Furacão versus Tornado

Esses dois fenômenos atmosféricos todo mundo confunde entre si, mas na verdade são bem diferentes um do outro. Veja o que é cada um e também sobre outro fenômeno que não é um tornado, o redemoinho.

Tornado (esquerda) e furacão (direita).
Tornado (esquerda) e furacão (direita).

Tornado

Uma massa de ar quente e úmido não se mistura facilmente com outra massa de ar frio e seco (algo parecido acontece com as água frias do rio negro e quentes do rio solimões, na região do Amazonas). Quando elas se encontram em alta velocidade, vindas de direções opostas, o ar quente é lançado para o alto, se condensa e inicia uma tempestade. Da base dessa nuvem (conhecida como Cumulonimbus), formam-se protuberâncias (chamadas mammatus) que podem evoluir para um funil quando estão no centro da tempestade (onde a rotação é mais intensa), que desce em direção à terra.

O tornado possui por volta de 100 metros de diâmetro e ventos entre 100 e 500 km/h. Duram poucos minutos (ao contrário dos furacões, que geralmente duram dias). A região central dos EUA possui condições propícias para formação de muitos tornados, sendo que a maioria desses eventos detectados no mundo estão nesse país. No Brasil as condições são menos favoráveis, mas já foram registrados e filmados tornados aqui, como o de Indaiatuba em 2005. Veja um compacto com vários tornados de diferentes tamanhos (casas sendo sugadas e carros sendo lançados), obtidos graças aos caçadores de tornados espalhados pelo mundo e câmeras de vigilância.

A escala Fujita classifica os tornados conforme sua velocidade estimada e dano causado. Caso um tornado se forme sobre a água, é conhecido como tromba d’água. Pode sugar rãs e peixes, que irão cair como chuva em outro lugar (veja alguns “causos” de chuvas de animais nesse link) Mesmo ventos muito fortes são capazes de levantar grandes quantidades de poeira de regiões desérticas por vários quilômetros, formando chuvas de barro em regiões distantes (como a ocorrida em Barcelona, na Espanha, em 17 de abril de 1962).

Parecido com o tornado, existe o landspot. Ele é geralmente mais fraco que um tornado típico, apresenta um funil menos desenvolvido e pode nem estar diretamente conectado à base da nuvem. Além disso, ele não está associado a mesociclones. Forma-se devido à convergência de ventos próximos ao solo e ao rápido levantamento de ar instável, criando uma rotação menor e menos organizada.

Existe ainda um fenômeno natural bem menos danoso mas que muitas vezes é confundido com um tornado: o dust devil ou redemoinho. São ventos em espiral formados pela convecção do ar, em dias quentes e sem ventos, que se tornam visíveis por levantar poeira do solo – veja mais no post sobre gênios, sacis e redemoinhos.

Furacão

Ciclone, tufão e furacão são nomes diferentes para um mesmo fenômeno. No Japão, costuma-se chamar os furacões de tufões, enquanto que na Índia e Austrália chama de ciclone. De modo geral, o furacão é como se fosse uma implosão em câmera lenta gerada pela condensação em um sumidouro de vapor, com aceleração centrípeta e rotação gerada pelo efeito de Coriolis.

Falando com mais detalhes, o ciclone é um centro de baixa pressão onde o ar relativamente quente sobe e favorece a formação de nuvens e precipitação. A diferença de pressão entre o centro e a borda gera uma força que causa o movimento do ar de fora para dentro. Para bagunçar mais as coisas, o movimento do ar é desviado de uma provável trajetória reta devido à força de Coriolis (veja mais clicando no link). Assim, os ventos circulam em espiral no sentido anti-horário no Hemisfério Norte e no sentido horário no Hemisfério Sul. Esse giro somente é observável quando vistos de cima, como de imagens de satélite ou a partir da Estação Espacial Internacional, por exemplo.

