Carl Sagan

Carl Sagan (1934-1996) foi um cientista, astrobiólogo, astrônomo, astrofísico, cosmólogo, escritor e divulgador científico norte-americano. Autor de mais de 600 publicações científicas e mais de 20 livros de ciência e ficção científica, foi um grande defensor do ceticismo e do uso do método científico e promoveu a busca por inteligência extraterrestre. Vamos falar de algumas de suas obras a seguir: Cosmos, Contato, O mundo assombrado pelos demônios e Pálido ponto azul.

Carl Sagan no Very Large Array, um observatório de radioastronomia composto de 27 antenas (New Mexico, EUA; Crédito: Cosmos/Discovery) e disco de ouro da Voyager (frente e verso)
Carl Sagan no Very Large Array, um observatório de radioastronomia composto de 27 antenas (New Mexico, EUA; Crédito: Cosmos/Discovery) e disco de ouro da Voyager (frente e verso)

Sagan concebeu a ideia de incluir junto as naves espaciais que fossem abandonar o Sistema Solar, uma mensagem universal que pudesse ser potencialmente compreensível por qualquer inteligência extraterrestre que a encontrasse. Uma placa anodizada foi acoplada a sonda espacial Pioneer 10, lançada em 1972, e na Pioneer 2, lançada no ano seguinte. A mensagem mais elaborada que ajudou a desenvolver e preparar foi o Disco de Ouro da Voyager, que foi enviada pelas sondas espaciais Voyager em 1977. Esse disco contém 115 imagens (de paisagens, seres humanos, objetos e meios de transporte), vários sons naturais (como o registro sonoro de trovões, vento, ondas do mar, e cantos de pássaros e baleias), saudações faladas em 55 línguas e músicas de Bach, Beethoven, Stravinsky, Mozart e Chuck Berry (Johnny B. Goode).

Cosmos: Uma Viagem Pessoal

Co-escreveu, narrou e atuou na premiada série televisiva de 1980, que contou com um livro publicado para complementar a série. Filmado ao longo de três anos, em quarenta locais de doze países, a série Cosmos abriu a janela do Universo a mais de 500 milhões de pessoas. O segredo desta série de treze horas foi o talento de comunicador e a personalidade carismática de Sagan, capaz de desmitificar o que até então fora informação científica inacessível. A versão escrita deste programa continua a ser o livro de divulgação científica mais vendido da história. Veja a série completa de 13 episódios nessa playlist do youtube: Série Cosmos.

“Sabemos, pelo registro fóssil, que a vida surgiu logo depois da formação da Terra, sugerindo que a origem da vida pode ser um processo químico inevitável em incontáveis planetas, como a Terra, através do cosmo. Mas na Terra, em quase quatro bilhões de anos, a vida não avançou além das algas. Então, talvez formas mais complexas de vida sejam mais difíceis de evoluir; mais difíceis do que a própria origem da vida. Se isso está certo, os planetas da galáxia podem estar cheios de microrganismos, mas grandes animais, vegetais e seres pensantes podem ser comparativamente raros.”

Uma comparação interessante feita na série é que se toda a história do universo pudesse ser comprimida em um único ano, os seres humanos teriam surgido na Terra há apenas sete minutos. Se pudéssemos condensar todo o tempo geológico em uma semana, a vida teria começado no segundo dia, os dinossauros seriam os vertebrados dominantes no quinto dia, os mamíferos se tornariam os principais vertebrados às 19 horas do sétimo dia, e o homem surgiria somente nos 30 segundos finais da semana.

Contato

Em 1985, Sagan escreveu uma história de ficção científica sobre um contato com uma civilização extraterrestre. Serviu de base para um filme homônimo de 1997, dirigido por Robert Zemeckis. Jodie Foster interpreta a protagonista do filme, a Dra. Eleanor “Ellie” Arroway, uma cientista da SETI que encontra fortes evidências da existência de vida extraterrestre e é escolhida para realizar o primeiro contato. O livro é dividido em três partes: recepção de uma mensagem de seres inteligentes vinda da estrela de Vega, a construção de uma máquina projetada pelos seres extreterrenos, e a viagem que Ellie e mais quatro tripulantes fazem ao centro da galáxia.

