Previsões de tempo e de fim de mundo

Em 1919, o professor da Universidade de Michigan e previsor de tempo Albert Porta dessa vez fez uma previsão diferente: a do fim do mundo. Basicamente, ele disse que uma conjunção de planetas ia gerar uma espécie de onda eletromagnética que ia fazer o sol explodir dia 17 de dezembro daquele ano. Apesar de parecer uma previsão científica, as evidências mostram que o método científico não era realmente usado.

Os jornais traziam esboços detalhados e manchetes apocalípticas sobre as previsões de Porta. Imagem: The Washington Times
Os jornais traziam esboços detalhados e manchetes apocalípticas sobre as previsões de Porta. Imagem: The Washington Times

Albert Porta nasceu Alberto Francisco Porta em 1853 na região italiana do Piemonte, e mais tarde estudou na Universidade de Turim, onde aprendeu arquitetura e engenharia civil. Essa experiência – e conexões com a Companhia de Jesus – acabou levando-o para a América Central depois que os líderes jesuítas o chamaram para ajudar a reconstruir e reforçar igrejas e pontes danificadas por terremotos.

Após emigrar para os EUA com mulher e filhos, em 1907 tornou-se professor de engenharia civil no Santa Clara College, uma pequena escola jesuíta só para homens, onde ensinava desenho mecânico, engenharia civil, arquitetura e geometria. Apesar de nunca ter se dedicado às disciplinas de astronomia ou meteorologia (como estudante ou professor), foi lá que ele descobriu o observatório do campus e os estudiosos treinados para explorar os céus e prever o clima.

Em 1913, Porta não era mais docente, mas os líderes do observatório de Santa Clara o contrataram por suas habilidades matemáticas. Especificamente, para trabalhar nos cálculos e determinar conexões eletromagnéticas entre manchas solares (explosões gasosas que irrompiam da superfície do sol) e planetas do sistema solar, visando determinar com precisão onde as explosões se originariam na superfície do sol.

O supervisor de Porta era o reverendo Jerome Sixtus Ricard, diretor do observatório e professor altamente conceituado por seu conhecimento do tempo. Ele era o “Padre das Chuvas” e acreditava que as manchas solares moldavam o clima da Terra. Sua publicação mensal, “The Sunspot”, era uma espécie de bíblia meteorológica para aqueles ao longo da costa do Pacífico. Suas previsões eram notavelmente precisas – e menos alarmistas do que as que viriam a ser feitas por Porta.

Porta pegou o pouco conhecimento que adquiriu no observatório e, depois de dois anos, partiu para estabelecer seu próprio serviço de previsão do tempo e terremotos. Ele alegou novos métodos para prever terremotos em uma região ansiosa ainda se recuperando do terremoto de 1906 que devastou San Francisco. E invocou o nome de Ricard para reforçar sua reputação ao mesmo tempo em que questionava a veracidade científica do trabalho do observatório de Santa Clara.

Segundo Ricard, “A previsão não é simplesmente uma questão de princípio abstrato, mas, sobretudo, de longa experiência, e tal experiência também, pois se fundamenta nos registros dos fatos naturais, mostrando como aplicar o princípio a um caso concreto. O Professor Porta não é, portanto, em nenhum sentido, uma duplicata do Observatório da Universidade de Santa Clara.”

Ricard também criticou Porta por não possuir nenhum equipamento científico, nem mesmo um telescópio. “Sem instrumentos de observação, ninguém é mais capaz de lançar, de forma inteligente e confiável, mesmo uma mera previsão geral do tempo para orientação de pessoas no mar, na terra ou no ar, do que uma tora pode voar.” Porta se baseava em um livreto do governo federal chamado “American Ephemeris and Nautical Almanac”, que publicava anualmente os movimentos da Terra, Sol, Lua e estrelas.

O professor Porta ganhou fama por meio do Oakland Tribune e da distribuição de suas previsões. Imagem: The Oakland Tribune
O professor Porta ganhou fama por meio do Oakland Tribune e da distribuição de suas previsões. Imagem: The Oakland Tribune

Apesar disso, as previsões meteorológicas de Porta agora estavam sendo impressas no jornal de San Jose e logo se espalhariam pelos jornais de todo o país. O jornal doméstico de Albert Porta era o Oakland Tribune, que distribuía os prognósticos originários de seu autodenominado Instituto delle Scienze Planetarie – o Instituto de Ciências Planetárias. Todos os meses, Porta entregava um boletim meteorológico para todo o país, região por região.

O mau tempo, ele acreditava, era causado por manchas solares, e as manchas solares eram o resultado de ondas eletromagnéticas geradas quando o sol se alinhava com um ou mais planetas vizinhos. Quanto mais planetas em linha direta com o sol, maiores seriam as manchas solares e as catástrofes resultantes na Terra: terremotos, gêiseres de lava, granizo, tornados, raios e inundações.

Portanto, quando Porta consultou o American Ephemeris, o que ele viu em dezembro de 1919 foi sinistro. Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno e Netuno se alinhariam em um lado do sol e no lado oposto estaria Urano. Este septeto, que ele batizou de Liga dos Planetas, criaria uma lança de energia que efetivamente perfuraria o sol.

“A mancha solar que aparecerá em 17 de dezembro de 1919 será uma vasta ferida no lado do Sol. Será uma explosão gigantesca de gases flamejantes, saltando centenas de milhares de quilômetros no espaço. Terá uma cratera grande o suficiente para engolir a Terra tanto quanto o Vesúvio poderia engolir uma bola de futebol.”

Quando um meteoro rasgou os céus do sudoeste de Michigan no final de novembro, os moradores ansiosos tinham certeza de que era um presságio: Albert Porta estava certo sobre as terríveis tempestades que viriam em dezembro.

O professor de astronomia na Universidade de Michigan, William J. Hussey, já dizia que Porta era uma fraude. O alinhamento dos planetas não representava nenhuma ameaça para a atmosfera da Terra. “É uma ocorrência perfeitamente natural e não deve ser encarada com medo ou credulidade”, disse Hussey aos repórteres. “O susto é do tipo que assustava as pessoas da idade das trevas a cada poucas semanas, mas não tem lugar em um mundo iluminado como o de hoje.”

Quando a data prevista chegou, o National Weather Bureau em Washington, DC, recebeu telefonemas e telegramas. Em Saratoga Springs, NY, Samuel Heaslip se preparou para enterrar sua esposa de 54 anos, Anna. Ela se matou no dia anterior, incapaz de enfrentar o fim do mundo.

À tarde e no dia seguinte, centenas de jornais escreveram, muitos com ironia firme, sobre a Terra continuando a girar. O Oakland Tribune cobriu o não-evento com tremendo eufemismo. “De um extremo ao outro da terra, as previsões do professor Porta foram divulgadas, mas ao longo do caminho foram muito distorcidas.” (Meses antes, o mesmo jornal havia provocado os leitores com “a previsão mais importante” de “a Terra cambaleando sob os golpes do magnetismo das manchas solares”.)

A assinatura do professor Porta (“notável cientista, sábio e arqueólogo”) continuou a aparecer nos jornais, mas em muito menos do que antes de sua previsão apocalíptica. Em dois anos, apenas o Oakland Tribune trazia suas previsões. Ele morreu em um dia de primavera em 1923, aos 70 anos, com o tempo bom e quente.

Esse texto é uma versão traduzida e resumida do texto original “Professor Porta’s predictions” da University of Michigan.

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