Assim, o furacão é um ciclone tropical, pois forma-se em regiões tropicais (ou extra-tropical, caso forme-se fora dos trópicos como o Furacão Catarina, que atingiu a costa de Santa Catarina em 2004). É movido pela energia térmica liberada quando ar úmido sobe para camadas mais altas da atmosfera e o vapor de água associado se condensa. Desse modo, quanto mais quente e úmida estiver a superfície, melhor. Por isso só se formam sobre o oceano de águas superficiais quentes (acima de 28°C) e com ventos calmos, o que permite organizar as nuvens de grande desenvolvimento horizontal (fase conhecida como Tempestade Tropical). Quando formados, os furacões podem medir entre 200 e 800 km de uma ponta a outra e ter ventos de até 250 km/h. A escala Saffir-Simpson classifica os furacões dependendo de sua velocidade e dano causado. E quanto ao ar que subiu, parte dele desce pelo centro, formando o olho do furacão: uma região de ventos fracos e sem nuvens.

Estrutura de um furacão
Estrutura de um furacão.

Localizados geralmente entre a linha do Equador e o paralelo 30° norte ou sul, geralmente são levados o hemisfério norte ou sul pelos ventos alíseos. Os alíseos são o resultado da ascensão de massas de ar que convergem de zonas de alta pressão (anticiclônicas), nos trópicos, para zonas de baixa pressão (ciclônicas) no Equador, formando um ciclo. Essa região de convergência dos ventos alíseos é chamada Zona de Convergência Intertropical (ZCIT ou ITCZ), região geradores de tempestades severas e turbulência. Para mais informações técnicas sobre furacões, veja o post Temporada de furacões 2020.

Veja esse relato de uma ocasião em que o olho do furacão passou sobre uma região habitada:

“No dia 18 de Setembro de 1826, um furacão aproximou-se de Miami, Florida. A população estava preparada para os ventos fortes e a maré. Miami experimentou chuvas torrenciais, enchentes e ventos com rajadas mais de 160 km/h. Mas de repente, o céu clareou e os ventos dissiparam-se. Pessoas saíram das casas para inspecionar os danos e alguns até foram para seus empregos. Muitos dos jovens foram a praia para aproveitar as grandes ondas. A calma durou menos de uma hora, quando as nuvens aproximaram-se rapidamente vindo do sul. As pessoas não sabiam que estavam no olho da tempestade. Os ventos fortes retornaram e centenas de pessoas morreram afogadas quando Miami Beach desapareceu embaixo da maré elevada.”

Em julho de 1943, o Cel. Joe Duckworth e o Ten. Ralph O’Hair pilotaram um pequeno avião a hélice AT-6 no olho de um furacão com ventos de aproximadamente 210 km/h ao longo da costa de Galveston, Texas. Embora o piloto e o navegador tenham ganhado um copo de uísque no clube de oficiais após retornarem em segurança naquele dia, a recompensa para a ciência foi muito mais evidente: os termômetros a bordo do avião registraram uma diferença de 14ºC na temperatura entre o olho do furacão e o ar ao redor.

Hoje, a maioria dos voos tripulados em furacões é realizada pelo 53º Esquadrão de Reconhecimento Meteorológico da Força Aérea (popularmente chamado de Hurricane Hunters – Caçadores de Furacões) e pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration dos EUA). Veja nesse link um vídeo com a passagem de um avião Lockheed P-3 pela parede do furacão, com ventos de até 200 km/h, e depois a calmaria que reina no olho. Existem também voos não tripulados para investigação dos furacões.

Foto do olho do furacão Katrina (Hurricane Hunters/NOAA).
Foto do olho do furacão Katrina (Hurricane Hunters/NOAA).

Nas décadas de 1960 e 1970, o governo dos Estados Unidos tentou enfraquecer os furacões por meio do Projeto Stormfury através da semeadura de nuvens em determinadas tempestades, usando iodeto de prata. Os ventos do furacão Debbie caíram mais de 30%, mas Debbie recuperou sua força após as duas semaduras, fortalecendo-se mais após cada ataque.

Observe que o Furacão tem um tamanho maior, mas geralmente o tornado tem ventos mais rápidos, então nem dá pra dizer qual é mais forte; como diria a Samantha, do blog Meteorópole, “não dá pra fazer um Supertrunfo aqui”.

Veja mais sobre ciclone e furacão e tornados no Meteorópole, e também sobre os nome dos furacões (o NHC/NOAA, dos EUA, cria listas com nomes de furacões para cada ano, com nomes que vão da letra a A até Z, sempre alternando entre nome feminino e masculino).

“As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade.”

Victor Hugo