Meteorologia na Bíblia

O distanciamento do céu e a importância dos fenômenos meteorológicos (mesmo que pouco compreendidos em alguns aspectos) levaram ao registro dos mesmos em diversas passagens da Bíblia. Seguem algumas passagens e suas interpretações, do ponto de vista cristão e meteorológico.

Provavelmente a mais famosa história bíblica relacionada à Meteorologia é o dilúvio. Em Gênesis (entre os capítulos 5 e 9), é mostrado o arrependimento de Deus em ter criado o homem, devido à maldade que este espalhara na terra. Assim, decide fazer um enorme dilúvio, fazendo desaparecer tudo que havia sido criado até então. No entanto, decide poupar Noé, por este ter agido bem, e lhe recomenda fazer uma arca de madeira para abrigar, junto com sua família, um casal de cada espécie existente.

“Daqui a sete dias farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites, e farei desaparecer da face da terra todos os seres vivos que fiz”

Gênesis 7:4

Após esse período de chuvas e alagamento, Noé soltou uma pomba, que retornou trazendo em seu bico uma folha nova de oliveira. Soube então que as águas tinham diminuído sobre a terra. Passado um tempo, desceram da arca e começaram a repovoar a terra, sob a benção de Deus em uma nova aliança:

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Jó e a sabedoria de Deus

O livro de Jó mostra que era um homem temente a Deus e o agradava, mas que passou pacientemente por várias tribulações, mantendo-se na fé em Deus. A mensagem é de que o homem só pode conhecer a sabedoria como Deus a revela:

“Quando ele determinou a força do vento e estabeleceu a medida exata para as águas, quando fez um decreto para a chuva e o caminho para a tempestade trovejante, ele olhou para a sabedoria e a avaliou; confirmou-a e a pôs à prova. Disse então ao homem: ‘No temor do Senhor está a sabedoria, e evitar o mal é ter entendimento’.”

Jó 28:25-28

Tem uma outra passagem (final do capítulo 36 e início do 37) com bastante informação meteorológica e que também serve como analogia para vários ensinamentos:

“Ele atrai as gotas de água, que se dissolvem e descem como chuva para os regatos; as nuvens as despejam em aguaceiros sobre a humanidade. Quem pode entender como ele estende as suas nuvens, como ele troveja desde o seu pavilhão? Observe como ele espalha os seus relâmpagos ao redor, iluminando até as profundezas do mar. É assim que ele governa as nações e lhes fornece grande fartura. Ele enche as mãos de relâmpagos e lhes determina o alvo que deverão atingir. Seu trovão anuncia a tempestade que está a caminho; até o gado a pressente.”

Jó 36:27-33

Aqui, Eliú ilustra a grandeza e o poder de Deus, particularmente para o Seu domínio do tempo (nuvens, trovão, neve, chuva, vento, etc.). Também compara os relâmpagos como a materialização da vontade divina sobre a terra. No capítulo seguinte, continua falando das maravilhas de Deus e seu infinito conhecimento:

“A voz de Deus troveja maravilhosamente; ele faz coisas grandiosas, acima do nosso entendimento. Ele diz à neve: ‘Caia sobre a terra’, e à chuva: ‘Seja um forte aguaceiro’. Ele paralisa o trabalho de cada homem, a fim de que todos os que ele criou conheçam a sua obra. Os animais vão para os seus esconderijos; e ficam nas suas tocas. A tempestade sai da sua câmara, e dos ventos vem o frio. O sopro de Deus produz gelo, e as vastas águas se congelam. Também carrega de umidade as nuvens, e entre elas espalha os seus relâmpagos. Ele as faz girar, circulando sobre a superfície de toda a terra, para fazerem tudo o que ele lhes ordenar. Ele traz as nuvens, ora para castigar os homens, ora para regar a sua terra e mostrar o seu amor. Escute isto, Jó; pare e reflita nas maravilhas de Deus. Acaso você sabe como Deus comanda as nuvens e faz brilhar os seus relâmpagos? Você sabe como ficam suspensas as nuvens, essas maravilhas daquele que tem perfeito conhecimento? Você, que em sua roupa desfalece de calor quando a terra fica amortecida sob o vento sul, pode ajudá-lo a estender os céus, duros como espelho de bronze?”

Jó 37:5-18

Interessante notar que as nuvens fazem tudo o que Deus lhes ordena, assim como as nuvens são uma expressão visual do estado atmosférico (estabilidade, turbulência, pressão, umidade, etc). Termina o texto perguntando justamente como as nuvens realizam seus movimentos e desenvolvimento e sobre a formação de raios. Também comenta sobre o vento sul (veja mais a frente).

