Qual a probabilidade de ser atingido por um raio?

Depende. “Now, the world don’t move to the beat of just one drum…” Mas tirando a brincadeira do meme que encerra bruscamente o assunto com uma resposta curta, existem vários fatores que influenciam na chance de um raio acontecer e cair em um determinado ponto.

"Lightning! Ask Your Questions Tonight (NASA, Marshall, 06/23/11)" por NASA's Marshall Space Flight Center, licenciada como CC BY-NC 2.0
Lightning! Ask Your Questions Tonight (NASA, Marshall, 06/23/11)” por NASA’s Marshall Space Flight Center, licenciada como CC BY-NC 2.0

Um evento de relâmpago nuvem-solo completo, conhecido como “flash”, consiste em um ou mais “strokes” de retorno: pulsos de corrente de pico de alta amplitude (dezenas a centenas de milhares de amperes), cada um durando algumas centenas de microssegundos. O número médio de strokes (multiplicidade) por relâmpago negativo (o tipo mais comum de relâmpago, que vai da nuvem para a terra) está entre três e quatro. Em um determinado relâmpago, strokes de retorno consecutivos podem atingir o solo a vários metros um do outro, ou a uma distância de até 8 km. Veja mais sobre a formação dos rios e curiosidades no post Raios e trovões!

Taxas de densidade de raios

Devido ao seu grande território em porção tropical, o Brasil é o país recordista em número de raios. No entanto, existem regiões da África equatorial e Caribe que possuem maior densidade de raios (número de raios por quilômetro quadrado). A maioria dos raios que ocorrem são na altura das nuvens e não atingem o solo. São 77,8 milhões de descargas no solo a cada ano somente no Brasil. Além das mortes, os prejuízos materiais chegam à casa do bilhão de reais.

Uma forma bem genérica de calcular a probabilidade de uma pessoa ser atingida por um raio é dividindo o número de ocorrências, no caso, de pessoas atingidas por raios, pelo número de habitantes, considerando que as duas medidas correspondem ao mesmo período e mesma área.

O ELAT (Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE) afirma que por volta de 300 pessoas são atingidas por raios por ano no Brasil, sendo que 110 destas morrem (média entre os anos de 2000-2019). Estima-se que o Brasil possua 210 milhões de habitantes. Assim, a probabilidade seria de 1,4 em 1 milhão.

No entanto, isso é influenciado fortemente pela região do Brasil em que você está. O levantamento mostra que o Sudeste concentra o maior número de casos (26%) e que a maior parte das mortes (67%) acontece no verão e na primavera. Existem estados e municípios que estão mais sujeitos a tempestades severas com descargas atmosféricas do que outras. Assim, a população de cada estado/município e as respectivas taxas de densidade de relâmpagos nuvem-solo são importantes nessa análise.

O ELAT possui um ranking de concentração de raios nas cidades do Brasil. Durante o período 2016-2019, São Caetano do Sul tem o primeiro lugar no ranking de densidade estadual, com quase 21 descargas por km²/ano. Outras cidades da Grande São Paulo lideram o ranking, com taxas acima de 10 descargas por km²/ano. Isso acontece devido à intensa urbanização, que promove a ilha de calor, e proximidade com o oceano, que traz umidade. Por ser um cálculo de densidade, a área do município acaba tendo um peso no cálculo também.

Área atrativa

Se a superfície da Terra abaixo de uma nuvem de tempestade fosse perfeitamente plana, poderia-se esperar que um raio atingisse qualquer ponto da Terra com igual probabilidade. Por exemplo, se uma área de 0,1 km² experimenta uma densidade de flash no solo de 1 flash por km² por ano, a probabilidade de ser atingido é de 0,1 em qualquer ano (uma frequência de retorno de 10 anos por flash).

No entanto, um objeto condutor que é mais alto do que a área circundante exibe uma área atrativa de relâmpagos maior do que a área da superfície do solo que ocupa. A probabilidade de ser atingido é uma função de sua área de superfície do solo, altura e distância de impacto entre a ponta do líder escalonado que se move para baixo e o objeto. Para relâmpagos negativos, o líder escalonado é um canal carregado negativamente que viaja em saltos discretos da nuvem para a Terra.

Assim, a probabilidade de um raio atingir um determinado objeto situado no solo é encontrada multiplicando-se a área atrativa do objeto pela densidade local do relâmpago no solo (raios atingem o solo por km² por ano).

Tempo de exposição e grau de perigo do lugar

Quanto maior o tempo de exposição ao perigo, maior a probabilidade de ser atingido. Além disso, o tipo de lugar em que o indivíduo está também conta. O risco aumenta 2,5 vezes se o indivíduo estiver em uma área descampada durante uma tempestade típica, que produz cerca de três raios por minuto. Já durante uma tempestade mais forte, com 30 raios por minuto, a probabilidade é de um em 1 mil.

As principais circunstâncias em que as fatalidades acontecem estão ligadas ao agronegócio (26%) e estar dentro de casa próximo à rede elétrica ou hidráulica (21%). Também estão na lista atividades na água ou próximo a praias, rios ou piscinas (9%), embaixo de árvores (9%), em áreas cobertas que protegem da chuva, mas não dos raios (8%), em áreas descampadas (7%), próximo a veículos ou em veículo abertos (6%), em rodovias, estradas ou ruas, sem estar dentro de veículos (4%), próximo a cercas, varal ou similares (4%) e outros casos (6%). Não há registro de fatalidade dentro de veículos fechados.

Outras considerações

Segundo o Inpe, a probabilidade de uma pessoa morrer atingida por raio no Brasil ao longo de sua vida é de uma em 25 mil, em média. É mais fácil do que ser mordido por um cachorro (uma em 100 mil). Curioso notar que muitas pessoas consideram uma probabilidade muito baixa, mas fazem apostas na Mega Sena, em que a probabilidade de ganhar é de 1 em 50 milhões, ou na Quina, que é 1 em 24 milhões.

A grande maioria dos atingidos por raios são do sexo masculino: 82% no Brasil e 81% nos EUA. “Os homens correm mais riscos em tempestades com raios”, diz John Jensenius, especialista em segurança contra raios do Serviço Meteorológico Nacional dos EUA (NLSI).

Em 1940, as chances de um americano morrer ao ser atingido por um raio eram cerca de 1 em 400 mil. Hoje, a possibilidade é de apenas 1 em 11 milhões (ou seja, 30 vezes menor). Parte disso reflete mudanças nos padrões de vida (mais pessoas trabalham em ambientes fechados na maior parte do tempo) e o aperfeiçoamento da tecnologia de comunicação e da assistência médica, mas houve também melhora na previsão do tempo e monitoramento de tempestades. A educação pública nas formas de prevenir a exposição aos raios permitem salvar vidas. Veja as principais dicas de proteção no caso de tempestades no fim do post do link.

Fontes

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