para coletar água de neblina para fazer reflorestamento. Nele, as gotículas de neblina condensam em uma rede, caem numa canaleta e descem por um cano até um reservatório d’água. Em quatro anos a comunidade de Penã Blanca conseguiu coletar 800 mil litros de água da neblina. Veja mais nesse vídeo do Globo Repórter.
O autor já publicou outra história nesse rico universo, chamada “Sky Run” (“A corrida no céu”, ainda sem tradução para o Brasil). Ela tem como protagonistas os órfãos Gemma e Martin, que moram com sua tia-avó Peggy de 120 anos e o gato-do-céu Botcher em uma rocha remota a quilômetros da civilização e da qual nunca saíram antes.
Quando Peggy decide que eles devem visitar City Island para se matricular na escola, o grupo embarca em uma viagem que os levará por territórios desconhecidos, navegando por um céu muito perigoso. Encontrando piratas das nuvens, ratos-do-céu e um dono de hotel assassino com machado, os irmãos devem aprender a se defender e lutar pelo que é certo em um mundo perigoso.
EXTRA: se procurar por “caçadores de nuvens” na internet, é muito provável que se depare com esse maravilhoso curta metragem em animação chamado “Nimbus, o Caçador de Nuvens” – vídeo incorporado a seguir. Durante uma tempestade, Nimbus se aventura pela floresta para capturar nuvens imensas e furiosas. No entanto, as coisas saem do controle, levando-nos a pensar que as vezes é melhor deixar a natureza simplesmente seguir seu curso.