O capítulo 38 do livro de Jó na Bíblia é um ponto crucial na narrativa, onde Deus responde a Jó após ele ter passado por uma série de sofrimentos e ter questionado a Deus sobre o motivo de seu sofrimento. Nesse capítulo, Deus começa a falar com Jó a partir de um tempestade (segundo a Nova Versão Internacional, na tradução Almeida Corrigida Fiel surge como um redemoinho) e faz uma série de perguntas retóricas poderosas para mostrar a Jó a sua limitação e insignificância diante da grandeza e sabedoria divina.

Qual o caminho por onde se repartem os relâmpagos? Onde é que os ventos orientais são distribuídos sobre a terra? Quem é que abre um canal para a chuva torrencial, e um caminho para a tempestade trovejante, para fazer chover na terra em que não vive nenhum homem, no deserto onde não há ninguém, para matar a sede do deserto árido e nele fazer brotar vegetação? Acaso a chuva tem pai? Quem é o pai das gotas de orvalho? De que ventre materno vem o gelo? E quem dá à luz a geada que cai dos céus, quando as águas se tornam duras como pedra e a superfície do abismo se congela? “Você pode amarrar as lindas Plêiades? Pode afrouxar as cordas do Órion? Pode fazer surgir no tempo certo as constelações ou fazer sair a Ursa com os seus filhotes? Você conhece as leis dos céus? Voce pode determinar o domínio de Deus sobre a terra? “Você é capaz de levantar a voz até às nuvens e cobrir-se com uma inundação? É você que envia os relâmpagos, e eles lhe dizem: ‘Aqui estamos’? Quem foi que deu sabedoria ao coração e entendimento à mente? Quem é que tem sabedoria para avaliar as nuvens? Quem é capaz de despejar os cântaros de água dos céus, quando o pó se endurece e os torrões de terra grudam uns nos outros?

Jó 38:24-38

O propósito desses questionamentos é mostrar a Jó que a compreensão humana é limitada e que os caminhos de Deus são insondáveis. Deus está repreendendo Jó por questionar sua justiça e sabedoria. É uma parte importante da mensagem do livro de Jó sobre fé, humildade e confiança em Deus.

Tempestades de areia e Granizo

Narradas no livro de Êxodo (capítulos 7 a 12), as dez pragas que Deus enviou pelas mãos de Moisés sobre o Faraó do Egito e seu povo tinham como um dos objetivos que Israel fosse libertado de seu cativeiro e fosse para a terra prometida. Uma das pragas é que a escuridão encobre o Sol por três dias. Uma tempestade de areia pode durar dias e é capaz de encobrir completamente a luz do Sol. Com esta praga Deus derrubou o deus principal do Egito, Rá, o deus-sol.

Então o Senhor disse a Moisés: “Estenda a mão para o céu, e cairá granizo sobre toda a terra do Egito: sobre homens, sobre animais e sobre toda a vegetação do Egito”.

Êxodo 9:22

Dentre as pragas, está também uma chuva de granizo (ou saraiva, que é um granizo grande), que destrói plantações. O granizo pode cair nas regiões desérticas do Mediterrâneo, embora seja um fenômeno relativamente raro. Tempestades elétricas podiam ser interpretadas pelos egípcios como chuva de fogo. A forte saraivada envergonhou os que consideravam os deuses egípcios como controladores dos elementos naturais; por exemplo, Íris – deus da água e Osíris – deus de fogo.

“Ao amanhecer do terceiro dia houve trovões e raios, uma densa nuvem cobriu o monte, e uma trombeta ressoou fortemente. Todos no acampamento tremeram de medo.”

Êxodo 19:16

O termo “saraiva” também é possível ser encontrado em Apocalipse 16:21, “E sobre os homens caiu do céu uma grande saraiva, pedras do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraiva; porque a sua praga era muito grande”.

Redemoinhos

Ainda em Êxodo, aparece uma passagem que faz lembrar um dust devil, também conhecidos como redemoinhos: ventos em espiral formados pela convecção do ar, em dias quentes, sem ventos e de muito sol, visíveis devido à poeira do chão levantada pela força do vento.

Durante o dia o Senhor ia adiante deles, numa coluna de nuvem, para guiá-los no caminho, e de noite, numa coluna de fogo, para iluminá-los, e assim podiam caminhar de dia e de noite.

Êxodo 13:21

Elias foi um profeta de Deus, que viveu em Israel no tempo do rei Acabe. Deus usou Elias para fazer milagres e trazer julgamento sobre a nação de Israel por sua adoração ao deus Baal. No final de sua vida, Elias foi arrebatado para o Céu:

“Quando o Senhor levou Elias aos céus num redemoinho aconteceu o seguinte: Elias e Eliseu saíram de Gilgal”

2 Reis 2:1

Relâmpagos

“Envia relâmpagos e dispersa os inimigos; atira as tuas flechas e faze-os debandar.”

