Reflexões sobre a Educação no Brasil

Faz um tempo que escrevi algumas Reflexões sobre a Ciência no Brasil e agora vou falar sobre a educação. Muito se fala que falta educação no país ou na geração posterior à que está reclamando, mas deve-se observar muito bem qual educação está se falando: educação moral, aprendida com a família, ou técnica, aprendida em cursos? E da mesma forma que “você não está apenas preso no trânsito” mas você também está “fazendo” trânsito, você está incluído no processo educacional de um povo, direta e indiretamente.

Apesar das promessas do século XX em que a tecnologia nos faria poupar nosso tempo para coisas mais importantes do que o trabalho, temos cada vez menos tempo – veja o artigo “Educação financeira e administrando o tempo” para ver algumas dicas desses assuntos. Muitas pessoas acabam delegando parte da educação moral dos filhos para terceiros, como a escola ou igreja, esquecendo a função da família na sociedade.

Charge da Alemanha e Brasil, após a derrota brasileira de 7 a 1 e eliminação na Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
Charge da Alemanha e Brasil, após a derrota brasileira de 7 a 1 e eliminação na Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

Caso veja algo errado na sociedade, muitas vezes não é bom se omitir dizendo que “não é culpa sua” ou “não é obrigação sua”, afinal vivemos em sociedade, que deve ser encarada como um COLETIVO de pessoas e não como um AMONTOADO DE INDIVÍDUOS. Existem aldeias indígenas em que o filho não é tratado com responsabilidade dos pais e sim de toda a aldeia.

Muitas vezes é falado em “aumentar carga horária”, “lugar de criança é na escola”, etc, como se “jogar” os filhos e outras crianças na escola resolve qualquer problema. O que acontece lá dentro é muito importante, não basta estar de corpo presente. Principalmente a educação de base, com as crianças mais novas. Muito do que acontece com a criança acaba marcando sua vida para sempre, seja coisa boa ou coisa ruim. E criança aprende rápido, sejam coisas boas ou ruins.

Sala de aula em Hiroshima, no Japão, alguns meses após ser atingida por uma bomba atômica.
Sala de aula em Hiroshima, no Japão, alguns meses após ser atingida por uma bomba atômica. Fonte: Corbis Images

A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) divulgada em 2014 pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que controlar a bagunça e pedir silêncio aos alunos consomem 20% das horas dos professores brasileiros em sala de aula. O desperdício de tempo dos docentes no País é o maior em uma lista de 32 nações – a média internacional de perdas por indisciplina é de 13%. Contando com o tempo gasto em tarefas administrativas (12%), o professor gasta ao menos 40% das horas em sala com tarefas que não são de ensino.

Esse problema muitas vezes aparece quando tem muitos alunos para cada professor, o que desfavorece o cuidado com as dificuldades individuais de cada aluno. Um ambiente com muitas pessoas estimula o anonimato e comportamentos que só ocorrem quando ocultos ou fortalecidos pelo grupo (por exemplo, brigas de torcidas de futebol ou confrontos em manifestações ou mesmo conversas em sala de aula).

A cultura da televisão também influencia o comportamento das pessoas. Note que muitas vezes a TV fica ligada mas as pessoas conversam durante a programação, o que acaba acontecendo dentro do cinema ou na sala de aula com frequência cada vez maior. A atenção das pessoas também diminui a cada 15 minutos, que é o tempo de um bloco de programação na TV separado por intervalos comerciais. Existem informações importantes que são dadas nas escolas, ao contrário dos que se dizem adeptos da atitude “I’m too cool for school“. Dê uma olhada no vídeo a seguir, retratando como a desinformação pode afetar sua vida, mostrando o que acontece com oum grupo que está “matando aula” para ir à praia:

Mesmo conteúdos de matemática que nunca mais forem usados pelos estudantes são fundamentais para formar o raciocínio lógico e abstrato do indivíduo. Esses tipos de raciocínio são muito procurado em empresas, pois ajudam a resolver muitos problemas, e também auxiliam o aluno a resolver seus próprios problemas no presente e futuro. Conexões neurais podem se formar das maneiras mais imprevisíveis para formar grandes descobertas ou resolver problemas do dia a dia. Veja mais sobre o aprendizado no artigo “Dicas de estudo“.

“E o salário, ó ><“
Professor Raimundo (interpretado pelo comediante Chico Anysio)

O salário de um profissional acaba refletindo em seu status social e valorização da profissão. Por exemplo, o que você diria ao conhecer alguém que fosse piloto de avião, gerente de banco ou trabalhasse em alguma profissão que o salário fosse bom? E quanto a um professor? É comum ouvir “você também trabalha ou só dá aula?” Note que “dar aula” inconscientemente não é considerada uma profissão para a pessoa. Uma vez passou na televisão uma propaganda com pessoas de diferentes países dizendo “qual é a profissão mais importante para você?” e todos respondendo “o professor”. Se é realmente importante, deve ser pago um salário tão importante quanto é. Na Coreia do Sul, existem professores que são tratados como celebridades.

A pesquisa anteriormente citada também revelou que o professor brasileiro trabalha mais tempo do que os colegas estrangeiros. Em média, gasta 25 horas semanais em classe, 6 a mais do que a média internacional. Assim, tem pouco tempo para planejar as aulas e maior cansaço, diminuindo seu rendimento.

Veja mais discussão sobre o assunto na introdução do artigo “Jogando com a Ciência e o Curso de Informática para Inclusão Digital: Novos Olhares sobre a Ciência através do Computador

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