Astronomia amadora

Existem diferenças entre o entusiasta por astronomia, o astrônomo amador e o astrônomo profissional. O entusiasta é aquele que gosta de observar os astros, obter esporadicamente algum conhecimento superficial de Astronomia e conversar sobre o assunto. O astrônomo amador já faz um estudo mais sistemático, aprofundando-se em alguma área. Por fim, o astrônomo profissional desenvolve pesquisas e observações tendo formação específica e recebendo por isso (mesmo que seja através de bolsa).

Fotos tiradas através de telescópio (da esq. pra dir., sem escala): Vênus, Marte, Júpiter com a sombra de seu satélite Io, Saturno, cratera Copérnico na Lua e estrelas do aglomerado “Caixa de Jóias”. Fonte: Ednilson Oliveira

Apenas para você não se iludir, saiba que aquelas imagens que acompanham deslumbrante vistas em livros, internet e televisão de galáxias e planetas bem coloridos são impossíveis de ser captadas por telescópios. Imagens deste tipo são capturadas graças à longas exposições fotográficas onde uma mesma área do espaço é registrada por horas, dias e até mesmo meses, produzindo diversas cenas que são depois somadas. Geralmente são utilizados telescópios em observatórios que são verdadeiros prédios ou mesmo telescópios espaciais. O post sobre Observatórios astronômicos para visitar no Brasil conta com uma lista de lugares para observação dos astros e conversa com astrônomos, muitas vezes com palestras temáticas.

Observando eclipses

Um eclipse solar ocorre quando o Sol é oculto (total ou parcialmente) pela Lua, enquanto que no eclipse lunar é a Lua que fica oculta pela Terra – veja mais no post Movimentos da Lua. Nunca é bom olhar direto para o Sol. O método mais seguro de observação é por projeção. Para isso, você deve abrir um pequeno orifício (quanto menor, mais nítida a imagem) num pedaço de papelão e direcioná-lo para o Sol, de modo que a luz penetre no buraco e projete uma pequena imagem do eclipse num anteparo paralelo ao papelão.

Não se deve usar filmes fotográficos ou chapas de raio-x para olhar na direção do Sol. Nesse caso, use um vidro de máscara de solda de número 12 ou maior (este número representa a intensidade do filtro: quanto maior, melhor). Ele pode ser encontrado em lojas de ferragens e custa bem pouco. Com a cabeça baixa, coloque na frente dos olhos e suba a cabeça para poder olhar o Sol somente através do vidro e por no máximo 10 segundos direto. Depois, baixe a cabeça e tire a proteção.

Localizando os astros no céu

Para quem quer começar a se aventurar na Astronomia, o primeiro passo é aprender a localizar os astros na abóbada celeste. As constelações dividem o céu como se fosse um mapa. É comum localizar eventos como a passagem de um planeta, cometa ou a ocorrência de uma chuva de meteoros indicando a constelação para onde você deve observar. Falando em chuva de meteoros, o site Galeria do Meteorito tem algumas dicas para observação e o item “Efemérides” da USP de São Carlos tem as chuvas de meteoros previstas.

O site Heavens above permite personalizar a localização e horário (o link está para São Paulo/SP) e acesso livre a mapas celestes, tabelas de eclipses, passagens da Estação Espacial Internacional e muito mais.

O INAPE (Instituto de Astronomia e Pesquisa de Araçatuba-SP) disponibiliza um Atlas Celeste para consulta e impressão no site deles. Nele estão mapeadas as estrelas de magnitude até 3.5, ou seja, as estrelas mais brilhantes, as quais servirão de referência para a localização de outros astros. Quanto mais negativo o valor da magnitude, mais brilhante a estrela.

Você também pode gerar o mapa da abóboda celeste especialmente para o céu observado acima de onde você está. Para isso, entre no site Your Sky do Fourmilab, coloque a latitude/longitude no primeiro campo que aparecer e clique em “Make Sky Map”. Para obter os valores das coordenadas geográficas, basta abrir um Google Maps e clicar com o botão esquerdo sobre o ponto onde está.

O planisfério celeste é um mapa celeste gerado para certa data e hora, o que é ótimo para localizar um planeta ou outro astro errante, como um cometa. O site do Observatório Phoenix possui um arquivo disponível para baixar e imprimir, além de instruções básicas de sua utilização.

