Encontrei alguns textos que falam sobre a Ciência no Brasil e gostaria de compartilhar aqui. São críticas aos modelos de desenvolvimento adotados no país, que nos fazem pensar sobre o porque estamos onde estamos e as prioridades que damos ao conhecimento.
Um documentarista se dirige a cientistas
Neste ensaio, derivado de uma participação do documentarista João Moreira Salles em simpósio da Academia Brasileira de Ciências, discute-se a hipervalorização das artes e humanidades em detrimento das ciências “duras” e da engenharia, e as consequên- cias do processo para o desenvolvimento tecnológico, científico e cultural do país.
Você quer mesmo ser cientista?
Texto da neurocientista Suzana Herculano-Houzelfala sobre a valorização do cientista. Abrange comentários que envolvem desde uma remuneração digna do estudo e dedicação dedicados à atividade ao reconhecimento por parte do governo e da população de que o PESQUISADOR é um trabalhador intelectual e não pode ser tratado como um “trabalho extra” enquanto não é professor universitário.
Esse é um texto ironizando algumas coisas que acontecem durante o processo de confecção de uma dissertação de mestrado. É um texto de humor, mas que aborda alguns aspectos curiosos, como:
“O título da dissertação é um ponto muito importante. É a primeira coisa em que o leitor vai colocar os olhos. Portanto, faça ele grande. Três linhas de texto e não se aceita menos! Coloque no título toda a informação possível sobre o seu trabalho.”
“Existe um tipo de orientador ainda mais reacionário que pede “objetivos específicos”. Os objetivos específicos servem apenas para uma coisa: para deixar o mestrando fulo da vida porque tem que escrevê-los. Nós realmente recomendamos que você escreva objetivos específicos, porque a banca vai pedir. Ou você pode usar isso como bode (fig. 1), deixando de escrever os objetivos específicos para que os membros da banca não percebam outros problemas mais graves no seu trabalho.
“Você já viu alguma vez um membro da banca dizer simplesmente: “Seu trabalho está muito bom! Pode ser aceito como dissertação de mestrado e encerro aqui a minha fala.”? Não! Neste momento os membros da banca sempre têm algum defeito a apontar, mesmo que seja imaginário. Se você fosse membro de uma banca avaliadora você se sentiria bem se não encontrasse nenhum erro? Não! Isso provaria que o candidato ao mestrado é mais inteligente do que você. Isso não pode acontecer em hipótese alguma. Por isso é que os avaliadores se esmeram na leitura do trabalho até encontrarem um erro. Então eles têm o que falar da defesa. Concluindo: não esqueça do bode! (ver fig. 1)“
Ciência e Ideologia
Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês considerado como o fundador da ciência moderna, firmava que se conhecemos a natureza e a sociedade, podemos explorar uma e refazer a outra (nota 1, pg. 240). Isso mostra um pouco a importância da ciência, com o progresso científico tornando-se não só desenvolvimento da razão mas também do progresso na capacidade de inventar novas tecnologias e técnicas sociais. Essa ideologia inspirou uma reverência pública pela Ciência, o patrocínio governamental da Ciência, tanto direta como indiretamente (por exemplo, através da educação), a fusão da ciência e da tecnologia, etc.
Muitas vezes a Ciência é utilizada com vários fins, como uma forma de apresentar algo com pretensão de neutralidade e incontestável objetividade. Isso vai desde um produto para emagrecer com o selo “cientificamente comprovado” até a legitimação de um governo totalitário através das ciências sociais. Com a ascensão do positivismo entre os séculos XVIII e XIX, a Ciência contribuiu significativamente para a vitória do movimento do Iluminismo e para limpar terreno para seu próprio desenvolvimento futuro, assim como para o desenvolvimento prático da Revolução Industrial.
Com isso tudo, os problemas e contradições da ordem social estabelecida, com suas evidentes desigualdades, podiam ser apresentadas pela primeira vez na história como fenômenos estritamente transitórios, cujo avanço do conhecimento científico e sua aplicação sistemática à produção acabariam superando. Isso aconteceu com as vacinas e melhoria das técnicas agrícolas da produção de alimentos, por exemplo, mas o desenvolvimento tecnológico e da ciência está profundamente inserido nas estruturas e determinações sociais. Assim, basicamente servem ao grupo dominante economica e socialmente.
Uma amostra disso vai desde a “produção” de escassez artificial em um mundo de abundância até a manipulação dos fatos com o objetivo de provocar as necessárias reações ideológicas e políticas em um mundo sistematicamente deseducado. A alienação das pessoas envolvidas com o processo produtivo permite a elas somente perceber parte da produção e do conhecimento, muitas vezes nem podendo adquirir os produtos por elas fabricados ou vendidos. A economia de tempo gerada pelo avanço dos meios produtivos não se revela em menos tempo de trabalho para o operário, e sim em maior número de trabalho realizado em menor período de tempo, o que significa um lucro maior para o que detém os meios de produção.
Leia mais
1 – A Ciência como atividade humana, G. F. Kneller, Zahar/Edusp.
2 – O Poder da Ideologia (parte II), István Mézaros, Boitempo editorial, 2004.
A tirinha acima faz lembrar da história da “partícula de Deus”. O Bóson de Higgs é uma partícula elementar prevista pelo Modelo Padrão de partículas, teoricamente surgida logo após ao Big Bang e permite que as demais possuam diferentes massas. Segundo o físico brasileiro Marcelo Gleiser, o título de “partícula de Deus” surgiu com o livro do também físico Leon Lederman, que propôs à editora o título “Goddamn particle” (Partícula maldita), que não tem qualquer vinculação com Deus, e serviria para demonstrar sua frustração em não ter encontrado o bóson de Higgs. No entanto, Lederman foi convencido a aceitar a mudança por razões comerciais.
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