Gota fria deixa aguaceiros e trovoadas em Portugal

O título desse post é parte do título de uma notícia do site tempo.pt (da Meteored) e que serve para mostra um pouco das diferenças do português do Brasil e de Portugal – veja mais no post do link para uma visão mais geral, aqui serão abordados termos mais técnicos. Além disso, essa é uma oportunidade para entender um pouco da meteorologia lusitana.

Gota fria no nível de 500 hPa 12h00 UTC. Fonte: Meteored com dados do ECMWF
Gota fria no nível de 500 hPa 12h00 UTC. Fonte: Meteored com dados do ECMWF

Termos de Meteorologia

A notícia mencionada no início do post trata da previsão do tempo para Portugal entre os dias 13 e 18 de feveriro de 2024. Basicamente, começa com o aumento de nebulosidade, chuvas fracas e pontualmente moderadas, aumento de temperaturas e transporte de poeira do Saara. Posteriormente, o tempo se tornaria “instável e favorável à ocorrência de aguaceiros e trovoadas”, que poderiam ocorrer praticamente em qualquer zona de Portugal continental, além de uma pequena descida das temperaturas.

O termo aguaceiro também é usado no Brasil, indicando chuva forte e passageira. A palavra trovoadas está relacionado ao estrondo provocado por um raio – afinal, o trovão é uma onda sonora gerada pelo aquecimento brusco do ar durante uma descarga elétrica. Apesar de remeter somente a um dos elementos de uma tempestade, “trovoada” também é usado para se referir ao temporal como um todo.

O panorama que produziria esse cenário foi descrito da seguinte forma para o dia 15: “um vale depressionário deslocar-se-á sobre a metade ocidental da Península Ibérica e no seu interior formar-se-á uma pequena depressão isolada em altitude (ou gota fria), que se localizará verticalmente sobre o extremo sul de Portugal continental e Espanha”.

Uma depressão (“vale depressionário”) refere-se a uma região da atmosfera onde a pressão do ar é relativamente baixa em comparação com as áreas circundantes. O ar tende a fluir em direção a uma depressão, resultando em levantamento de parcelas de ar e condições de tempo instável, como chuvas, nuvens e ventos. O termo “isolada” indica que essa depressão está separada de outros sistemas meteorológicos maiores e mais organizados, como sistemas frontais ou outras depressões. A característica “em altitude” relaciona-se a níveis mais altos da atmosfera.

Assim, “gota fria” é uma depressão isolada em altitude. Ela atua como uma “piscina” de ar de baixa pressão que se forma em uma parte específica da atmosfera mais alta. Essa “piscina” pode afetar o padrão de circulação do ar e influenciar o tempo em áreas abaixo dela, mesmo que não esteja associada a nenhum sistema meteorológico maior. O comportamento errático das depressões isoladas em altitude clama sempre por prudência quanto à sua extensão e às condições meteorológicas que podem provocar.

A notícia ainda comentou sobre a elevada probabilidade do “fenómeno chuva de lama“, pois a intrusão de poeiras do Saara coincidiria com a chegada da depressão isolada em altitude. Apesar da descida térmica, as temperaturas continuariam a ser superiores ao normal para esta época do ano, vivendo-se uma atmosfera primaveril.

No dia 16, a pequena gota fria afastar-se-ia para o norte da Argélia, pelo que a crista de ar quente voltará a assumir a sua posição sobre Portugal continental. Para o fim de semana, antecipava-se um domínio do anticiclone, que deixaria nevoeiro matinal em locais do interior Norte e Centro. Previa-se também uma maior amplitude térmica nos dias 17 e 18 de fevereiro.

Dentre os sistemas meteorológicos e climáticos de maior dimensão que influenciam as condições do tempo ao longo do ano em Portugal, os mais importantes incluem:

  • Ciclones Extratropicais do Atlântico: Durante o outono e o inverno, os ciclones extratropicais provenientes do Atlântico Norte podem trazer chuvas intensas e ventos fortes para todo o país. Esses sistemas são especialmente comuns nas regiões costeiras e no Norte e Centro de Portugal.
  • Anticiclones do Atlântico: No verão, os anticiclones do Atlântico podem estender-se até Portugal, trazendo tempo quente e seco. Eles são mais frequentes no sul do país e podem causar ondas de calor, especialmente nas regiões do Alentejo e Algarve – inclusive, essas regiões vêm enfrentando uma seca meteorológica.
  • Depressões do Mediterrâneo: No inverno, as depressões que se formam no Mediterrâneo podem afetar principalmente as regiões do sul de Portugal, trazendo chuvas intensas e, por vezes, trovoadas. Esses sistemas podem causar inundações repentinas, especialmente no Algarve.
  • Massas de Ar Polar: Durante o inverno, as massas de ar polar podem descer até Portugal, trazendo temperaturas baixas e, por vezes, neve nas regiões mais elevadas do Norte e Centro do país, como na Serra da Estrela.

Além dos sistemas atmosféricos, as correntes oceânicas, como a Corrente do Golfo, têm um grande impacto no clima de Portugal, especialmente nas regiões costeiras do Norte e Centro, influenciando as temperaturas da água e do ar ao longo do ano.

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