No entanto, a melhor ferramenta para apresentar os astros no céu é o Stellarium: um programa gratuito, livre e leve para instalação em qualquer computador e sistema operacional. Ele é, basicamente, um planetário na tela de seu computador, permitindo exibir todos os astros do céu conhecido em qualquer época e local, com marcações delimitando constelações de diferentes culturas. Existe também uma versão online do Stellarium no link – clique aqui para um breve tutorial do Stellarium web.

Para celular, uma excelente ferramenta para auxiliar no reconhecimento dos astros é o aplicativo Sky Map. Ele exibe os corpos celestes nomeados e os desenhos das constelações ao seu redor conforme a direção que você apontar o celular, através do sistema de geolocalização de seu aparelho. Se você deseja localizar um planeta ou um astro, digite o nome na busca e uma seta no centro da tela indica para onde você deve mover o aparelho. Quando encontrar o que procura, o aplicativo mostra o resultado dentro de um círculo.

Uma dica para começar a reconhecer as constelações é descobrir uma ou mais estrelas mais facilmente identificáveis e usá-las para encontrar outros grupos de estrelas do céu. Para encontrar o Cruzeiro do Sul, você pode recorrer a duas estrelas da constelação do Centauro, muito brilhantes, conhecidas como guardiãs da cruz. Elas estão sempre próximas do Cruzeiro do Sul, como se estivessem guardando a cruz e apontando sua direção: Alfa do Centauro e Beta do Centauro.

No céu de verão, encontre as “Três Marias”, que formam a cintura do caçador Órion. De um lado, uma estrela de brilho avermelhado é Betelgeuse, uma das maiores estrelas na nossa galáxia. Já no céu de inverno, comece localizando a estrela Antares (vermelha), que é o coração da constelação de Escorpião – para a esquerda, segue sua cauda. Planetas são mais extensos no céu e não cintilam como estrelas, a menos que estejam próximos do horizonte ou sejam observados sob uma atmosfera turbulenta/poluída.

Em astronomia de posição, a medida de distância é o grau. Toda a abóbada celeste (de um horizonte ao outro) tem 180 graus; do horizonte ao zênite (ponto mais elevado do céu, logo acima da nossa cabeça) tem a metade (90°). A Lua e o Sol possuem cerca de 0,5° (ou 30 minutos de arco, já que 0,5° = 30′). Para a maioria das pessoas, a relação entre a largura da mão e o comprimento do braço é um valor constante. Assim, com o braço estendido, um adulto pode obter uma estimativa de valores angulares usando partes de sua mão, conforme a figura a seguir:

Fonte: Zênite

Para aumentar seu conhecimento em Astronomia, o site Meteorópole apresenta uma série de livros no post Para começar a se aventurar como astrônomo amador. Procure também clubes de Astronomia na sua cidade (ou perto dela) e grupos de Facebook para interagir com outras pessoas que compartilhem do mesmo gosto por essa ciência.

Observando com mais detalhe – telescópio

Depois de passar alguns meses trabalhando com mapas do céu, chega a hora de comprar o seu primeiro equipamento. Pode ser um binóculo ou um telescópio simples (popularmente chamado de luneta, que utiliza um sistema de lentes).

O binóculo tem a vantagem de ter um campo de visão amplo e ser fácil de transportar. Além disso, devido ao caminho que os raios de luz fazem no telescópio, a imagem vista é invertida (fica de ponta-cabeça), o que não acontece com o binóculo. Sua especificação é basicamente informada por dois números gravados nele (8×50, por exemplo): o primeiro número é o poder de aumento e o segundo é o diâmetro da lente objetiva (frontal) em milímetros.

Luneta com buscadora, modelo mais em conta no mercado. Foto: Eliana Reis

Já o telescópio pode ficar apoiado no chão, permitindo acompanhar um astro por mais tempo, além de permitir diferentes aumentos da imagem. Sua função é recolher mais luz do que o olho humano. A abertura é o diâmetro da lente principal (geralmente igual à largura do tubo), que determina o brilho e a definição do que vai ser observado (ou seja, quanto mais largo, melhor). Um telescópio de 100 milímetros de abertura consegue “resolver” uma separação angular de apenas 1 segundo de arco, 120 vezes mais “colados” do que aqueles que conseguimos ver com nossos olhos.

