Síndrome de Burnout é doença ocupacional

Maria Auxiliadora Roggério

Doença ocupacional é definida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como problemas de saúde adquiridos pelo trabalhador em consequência da exposição à fatores de risco decorrentes de sua atividade laboral e que afetam sua saúde física e mental.

As pessoas acometidas por doença do trabalho são protegidas por garantias trabalhistas e previdenciárias, como o direito a afastamento remunerado de 15 dias e, acima disso, o auxílio-doença acidentário (benefício pago pelo INSS, que permite a estabilidade provisória de 12 meses após o retorno às atividades profissionais).

"Burnout & Stress" by Hangout Lifestyle (Florian Simeth) is licensed under CC BY 2.0
“Burnout & Stress” by Hangout Lifestyle (Florian Simeth) is licensed under CC BY 2.0

Desde janeiro de 2022, a Síndrome de Burnout passou a integrar a lista de doenças ocupacionais da CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) com o código QD85. Anteriormente, era classificada como “estado de exaustão vital” subordinado a “problemas relacionados com a dificuldade de gestão da vida”. Com a realização da 72ª Assembleia da OMS em Genebra, na Suíça, na qual dezenas de representantes de países se encontraram em maio de 2019, a Síndrome de Burnout deixou de ser considerada uma dificuldade “na vida”, e passou a ser uma dificuldade “no trabalho”, redefinida como “resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”, delimitando a etiologia essencialmente ocupacional desse fenômeno. Essa classificação é importante, porque indica que o trabalho (ou a organização do trabalho, as relações trabalhistas) é que provoca a doença e, sendo assim, os empregadores precisam rever suas práticas e promover mudanças nas condições de trabalho a fim de garantir saúde mental e física aos seus empregados.

A expressão burn out era utilizada popularmente no final da década de 1960 nos Estados Unidos para se referir aos efeitos (apatia, agitação, sintomas depressivos) que o vício em drogas causava nos usuários. Na década seguinte, o psicólogo Herbert J. Freudenberger observou em si mesmo e em colegas de equipe na clínica em que trabalhavam em Nova York que, devido à jornada e demandas excessivas do trabalho, apresentavam sintomas semelhantes e se encontravam em estado de exaustão. Ao conjunto de sinais e sintomas físicos e comportamentais que sentiam, atribuiu o termo burn out como sinônimo para “esgotamento mental”.

Além da sensação de exaustão que interferia no sono, provocando insônia, identificou sintomas como fadiga, queda de imunidade, problemas gastrintestinais, falta de ar, dores de cabeça, frustração e descontrole emocional. Notou, também, que as pessoas apresentavam irritabilidade, teimosia, raiva, inflexibilidade e aparentavam estar deprimidas.

Condições físicas, emocionais e psicológicas desgastantes no ambiente de trabalho geram um estado de tensão emocional e estresse crônicos que caracterizam essa síndrome. Manifesta-se especialmente em trabalhadores cuja atuação exige envolvimento interpessoal direto e intenso, como profissionais das áreas de educação, saúde, policiais, entre outros, sendo desencadeada após um estado de tensão constante, em contexto físico e/ou mental, em que o indivíduo se sente cada vez mais tomado pelo estresse até o esgotamento total (burn out = queimar por completo).

A Síndrome de Burnout está registrada no grupo 24 da CID-11. Também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, envolve três dimensões:

  • exaustão emocional: a pessoa perde o entusiasmo, sente que seus recursos se esgotaram e que não tem condições de desenvolver seu trabalho satisfatoriamente; não consegue mais lidar com colegas de trabalho ou com clientes como antes. Pode levar à depressão, comportamentos autodestrutivos, uso de drogas.
  • despersonalização: a despersonalização leva o indivíduo a desenvolver certa insensibilidade emocional, tratando seus parceiros, clientes e a própria empresa/organização com descaso ou falta de empatia; negativismo relacionado ao trabalho.
  • redução da eficácia profissional: o trabalhador sente-se infeliz consigo mesmo e insatisfeito com a vida profissional, com tendência a se autoavaliar negativamente.

A sensação de esgotamento físico e emocional é um sintoma característico e se reflete em atitudes como: agressividade, ansiedade, isolamento, depressão, irritabilidade, labilidade emocional, pessimismo, baixa autoestima, dificuldades de concentração, lapsos de memória, ausência ao trabalho, queda do rendimento profissional.

Dores de cabeça frequentes, enxaqueca, palpitação, pressão alta, distúrbios gastrintestinais, alterações no apetite, crises de asma, dores musculares, cansaço excessivo, sudorese, insônia, são manifestações físicas que podem estar associadas à síndrome.

Às explicações para esse esgotamento, somam-se as condições de trabalho nas quais a pressão por resultados e cumprimento de metas é cada vez maior, não há reconhecimento ou valorização do profissional, há críticas não construtivas, assédios, situações ofensivas ou desagradáveis e injustiças no ambiente laboral, o próprio local de trabalho é precário e/ou insalubre. Não dá para deixar de fora a priorização da vida profissional em relação à vida pessoal, especialmente em situação de home office, com e-mails e cobranças fora do horário de trabalho exigindo comprometimento total e evidenciando despreocupação com o bem-estar do empregado. “Trabalhe enquanto eles dormem”, aumenta a produtividade ou o sofrimento?

O diagnóstico é basicamente clínico, feito por psicólogos ou médicos psiquiatras. O tratamento inclui psicoterapia, avaliação das condições de trabalho e sua interferência na qualidade de vida, exercícios de relaxamento, atividades físicas regulares, mudanças no estilo de vida, visando mais descontração e momentos de lazer e, eventualmente, uso de medicamentos como antidepressivos.

Não permita que o trabalho domine sua vida. Estabeleça limites para sua rotina trabalhista e procure ajuda profissional para lidar com o estresse.

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