Aeromancia

E se em vez de usar as posições relativas dos corpos celestes para prover informações sobre a personalidade e as relações humanas, como é feito na astrologia, fossem usados elementos meteorológicos, como nuvens e ventos? Apesar de não haver evidências científicas que a comprovem (pelo contrário), isso existe e é chamado aeromancia.

Enlil (da mitologia mesopotâmica) era o deus do tempo, que podia ter visões do mundo e dos humanos com as correntes de vento. Fonte: Aeromancy - SuperpowerWiki/Fandom
Enlil (da mitologia mesopotâmica) era o deus do tempo, que podia ter visões do mundo e dos humanos com as correntes de vento. Fonte: SuperpowerWiki/Fandom

Desde tempos imemoriais, a humanidade observa os céus em busca de sinais dos seres supremos e os presságios das coisas por vir. O nome aeromancia vem do grego “aer”, relateivo ao ar, e “manteia”, que significa adivinhação. Nessa prática, usa-se da formações de nuvens, correntes de vento e eventos cosmológicos, como cometas, para tentar prever o futuro.

O primeiro registro dessa palavra data de 1753. No entanto, ela já havia sido mencionada indiretamente em Deuteronômio 18 como sendo condenada por Deus:

“Quando entrarem na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, não procurem imitar as coisas repugnantes que as nações de lá praticam. Não permitam que se ache alguém entre vocês que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha; que pratique adivinhação, ou dedique-se à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium ou espírita ou que consulte os mortos.”

Deuteronômio 18:9-11

Também foi condenada por Albertus Magnus em Speculum Astronomiae, que descreveu a prática como um derivado da necromancia (suposta arte de adivinhar o futuro por meio de contato com os mortos). François de la Tour Blanche escreveu que a aeromancia era a arte da leitura da sorte quando os espectros se materializam no ar, possivelmente com a ajuda de demônios, projetando imagens do futuro nas nuvens como uma lanterna mágica. Existem sub-tipos da aeromancia, que são:

  • austromancia – adivinhação usando o vento;
  • ceraunoscopia – através da observação de trovões e relâmpagos;
  • cleromancia – previsão a partir do lançamento de algum objeto, que seria redirecionado pelo vento;
  • meteoromancia – previsão usando estrelas cadentes;
  • nefelomancia – adivinhação através das nuvens.

Sobre a austromancia, por exemplo, o vento leste é presságio de sorte; o vento do sul, por sua vez, significa divulgar segredos; o vento oeste , o infortúnio, adversidade; o vento norte, incapacidade de tomar uma decisão. Provavelmente na região onde essa técnica começou a ser praticada, o vento leste devia trazer ventos úmidos e bons para chuva e a agricultura, por exemplo, e assim surgiram essas conexões.

Além disso, o vidente pode formular perguntas com respostas binárias que serão respondidas pela direção do vento. Se o vento soprar para o Norte ou para o Oeste, a resposta é “sim”, mas se soprar para o Sul ou para o Leste, a resposta é “não”. Porém, se o vento não soprar e continuar assim depois de 10 minutos, a interpretação é que essa pergunta não tem resposta imediata.

Nefelomancia

Como é praticada a nefelomancia (ou nefomancia)? O vidente fecha os olhos, concentra-se e faz a pergunta. Ao abrir os olhos para o céu, o vidente traduz as formas, as cores e as posições das nuvens nos eventos futuros – um método bem semelhante à leitura borras de café ou aleuromancia.

O observador pode também intervir na formação das figuras para encaixar a mensagem que pede adivinhação pelo consultante, promovendo uma espécie de psicocinese de forma inconsciente, tornando a mensagem ainda mais clara.

Acreditava-se que as nuvens, com suas formas misteriosas em constante mutação, eram mensagens enviadas pelos deuses. Em algumas culturas, as próprias nuvens eram consideradas entidades divinas. Orações e sacrifícios eram feitos para aplacá-las. Um deus da nuvem zangado poderia enviar sua ira na forma de calamidades destrutivas, como tempestades. No entanto, as mesmas nuvens também poderiam guiar o homem através de mensagens simbólicas.

Os druidas celtas faziam uso extensivo da nefelomancia, que eles chamavam de neladoracht. Os xamãs celtas às vezes praticavam uma forma de nefelomancia que estava intimamente relacionada à hidromancia e à vidência. Depois de encontrar uma pedra oca ou outra depressão que estava cheia de água da chuva, os sacerdotes olhavam para ela estudando as formações de nuvens refletidas na superfície da água.

Diz-se que o saque de Jerusalém por Antíoco em 168 a.C. foi previsto por uma pessoa que viu nas nuvens alguns cavaleiros misteriosos.

Em 312 d.C., quando o imperador Constantino estava marchando contra o exército de Maxêncio em Roma, ele e todo o seu exército viram uma cruz de luz brilhante entre as nuvens. Foi dito que a cruz continha as palavras gregas “Por esta conquista”. Naquela mesma noite, Cristo teria aparecido a Constantino em seus sonhos com uma cruz na mão, ordenando que ele mandasse fazer um estandarte militar com a mesma imagem. Sob esse símbolo, seu exército foi vitorioso, mesmo em menor número.

O filósofo grego Damascius disse que, durante o reinado do imperador romano Falvius Valerius Leo Augustus (401-474 d.C), houve uma nefelomancista famosa chamado Anthusa:

“Portanto, nos dias de Leão, o imperador romano, encontramos uma mulher que não conhecia nem pela audição nem pelas práticas antigas a arte da adivinhação pelas nuvens. A mulher veio de Aigai, na Cilícia, vindo da família dos Orestiadai que moram na montanha de Komana na Capadócia. Sua família voltou para o Peloponeso. Ela pensou em um homem encarregado de um comando militar que foi enviado com outros para a guerra contra os vândalos na Sicília. Ela orou para prever o futuro por sonho e orou enfrentando o sol nascente. Seu pai prescreveu e ordenou-lhe em um sonho que orasse em direção ao oeste. Quando ela orou, uma nuvem do ar superior pairou ao redor do sol, aumentou de tamnho e assumiu a forma de um homem. Outra nuvem se separou e ficou do mesmo tamanho e assumiu a forma de um leão selvagem. Ele entrou em uma grande raiva e, tendo feito uma grande abertura, o leão engoliu o homem. A forma humana, feita de nuvem, era como um godo. Um pouco mais sobre as aparições; em seguida, o imperador Leão matou o próprio Aspar, o hegemon dos godos (em Constantinopla) e seus filhos. Desde então, Anthusa continuou a praticar, até agora sem interrupção, o costume da predição mântica através das nuvens.”

Teodoro Bálsamo, patriarca grego ortodoxo de Antioquia entre 1185 e 1199, relatou:

“Eles predizem das nuvens coisas desconhecidas para muitos. Alguns olham as nuvens quando elas ficam vermelho fogo ao pôr do sol e fingem aprender a verdade delas. Para esta nuvem, quando toma a forma de pomba, eles dizem que infortúnio virá para o inquiridor. De outra nuvem, quando assume a forma de um homem com uma espada, eles predizem a guerra. De outra, quando assume a forma de um leão, eles predizem a ação de éditos imperiais.”

Ao longo da história, batalhas militares inteiras foram testemunhadas nas nuvens. Uma forma medieval de nefelomancia envolvia invocar fantasmas e espectros para projetar imagens de eventos futuros nas nuvens.

E falando em pseudociências relacionadas à Meteorologia, a astrometeologia fala usa das posições relativas dos corpos celestes para fazer a previsão de tempo – veja mais no post do link.

Fontes

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