A história mostra que contato com extraterrestres não é sinônimo de homenzinhos verdes desembarcando de um disco voador. A obra traz pertinentes reflexões sobre a ciência e a religião, os caminhos que o ser humano está tomando como espécie e as pesquisas em busca de inteligência extraterrestre.

Ellie Arroway, agnóstica como Carl Sagan, tornou-se diretora do radiotelescópio de Arecibo. Surpreendentemente, em um dia qualquer, sinais composto de números primos começam a vir da estrela de Vega. Acredita-se que só podiam ser produzidos por outra civilização inteligente. Além disso, em uma modulação diferente eles descobriram que existia uma transmissão de televisão terrestre, o que seria uma mensagem do tipo “Hey, vocês estão transmitindo ondas de rádio, vamos mandar pra vocês a primeira de sua transmissão televisiva para verem que atendemos a chamada”.

Por fim, em outra modulação continha OUTRA mensagem, que era um manual para a construção de uma máquina. E se ela fosse um cavalo de troia? Ou uma máquina do juízo final? Começava a surgir um sentimento de unificação, que éramos um planeta. Estados Unidos e Rússia diminuíram os arsenais nucleares, mas ao mesmo tempo, religiões surgiam, e outras estavam tentando se adequar a nova realidade. A máquina foi construída. Eles chegam até o centro galáctico, onde existem muitos atracadouros de naves, e a nossa era apenas mais uma. Logo que eles saíram da máquina havia uma praia idêntica a uma tropical da Terra, mas tudo não passava de uma simulação. Cada um dos tripulantes encontrou alguém que amava muito, simulados também. Os seres extreterrenos: eles estavam falando pelas simulações humanas. Ellie pergunta várias coisas, como sobre o sistema de transporte deles, o que achavam da espécie humana e como eram seus mitos e religiões.

Logo depois eles voltaram à Terra e todas as fotos que eles tiraram foram apagadas (ou nem gravadas). Para a Terra, não se passará mais do que alguns minutos e, sem nenhuma prova, ninguém acreditou no que os tripulantes tinham visto, e foram obrigados a esquecer tudo. O governo cancelou a construção da máquina e obrigou que todos eles mantivessem silêncio. Em um ato de piedade presidencial (dos EUA), Ellie tem a permissão de voltar a trabalhar no radiotelescópio de Arecibo, e quem sabe, conseguir provas. A história deixa muita discussão de se realmente a viagem ocorreu ou não.

No fim, foi descoberto a “assinatura do criador”: o número π, depois de muitos números aleatórios, chegava-se a uma sequência binária de zeros e uns onde havia claramente um círculo. A prova de que o universo foi construído por algum criador, que julgava que seres inteligentes, em qualquer parte do universo, descobririam sua assinatura dividindo a circunferência de um círculo pelo seu diâmetro.

O Mundo Assombrado Pelos Demônios: A Ciência vista como uma vela no escuro

O livro, de 1995, é uma defesa do método científico e ceticismo em troca da superstição e da pseudociência. Veja esse trecho em que Sagan fala sobre a importância de nos educarmos para questionar e pensar por conta própria:

“Conhecer o valor da liberdade de expressão e das outras liberdades garantidas pela Declaração de Direitos, saber o que acontece quando não temos esses direitos e aprender a exercê-los e protegê-los deveria ser um pré-requisito essencial para ser cidadão (…), ainda mais se esses direitos continuam desprotegidos. Se não podemos pensar por nós mesmos, se não estamos dispostos a questionar a autoridade, somos apenas massa de manobra nas mãos daqueles que detêm o poder. Mas, se os cidadãos são educados e formam as suas próprias opiniões, aqueles que detêm o poder trabalham para nós. Em todo país, deveríamos ensinar às nossas crianças o método científico e as razões para uma Declaração de Direitos. No mundo assombrado por demônios que habitamos em virtude de sermos humanos, talvez seja apenas isso o que se interpões entre nós e a escuridão circundante.”

