Um Guia para o Conhecimento Científico de Coisas Familiares

O livro “A Guide to the Scientific Knowledge of Things Familiar“, também conhecido como “Brewer’s Guide to Science“, foi escrito por Ebenezer Cobham Brewer (1810-1897) e apresenta explicações para fenômenos comuns. Publicado pela primeira vez no Reino Unido por volta de 1840, o livro é apresentado no estilo de perguntas e respotas, sendo muito popular em sua época.

O “Guide to Science” teve sua origem no hábito de Brewer de fazer e guardar notas de leituras. Elas eram guardadas em um estilo de perguntas e respostas, com um espaço para respostas quando forem obtidas. Brewer encadernou seu livro em um volume e publicou em 1840 ou 1841 ou 1847. Um total de 47 edições foram publicadas até 1905, sendo que as tiragens estavam entre as mais altas de qualquer livro científico publicado na segunda metade do século XIX. Até mesmo uma versão editada do livro foi feita por Robert Evans Peterson e publicada nos Estados Unidos em 1851, mais adequadas para alunos do país.

É uma obra interessante ao estudar a história do ensino e divulgação de ciências por mostrar uma mudança na garantia de credibilidade do que consta no livro. Brewer disse que consultou “os autores modernos mais aprovados” e apresentou acréscimos à “revisão de cavalheiros de reconhecida reputação por realizações científicas”. No entanto, respostas religiosas (em vez de científicas) são constantes para certas questões, particularmente respostas que inferem o desígnio divino.

Um exemplo da afirmação acima está no tópico sobre gelo. Teorias modernas de formação de gelo mostram que a maioria de suas propriedades incomuns resultam da ligação de hidrogênio entre moléculas de água vizinhas. À época, ainda não estava comprovada a existência de átomos da forma como concebemos atualmente. Brewer sugeriu que a razão pela qual o gelo é mais leve que a água, expandindo-se à medida que congela, é porque foi “sabiamente ordenado por Deus que a água deve ser uma exceção a uma regra muito geral” (p. 327).

Essa explicação dada pelo autor faz uso de uma falácia conhecida como “Deus das lacunas”. Nela, responde-se a questões ainda sem solução com explicações (muitas vezes sobrenaturais) que não podem ser averiguadas. Sendo sobrenaturais as respostas para as questões em aberto, provar-se-ia a existência de fatos que não podem ser entendidos pelo homem. Nessa falácia, ignora-se a realidade e apela-se para uma explicação irracional.

Esse tipo de abordagem é fruto de sua época. Ainda era forte a presença de clérigos e estruturas de ensino religioso envolvidas na produção de pesquisas em ciências naturais. Brewer foi ordenado diácono e depois padre e desejava fornecer uma estrutura religiosa para a ciência. Ele e muitos outros escritores científicos populares cristãos da época apresentaram temas religiosos e foram capazes de mantê-los relevantes para a ciência moderna na mente do público, mesmo após a publicação de “A Origem das Espécies” (Charles Darwin, 1859).

P. Qual é a coisa mais segura que uma pessoa pode fazer para evitar ferimentos causados por raios?
A. Ele deve colocar sua cama no meio do quarto, entregar-se aos cuidados de Deus e ir para a cama; lembrando que nosso Senhor disse: “Os próprios cabelos de sua cabeça estão todos contados”.
(p.19)

Grande parte dos conceitos abordados no livro atualmente apresentam definições mais precisas (ou mesmo diferentes) das apresentadas. Por isso sempre devemos ler as obras antigas com um espírito crítico mais atento.

P. Por que as nuvens caem em tempo chuvoso?
A. 1º – Porque são pesadas com vapor abundante e 2º – A densidade do ar sendo diminuída é capaz de fazer as nuvens subirem.
(p.315)

P. Por que um pôr do sol vermelho é uma indicação de um belo dia amanhã?
R. Porque os vapores da Terra não se condensam em nuvens, pelo frio do pôr-do-sol. Nosso Senhor referiu-se a este prognóstico com as seguintes palavras: “Quando é noite, dizeis que haverá bom tempo, porque o céu está vermelho” (Mt. 16:2)
(p. 133)

O livro está disponível gratuitamente para leitura eletrônica no link do Google Play Books, edição da qual foram marcadas as páginas de referência dos trechos citados/traduzidos.

A popularidade do “Brewer’s Guide to Science” permitiu que o autor reunisse material para seu Dicionário de Frases e Fábulas (“Dictionary of Phrase and Fable”, 1895), que continua sendo uma obra de referência clássica. Ele contém definições e explicações de muitas frases, alusões e figuras famosas, sejam históricas ou míticas.

Esse texto foi escrito com base no verbete “A Guide to the Scientific Knowledge of Things Familiar” da Wikipedia. Descobri sobre ele após ser citado nessa palestra.

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