A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), principal agência dos Estados Unidos para ciência climática e meteorologia, enfrenta um momento crítico com cortes massivos de pessoal impostos pelo governo Trump. Recentemente, a NOAA foi instruída a preparar-se para a demissão de mais mil funcionários, somando-se aos cerca de 1.300 que já haviam deixado a agência por dispensa ou renúncia voluntária. Essa redução representa quase 20% da força de trabalho da NOAA, que conta com aproximadamente 13.000 funcionários.

A decisão de reduzir drasticamente o quadro de funcionários da NOAA gerou grande preocupação entre cientistas, meteorologistas e especialistas em diversas áreas da agência, incluindo o Serviço Nacional de Meteorologia. Com menos pessoal, algumas atividades fundamentais, como o lançamento de balões meteorológicos, já foram interrompidas, e há o temor de que a capacidade de previsão de eventos climáticos extremos, como furacões e tornados, seja severamente comprometida.
Os cortes fazem parte de um esforço mais amplo da administração Trump para reduzir a burocracia federal. A NOAA tem sido alvo de ataques por aliados do ex-presidente, especialmente dentro do Projeto 2025, um plano de políticas publicado pela Heritage Foundation. Esse documento classifica a NOAA como um “motor da indústria de alarme sobre mudanças climáticas” e sugere que a agência seja desmantelada, com algumas de suas funções privatizadas.
As demissões não apenas enfraquecem a capacidade operacional da NOAA, mas também colocam em risco a segurança pública. A ausência de previsões precisas pode afetar desde a navegação segura em vias aquáticas até a produção agrícola e a resposta a desastres naturais. A senadora Maria Cantwell destacou que os serviços da NOAA sustentam um terço do PIB dos EUA e que sua desestabilização pode ter impactos econômicos severos.
Muitos cientistas e funcionários expressaram frustração, tristeza e surpresa ao perderem empregos que consideravam sua vocação. Tom Di Liberto, ex-especialista em comunicação pública e climatologista da NOAA, criticou a administração Trump e Elon Musk, alegando que ambos não compreendem a importância do serviço público sem segundas intenções.
Entre os cortes, mais de 100 funcionários do Serviço Nacional de Meteorologia foram dispensados, incluindo especialistas responsáveis por previsões críticas de tornados e furacões. A forma como as demissões foram conduzidas, sem um rastro documental claro, dificulta a identificação de quem foi afetado e quando. A maioria dos cortes atingiu funcionários em período probatório, incluindo cientistas experientes que haviam acabado de conseguir posições permanentes após anos de trabalho temporário.
Andrew Hazelton, ex-pesquisador da Divisão de Pesquisas sobre Furacões da NOAA, destacou que os demitidos eram justamente aqueles com uma combinação única de motivação e experiência para promover avanços na organização. O trabalho de Hazelton foi crucial para o desenvolvimento do Hurricane Analysis and Forecast System, tecnologia que melhora previsões de trajetória e intensidade de furacões. A precisão das previsões da NOAA em 2024 atingiu recordes, mas sua continuidade está ameaçada pelos cortes.
Além das demissões, alguns dos meteorologistas mais experientes do Serviço Nacional de Meteorologia aceitaram um plano de aposentadoria antecipada oferecido a todos os funcionários federais. Essa saída aumentou ainda mais a perda de conhecimento institucional, especialmente em regiões vulneráveis, como os estados centrais dos EUA, propensos a tornados.
O impacto dos cortes na NOAA também se estende à pesquisa e desenvolvimento de inteligência artificial aplicada à meteorologia. A agência vinha investindo no uso de aprendizado de máquina para melhorar previsões de longo prazo, alinhando-se a tendências globais. O Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo anunciou recentemente que seu modelo de IA superou os modelos tradicionais em até 20% de precisão. Com os cortes, a NOAA pode ficar para trás nessa corrida tecnológica.
Os escritórios locais do Serviço Nacional de Meteorologia, que cobrem todo o território dos EUA, já enfrentavam escassez de pessoal antes das demissões. A necessidade de redistribuir tarefas entre escritórios sobrecarregados pode comprometer a qualidade das previsões e aumentar o risco de esgotamento entre os meteorologistas remanescentes.
As consequências dessas demissões continuam a se desdobrar, enquanto um memorando recente do Escritório de Gestão e Orçamento sugere que novos cortes em agências federais podem estar a caminho. Funcionários da NOAA relatam um clima de incerteza e ansiedade, sem saber quando ou se atingirão o fundo do poço. Como afirmou um meteorologista do Serviço Nacional de Meteorologia: “Isso só continua, de novo e de novo e de novo”.

Em 2019, ficou conhecida uma polêmica envolvendo o presidente Donald Trump e a previsão de tempo. Nessa ocasião, ele exibiu um mapa alterado à mão para incluir o Alabama na trajetória do furacão Dorian, apesar de previsões oficiais indicarem que o estado não estava em risco. A modificação gerou controvérsia, pois Trump insistiu repetidamente que o Alabama seria afetado, mesmo após o Serviço Nacional de Meteorologia contradizê-lo. Quando questionado sobre a discrepância, ele não explicou a alteração. A Casa Branca confirmou a modificação no mapa, mas não revelou quem a fez.
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