A música dos filmes

Um fator fundamental para um bom filme é a trilha sonora, certo? Devido a sua importância, todo o som (música ou não) deve cuidadosamente elaborado, capturado e mixado para gerar um bom filme. Isso tudo envolve vários passos e muitos profissionais.

Desde a primeira e histórica projeção dos irmãos Lumière, em 1895, as imagens no cinema já tinham um acompanhamento musical. Porém, o fundo musical era geralmente uma improvisação solo feita por pianistas ou organistas, e a música raramente coincidia com as narrativas da tela.

Filme “O melômano” (1903) de George Méliès, em que o próprio ilusionista interpreta um músico que substitui, sucessivamente, sua cabeça, jogando uma a uma num fio telegráfico como se fossem notas musicais.

A partir de 1910, começaram a ser editadas partituras para piano e orquestra, que transmitiriam os “climas” apropriados para cenas específicas. Com a 1ª Guerra Mundial, muitos músicos imigraram da Europa para os Estados Unidos. Como na América não havia o costume das pessoas saírem para ouvir um concerto de música clássica, muitos profissionais começaram a compor e tocar músicas para os filmes.

Só na década seguinte (por volta de 1927) se chegou a uma solução para o impasse da sincronização entre cena e trilha sonora, com a encomenda dos primeiros “scores”, ou seja, a música incidental feita exclusivamente para determinado filme. O sistema de som Movietone é um método ótico de gravação de som para filmes que garante a sincronização entre som e imagem. Ele consegue isso gravando o som como uma faixa óptica de densidade variável na mesma faixa de filme que registra as imagens. A música incidental cria um ambiente para a cena, também sendo conhecida como música de fundo ou BGM (do inglês “background music”), sem existir uma música tema ou canções próprias.

Em 1932, o produtor do filme “Symphony of Six Million” pediu para o compositor da trilha sonora, Max Steiner, que fizesse uma trilha específica para uma determinada cena, o que acabou sendo expandido para o filme todo. Assim, começou a existir a ideia de uma trilha sonora para cada filme.

A trilha sonora é conhecida em inglês como “soundtrack” e como “banda sonora” em portugal. Ela engloba todo o conjunto sonoro de um filme, programa de televisão, jogo eletrônio, etc, incluindo além da música, os efeitos sonoros e os diálogos. Pode incluir música original, criada de propósito para o filme, ou outras peças musicais, canções e excertos de obras musicais anteriores ao filme.

Trilha sonora engloba termos em inglês como “soundtrack” e “score”, designando todo o conjunto sonoro da obra; a música incidental (o “score”) diz respeito a musicas de fundo

Com a popularização da TV nos anos 1950 e 1960, o cinema começou a perder público. Isso incentivou a introdução de outros ritmos, como o Jazz, em detrimento da música clássica. Em filmes de ação/aventura, muitas vezes essas músicas podem ser exemplares do gênero música épica. A música épica pode ser considerada um sub-gênero do rock progressivo, podendo receber influências de música orquestral, sinfônica e até eletrônica. Devem transmitir sentimentos inseridos no contexto da cena.

Normalmente, a música épica utiliza meios bastante tradicionais quando se trata da própria música. As harmonias/melodias seguem estruturas e mudanças bem conhecidas e os compositores usam alguns elementos como: criar e liberar a tensão, construir a estrutura da melodia para que o clímax seja bem preparado e também combinar os diferentes instrumentos para que o resultado não soe estranho e fora do lugar. Ela se baseia na teoria clássica, mas utiliza ferramentas e técnicas modernas para torná-lo mais pomposo e rígido.

Atualmente, é possível observar que algumas músicas ficaram mais famosas que os próprios filmes para os quais foram compostas, como é o caso de Flash Gordon e Highlander (com as músicas Who wants to live forever e Princes of universe), ambos com trilha da banda Queen. Ou também músicas já compostas acabam ganhando grande repercussão com um filme, como “Assim falou Zaratustra”, de Richard Strauss, com o filme “2001 – uma odisseia no espaço”. Geralmente os filmes possuem uma música principal, que acompanha o protagonista, chamada de música tema.

Leitmotiv (do alemão, motivo condutor) é uma técnica de composição, introduzida por Richard Wagner em suas óperas, que consiste no uso de um ou mais temas que se repetem sempre que se encena uma passagem da ópera relacionada a uma personagem ou a um assunto. Também é utilizado largamente no cinema e em telenovelas – por exemplo, um som que lembra a música da sociedade do anel toda vez em que ela é formada na trilogia do Senhor dos Anéis.

Dentre as premiações técnicas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA (mais conhecido como “Oscar”), quatro são os prêmios relacionados ao áudio das produções:

  • Melhor Edição de Som
  • Melhor Mixagem de Som
  • Melhor Trilha Sonora
  • Melhor Canção Original

A categoria de Mixagem de Som é mais antiga surgiu em 1930, enquanto que a de edição, em 1963 com o nome de “efeitos sonoros”.

Durante os meses de gravação, a equipe de som é responsável por toda a captação de áudio nos sets de filmagens, seguindo o roteiro do filme e dando a devida atenção aos diálogos dos atores. Muitas vezes, é necessário criar ruídos ou intensificar sons para cada cena. Organizar tudo isso é o objetivo da edição de som. Os diálogos, sons ambientes, efeitos são misturados (mixados) para dar o áudio final da produção. Essa é a função da mixagem de som.

A edição de som está relacionada à captura de som, enquanto que a mixagem trabalha na pós-produção

Para concorrer em Melhor Trilha Sonora, a Academia exige que ao menos cinco músicas instrumentais tenham sido criadas exclusivamente para o filme. Já Melhor Canção Original costuma selecionar uma música-tema e inédita. Ou seja, Canção Original vai para uma única música do filme, enquanto Trilha Sonora premia todo o conjunto musical de um longa.

Sonoplastia

O objetivo é trabalhar a fala dos personagens e a música de modo separado dos ruídos. Assim, a mixagem pode enfatizar ou diminuir a intensidade de cada elemento conforme o roteiro explicitar.

Foley” é o artista responsável por criar e adaptar sons às cenas, os chamados efeitos sonoros. Em um estúdio com muitos apetrechos, ele cria sons para enfatizar alguma ação prevista em roteiro (como o caminhar de um salto alto em uma cena de suspense) ou de coisas que não existem (como o som de um dinossauro ou de uma máquina do tempo).

Curiosidade: não pude escrever “foley” sem lembrar de Axel Foley, o protagonista da franquia “Um tira da pesada” interpretado pelo ator Eddie Murphy. A música tema do filme de 1985 é uma canção de Harold Faltermeyer instrumental baseada em teclado chamada “Axel F”, cujo nome veio do personagem – antes era chamada de “Banana theme”, por causa da cena da banana no escapamento. Em 2005, uma versão dela pelo grupo fictício Crazy Frog se tornou um enorme sucesso na Inglaterra.

O som diegético é todo aquele som que os personagens no filme estão ouvindo – por exemplo, o som do apito de um trem ou um show de música. Quando o som é captado na cena, escutado pelo personagem e ao mesmo tempo pelo ator, é chamado de diegético síncrono. Já o diegético assíncrono é o som que o personagem ouve, mas que é inserido posteriormente na cena pela edição e mixagem. Por fim, o meta diegético ocorre quando é ouvido pelo personagem na cena, mas não é real no contexto do filme e nem real na própria cena – por exemplo, uma alucinação.

O som não diegético é o que somente o expectador ouve, mas não os personagens, o que engloba trilhas incidentais, scores e afins.

Veja alguns grandes compositores de trilhas sonoras para o cinema clicando no link.

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