No livro consta uma frase de Edmund Way Teale nessa linha, que diz “Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.” E não só pelo aspecto moral, mas também pelo poder que o conhecimento e sua utilização podem gerar. Antes da guerra civil dos EUA, no sul do país, quem ensinasse u escravo a ler era punido. Frederick Bayle escreveu, em 1828, que para criar um escravo “é necessário criá-lo estúpido. É necessário obscurecer sua visão moral e intelectual e, na medida do possível, aniquilar o poder da razão”.

Pelo parágrafo anterior, vê-se a importância da razão e do método científico ao formar opiniões. Sagan afirma que “se não praticarmos esses hábitos rigorosos de pensar, não podemos ter a esperança de solucionar os problemas verdadeiramente sérios com que nos defrontamos – e nos arriscam a nos tornar uma nação de patetas, um mundo de patetas, prontos para sermos passados para trás pelo primeiro charlatão que cruzar o nosso caminho”. Um exemplo: a ciência exige o mesmo nível de ceticismo que usamos ao comprar um carro usado ou julgar a qualidade de algum produto em que iremos investir algum dinheiro.

A ciência é uma forma de tentar compreender o mundo e controlar as coisas. A Microbiologia e a Meteorologia explicam coisas que jogariam pessoas na fogueira. Na última execução judicial de feiticeiras na Inglaterra, uma mulher e sua filha foram enforcadas por terem “provocado uma tempestade quando despiram suas meias”.

E como desenvolver esse espírito crítico, com método científico e razão? No capítulo 12, “A arte refinada de detectar mentiras”, descrevem-se as ferramentas e práticas, por exemplo: se há uma cadeia de argumentos, todos devem ser válidos (e não a maioria deles somente), e deve-se buscar sempre quantificar, para não ficar vago e suscetível de várias explicações. Também deve-se questionar a hipótese, se não é falsa (veja mais sobre falácias no artigo sobre Retórica e comportamento humano e no trecho abaixo, onde Sagan fala sobre “um dragão na minha garagem”).

Um assunto muito abordado no livro é o dos extraterrestres. Analisando-se de uma maneira mais crítica, observa-se que a origem das histórias de discos voadores começou a partir de uma descrição de um piloto em 1947 e mal interpretada por um jornal. E as famosas marcações em plantações e atribuídas por naves espaciais já foram desmentidas pelos ingleses que faziam as marcas nas plantações em 1991: Doug Bower e Dave Chorley. O livro também faz comparações do medo de rapto alienígena com o medo inato de monstros e criaturas que poderiam nos atacar quando estávamos nas cavernas.

“Cortar a ciência fundamental, movida pela curiosidade, é como comer a semente do trigo. Talvez tenhamos um pouco mais para nos alimentar no próximo inverno, mas o que plantaremos para que nós e nossos filhos tenhamos o suficiente para atravessar os invernos futuros?”

Pálido ponto azul

É um livro escrito em 1994, inspirado pela fotografia da Terra, a 6,4 bilhões de quilômetros de distância, mostrando-a como um pálido ponto azul. Nele, Sagan coloca em questão a necessidade de nós humanos entendermos a raridade de recursos propícios à vida, demonstrando o quão pequeno é o nosso lar em um universo infinito onde não passamos de herdeiros temporários do nosso pequeno mundo que por acidente adquiriram a capacidade de destruir o mesmo. Veja o famoso vídeo a respeito:

“Divulgar a ciência – tentar tornar os seus métodos e descobertas acessíveis aos que não são cientistas – é o passo que se segue natural e imediatamente. Não explicar a ciência me parece perverso. Quando alguém está apaixonado, quer contar para todo mundo. Este livro é um testemunho pessoal de meu caso de amor com a ciência, que já dura toda uma vida.”

Carl Sagan, no livro O Mundo Assombrado pelos Demônios

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