O asfalto da pista do aeroporto derreteu

Em 18 de julho de 2022, foram relatados danos no asfalto do Aeroporto de Luton e da base aérea de Brize Norton, próximos a Londres (Reino Unido). Esse foi mais um dos diversos problemas enfrentados na Europa ocasionados por uma onda de calor, quando os termômetros chegaram a marcar 36°C. Foram pelo menos mil mortes causadas por essa onda, segundo órgãos de saúde da Espanha e de Portugal, cujas temperaturas passaram de 40°C em certas regiões.

Equipe faz reparo em pista de pouso de aeroporto em Londres após calor danificar o asfalto. Foto: BBC via Reuters
Equipe faz reparo em pista de pouso de aeroporto em Londres após calor danificar o asfalto. Foto: BBC via Reuters

No aeroporto de Luton, pousos e decolagens foram interrompidos entre as 15 e 18 horas, desviando 14 voos. Segundo o aeroporto, a interrupção foi para permitir “um reparo essencial da pista depois que altas temperaturas da superfície fizeram com que uma pequena seção se levantasse”. Na base aérea de Brize Norton, a cerca de 120 km de Londres, a Força Aérea Real confirmou que estavam usando aeródromos alternativos depois que o site de notícias Sky News informou que o tempo quente havia derretido a pista.

Como o asfalto pode derreter?

O asfalto é um composto de hidrocarbonetos muito comum para pavimentos. Conforme a temperatura vai aumentando, sua viscosidade também cresce, ou seja, ele vai ficando cada vez mais mole. A deformação desse material acontece quando a temperatura passa de 50°C, o que pode ser facilmente atingido quando, além da alta temperatura do ar, o sol incide diretamente. Isso porque o asfalto é um material que absorve bastante o calor.

Em lugares quentes, como Dubai ou Rio de Janeiro, utiliza-se um asfalto cuja composição tolere temperaturas elevadas sem derreter. Para isso, aplica-se uma mistura de minerais mais densa (pedra, brita, areia e outros) conhecido como HR (sigla em inglês para “Hot Road Asphalt”) ou CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente) junto ao CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo). Assim, ele começa a sofrer deformações apenas com temperaturas acima de 80°C.

Marcas na pista aparecem distorcidas quando o asfalto começa a derreter devido à alta temperatura em Nova Délhi, em 27 de maio de 2015. Fonte: Harish Tyagi/EPA
Marcas na pista aparecem distorcidas quando o asfalto começa a derreter devido à alta temperatura em Nova Délhi, em 27 de maio de 2015. Fonte: Harish Tyagi/EPA

Em julho de 2018, na Austrália, uma rara combinação de fatores provocou o derretimento do pixe, lançado sobre o asfalto: a rodovia havia sido recapeada recentemente e, nos dias que se seguiram, a região registrou fortes chuvas, frio e muita umidade. Logo em seguida, as condições climáticas mudaram drasticamente, com muito sol e temperaturas elevadas. Tamanha variação térmica fez com que o asfalto não secasse e se acomodasse da maneira correta. Algumas fotos do fenômeno podem ser vistas nessa matéria.

Em vez do asfalto, existem pistas pavimentadas de aeroportos que usam concreto. No entanto, existem vantagens e desvantagens para ambos os materiais. O asfalto é um material mais fácil de trabalhar, o que diminui bastante o custo de construção, mas pode derreter em altíssimas temperaturas e exige mais manutenção. O concreto é muito mais durável do que o asfalto, porém mais caro. Ele não é tão flexível, por isso mesmo com juntas de dilatação pode rachar devido a grandes extremos de temperatura (especialmente frio) e muitas vibrações – já que ele não as absorve bem. Essas trincas no concreto podem evoluir para rachaduras que devem ser remendadas.

Na cidade de Fênix (Arizona), por exemplo, já não é tão atípico o registro de temperaturas de 43°C. Então é até que normal noticiarem que durante a primavera e o verão as pistas precisaram ser interditadas por conta do excesso de temperatura. Por isso, lá as pistas são feitas de concreto.

Além da questão do pavimento, altas temperaturas podem promover uma queda na performance de voo – tanto na aerodinâmica quanto na queima de combustível. A temperatura muito alta faz com que o ar fique menos denso. Quanto mais quente, mais pista o avião precisa correr para ganhar sustentação e menos peso pode carregar. Esse é um dos motivos que o transporte de carga é feito principalmente no período noturno.

Mudanças climáticas

O aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor ou de frio, secas ou chuvas intensas, já era previsto pela ciência e isso tende a ocorrer cada vez com mais intensidade e frequência em todo o mundo em decorrência do aquecimento global e mudanças climáticas. Pistas e estradas construídas sobre o permafrost (a camada perene de gelo de regiões muito frias) está derretendo ano após ano, fazendo com que o terreno ceda.

Boa parte desse aquecimento é causado pelo aumento na emissão de gases de efeito estufa, como na queima de combustíveis fósseis. Mesmo as produtoras de petróleo, que bancaram estudos questionando o aquecimento global por décadas, consideram seus efeitos. As construções de exploração marítima da Mobil, na década de 1990, tinham especificações como “por conta do aquecimento global, deve-se assumir um aumento no nível da água estimado em 0,5 m”. Ou seja, estavam considerando tão certo o aquecimento global que colocaram dinheiro para mitigar os efeitos sobre suas operações.

Assim, os aeroportos não devem ignorar as mudanças climáticas, fazendo-se necessário compreender os impactos e buscar a mitigação desses efeitos, sob pena de terem suas operações e infraestrutura cada vez mais afetados e custos cada vez maiores.

Fontes

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