O aumento é dado por um conjunto de lentes encaixado no telescópio, chamado ocular. A maioria dos telescópios vem com muitas oculares, e podem ser compradas separadamente. O aumento máximo permitido por um telescópio é o dobro da sua abertura – por exemplo, um telescópio de 60 milímetros de abertura proporciona no máximo 120 vezes de aumento.

A buscadora é uma luneta de pequeno aumento (3 a 8X) montada sobre a mesma base de alinhamento do telescópio principal, geralmente dotada de um retículo cujo centro indica o centro da imagem observada no telescópio principal. Ela serve para encontrar mais facilmente o astro no céu.

Existem três tipos básicos de telescópios: o refrator (com lentes), o refletor (com espelhos) e o catadióptrico (com lentes e espelhos). Os refratores produzem uma aberração cromática, isto é, a imagem não tem boa definição – afinal, cada cor de luz tem distância focal diferente. Já os refletores não produzem essa distorção, mas são mais caros. Veja mais no site do Planetário da UFSC e no site Apolo 11.

Como a Terra gira, existe um movimento aparente do céu. Ou seja, você pode montar o telescópio e fixar em uma estrela, mas em um minuto ou menos, ela não estará mais no campo de visão do telescópio. Para facilitar o acompanhamento do astro no céu, você pode montar o telescópio no chão de dois modos:

  • montagem equatorial: alinhada com o pólo celeste (ponto no céu ao redor do qual parece que todo o céu gira) no início de cada sessão de observação. No caso do hemisfério sul, o pólo sul celeste fica em uma linha reta no sentido do horizonte partindo abaixo da Constelação do Cruzeiro do Sul. Algumas montagens equatoriais vêm acompanhadas de um motorzinho, para seguir o movimentos das estrelas automaticamente.
  • montagem altazimutal: necessário manipular os dois controles ao mesmo tempo para acompanhar o movimento de uma estrela no céu.

A maioria dos telescópios possuem ajustes mais “grossos” para direcionar o telescópio e ajustes “finos” para seguir um astro manualmente.

Atualização: o episódio do Sicast sobre telescópios conta um pouco da história desse instrumento e chama atenção para pontos na hora de escolher um. Por exemplo, é mais importante comparar os tamanhos de espelho/lente (devido à quantidade de luz que pode captar) do que o aumento (proporcional à distância focal) que ele proporciona, assim como uma boa fixação, para evitar que a imagem fique tremendo constantemente.

Cuidado com a poluição luminosa

A escolha do lugar para fazer as observações é importante. A poluição luminosa (gerada pela luz da sua casa e do resto da cidade) atrapalha a observação. A luz projetada na horizontal e para as nuvens bloqueia a luz dos astros, ofuscando a visualização de astros maiores e impossibilitando ver os astros menores. Só de apagar a luz do recinto onde você está já melhora, mas muitas vezes é preciso sair da cidade para se observar melhor o céu.

Além disso, a turbulência atmosférica (ventos e deslocamentos erráticos de pequenas porções de ar) influenciam negativamente na observação. Em níveis inferiores da atmosfera, costuma estar mais turbulento em noites quentes e próximo a cidades.

Previsão de tempo – nuvens

Outro fator que atrapalha para observação do céu são as nuvens (não as interestelares, essas de água mesmo, próximas da superfície). O CPTEC/INPE (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) dispõe gratuitamente na internet uma previsão da cobertura de nuvens para os próximos 10 dias. Basta ir no site de previsão do tempo do CPTEC e fazer a busca da sua cidade. Depois, clique na aba “Meteograma” e observe o último gráfico – nesse link está o meteograma para São Paulo.

O Meteograma é um conjunto de gráficos de um determinado ponto da superfície terrestre com a previsão dos principais elementos meteorológicos. Cada elemento é identificado por um cabeçalho em vermelho que traz o nome da variável e a unidade de medida; as linhas pontilhadas na vertical indica o ponto de 00Z do dia (ou seja, meia-noite no fuso horário zero, que são 9 da noite no fuso de Brasília sem horário de verão); a linhas horizontais são a escala de cada elemento meteorológico que variam em função do tempo.

A cobertura de nuvens é dada pela fração do céu encoberto por nuvens (em porcentagem). Essa é a saída do modelo global. O modelo regional roda para algumas cidades e consegue dividir a previsão em nuvens altas, médias e baixas. Para isso, entre no link de previsão numérica do modelo ETA 5 km, escolha o estado e depois a cidade.

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