Jardins de chuva

Um jardim de chuva é construído como um jardim alagável por ser rebaixado com relação ao seu redor, que recebe e retém a água da chuva, filtrando a água que chega do piso próximo ou de telhados. Ele permite que a água da chuva se fixe ao solo, por meio de mudanças em inclinações no terreno e plantio de diversas espécies de plantas. Também alimenta o lençol freático, irriga as plantas e árvores, poupa água, aumenta a umidade do ar por meio da transpiração das plantas, diminui ilhas de calor e ainda ajuda a combater enchentes.

Jardim de chuva (rain garden). Fonte: State College Pennsylvania
Jardim de chuva (rain garden). Fonte: State College Pennsylvania Government

Desde o final de 2019, algumas subprefeituras do município de São Paulo vêm promovendo a construção dos jardins de chuva em vias públicas. Começaram dentro do Programa Gentileza Urbana, da Subprefeitura Sé, coordenado pelo arquiteto paisagista Andre Graziano, o Biólogo Rodrigo Soares da Silva e a Jornalista Caroline Ribeiro do Prado. Posteriormente, foi sendo desenvolvido por outras subprefeituras.

Como é a construído o jardim de chuva? O asfalto/concreto da área do jardim é removido e uma área é escavada com cerca de 1,20 m de profundidade. Esse volume é preenchido com entulho reciclado/rachão, de modo a ajudar a reter as águas pluviais e aumentar o tempo de atraso da infiltração, contribuindo com o sistema de microdrenagem da cidade. Sobre esse material poroso, é recolocada a terra, com composto orgânico produzido por um pátio de compostagem. A água da chuva deve atingir a área diretamente por cima ou pelas laterais, através de guias de chapéu. Para mais informações sobre como fazer um jardim de chuva, veja o link da Funverde.

Esquema de jardim de chuva. Fonte: Conexão Planeta
Esquema de jardim de chuva. Fonte: Conexão Planeta

É importante escolher uma vegetação nativa, que suporte receber água irregularmente ao longo do ano. Desta forma, o canteiro se torna autossustentável e não precisa de rega. Cobrir o canteiro com pedra ou madeira ajuda a manter a umidade do solo e evita que a terra seja levada pela água durante as enxurradas. Dessa forma, as árvores crescem mais saudáveis e resistentes, com menos chance de serem atacadas por cupins e outras pragas.

As mudas, como árvores, arbustos e forrações, utilizadas pela Prefeitura são predominantemente nativas. Já foram plantadas vedélias, grama-amendoim, agapantos brancos e azuis, grama-esmeralda, capim-do-texas verde e rubro, cordylines, ruélias roxas, biris vermelhos e amarelos, pau d’água; e variadas espécies arbóreas nativas como: de ipês roxo, branco e amarelo-do-brejo, mirindibas, dedaleiras, alecrim-de-campinas, jerivás, araçás amarelos e roxos, coração-de-negro, sangra d’agua e paineiras.

Jardim de chuva na rua das Uvaias (Saúde): calêndulas (malmequer), fórmios, cana-do-brejo e outras plantas típicas de terras alagadas. Foto: ViniRoger
Jardim de chuva na rua das Uvaias (Saúde): calêndulas (malmequer), fórmios, cana-do-brejo e outras plantas típicas de terras alagadas. Foto: ViniRoger

Em 2020, foi inaugurado o da Rua Major Natanael, então o maior sistema de jardins de chuva do Brasil, congregando 11 jardins dispostos em pontos específicos deste eixo, com mais de 2.700 m² de área verde. Quando chove bastante, a água empoça em pequenos “laguinhos” nos pontos mais baixos. A natureza responde, servindo de abrigo para girinos, borboletas, periquitos e outros animais.

Em outro jardim de chuva, construído no Grajaú, é possível observar uma viela por onde a água escorre em etapas, perdendo velocidade e sendo filtrada para descer no solo – acompanhe no vídeo do SPTV linkado aqui. Nesse caso, foiuma iniciativa de um coletivo da comunidade com parceria da Prefeitura. A Subprefeitura de Vila Mariana também já instalou outros jardins de chuva – veja mais na notícia Vila Mariana tem jardins de chuva.

O homem que plantava água

Um africano chamado Zephaniah Phiri Maseko vivia em uma região semiárida do Zimbábue e tinha 7 acres de terra. Agricultor, passou a observar mais atentamente como a chuva escorria em seu terreno e para onde ia a água. Com isso, começou a perceber que em algumas áreas o cultivo de alimentos não funcionava porque a água não infiltrava o solo e em outros a água acabava empossando ou causando erosões.

O seu sítio fica nas encostas de uma colina, voltado para NNE. No topo da colina há um afloramento grande de granito onde a água das enxurradas escorre livremente. A precipitação anual media é de 570 mm, mas baseada em extremos. Muitos anos são de seca, quando a terra tem sorte se receber 270 mm de chuva.

Para ter um melhor aproveitamento no uso do solo, começou a manejar estes locais. Construiu pequenas barragens, buracos e caminhos, aproveitando a ação da gravidade para organizar o fluxo de água na superfície, descendo com menos velocidade. Ele também contou com a ajuda da própria vegetação, que também contribuía para o manejo de água – os poços de seu terreno passaram a ficar sempre cheios.

Terreno de Phiri com jardins de chuva. Fonte: Iesambi
Terreno de Phiri com jardins de chuva. Fonte: Iesambi

Quando a água infiltrou no terreno de Phiri, o próprio solo se tornou o “tanque” de água, com a vantagem de evaporar mais lentamente. Também plantou espécies que precisavam de mais água nos locais mais fundos, para onde a água corria, e nos locais mais elevados (que recebiam pouca água), ele plantava as que necessitavam de pouca água.

Phiri tornou-se uma referência para a comunidade local e ganhou o mundo através da ONG Zvishavane Water Project para compartilhar suas práticas e mantendo-as vivas mesmo após seu falecimento em 2015.

Uma cidade no deserto dos EUA

Tucson é uma cidade do estado norte-americano do Arizona e fica em pleno deserto. Dificilmente chove, e quando isso ocorre, o solo não retém a água e logo fica tudo seco novamente. O permacultor Brad Lancaster, após conhecer Phiri, começou a aplicar os conceitos em sua própria residência.

De início, Lancaster observou que a chuva corria seu terreno e ia para a rua, então começou a construir algumas valas circulares mais profundas em torno da casa com vegetação para absorver a água da chuva. Então outros vizinhos começaram a fazer o mesmo. A vegetação voltou, junto com pássaros, e a sombra diminui a temperatura de deserto em até 6°C. As pessoas começaram a sair mais às ruas, andar de bicicleta, e, como consequência, houve uma queda nos índices de criminalidade na região.

Jardim de chuva em Tulsa. Fonte: Rainwater Harvesting
Jardim de chuva em Tulsa. Fonte: Rainwater Harvesting

Depois, os moradores também perceberam que quando chovia bastante, a rua fluía como um grande rio, mas a água era toda desperdiçada indo para os bueiros. Então eles começaram a cortar o meio fio e fazer entradas nas calçadas, como bolsões de água. As ruas se tornar grandes corredores de espécies nativas, com frutíferas e fauna, irrigadas apenas com a chuva, e ajudou também a controlar as inundações.

Fontes

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