Salmos 144:6

“Louvem o Senhor, vocês que estão na terra, serpentes marinhas e todas as profundezas, relâmpagos e granizo, neve e neblina, vendavais que cumprem o que ele determina”

Salmos 148:7-8

Louvor a Deus, indicando sua força e grandiosidade sobre o controle da natureza.

“Ele respondeu: “Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago.”

Lucas 10:18

Jesus havia enviado seus discípulos como um exército para invadir o território de Satanás e guerrear, sendo sua campanha um grande sucesso. Essa passagem é uma analogia para descrever quão grandemente seu ministério estava derrotando o poder de Satanás sobre os homens.

O Velho Testamento indica que Satanás foi criado por Deus como um anjo governante chamado Lúcifer, com grandes poderes. Mas o orgulho levou Lúcifer a se rebelar contra Deus (conforme Isaías 14:12-14; Ezequiel 28:12-15). Torcido agora pelo pecado, Lúcifer é transformado em Satanás, que quer dizer “inimigo” ou “adversário”. Estudos afirmam que Isaías não estava falando do Diabo. Usando imagens possivelmente retiradas de um antigo mito cananeu, Isaías referia-se aos excessos de um ambicioso rei babilônico.

Neblina e orvalho

“Por isso serão como a neblina da manhã, como o orvalho que bem cedo evapora, como palha que num redemoinho vai-se de uma eira, como a fumaça que sai pela chaminé.”

Oseias 13:3

Antigamente, Efraim foi respeitado e exaltado em Israel, mas morreu por causa da idolatria. Por isso essa comparação com a neblina e o orvalho, que se formam com o frio da noite e evaporam com o calor formado pela manhã.

Vento

Mesmo no início da Bíblia já é falado do vento (como um sopro) em “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente” (Gênesis 2:7). Deus sempre sabe para onde o vento sopra, mas nós, só enquanto o sentimos, já que nem mesmo o vemos. Veja outras passagens:

“Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava.”

Atos 2:1-4

Note que o vento está relacionado a uma manifestação física da chegada do Espírito Santo. Porém, isso não quer dizer que toda vez que houver um batismo no Espírito Santo ou uma ação do mesmo deva existir uma rajada de vento.

“Efraim alimenta-se de vento; vai atrás do vento oriental o dia inteiro e multiplica mentiras e violência. Faz tratados com a Assíria e manda azeite para o Egito.”

Oseias 12:1

“Contudo, ele deu ordens às nuvens e abriu as portas dos céus; fez chover maná para que o povo comesse, deu-lhe o pão dos céus. Os homens comeram o pão dos anjos; enviou-lhes comida à vontade. Enviou dos céus o vento oriental e pelo seu poder fez avançar o vento sul.”

Salmos 78:23-26

Oseias escreveu no oitavo século a.C e o Salmo de Asafe foi escrito por volta do ano 900-1000 a.C. Nessa época, os judeus já estavam na região hoje conhecida como Israel. Em várias passagens é comentado sobre o “vento oriental” (oriente é o leste). Esse vento também é citado queimando plantas (Gênesis 41:6; Jonas 4:8), provocando tempestades (Salmos 48:7) e violento (Jó 1:19).

Em Meteorologia, é costume falar “de onde vem o vento”, já que ele traz as características de uma região. Os ventos sul e norte eram favoráveis, pois eram mais frescos e úmidos (provavelmente associados a chegadas de frentes frias e ventos polares, trazendo chuva). Já os ventos oriental e ocidental trazem o ar do deserto, o que não é bom para agricultura nem sensação térmica.

Muitas pessoas pensam que Moisés estendeu a mão sobre o Mar Vermelho e este imediatamente se abriu; mas a verdade é que um vento oriental soprou por toda a noite, e as águas se encontraram divididas pela manhã. Nesse caso, o vento oriental foi favorável (Ex 14.21).

A passagem seguinte fala novamente do vento oriental, mas esse no Egito. A margem ocidental do rio Nilo (direção onde o sol se põe) era reservada aos mortos. Assim, um vento que viesse dessa direção estava associada ao deserto do Saara e à morte.

“Moisés estendeu a vara sobre o Egito, e o Senhor fez soprar sobre a terra um vento oriental durante todo aquele dia e toda aquela noite. Pela manhã, o vento havia trazido os gafanhotos”

Êxodo 10:13

“O vento sopra para o sul e vira para o norte; dá voltas e mais voltas, seguindo sempre o seu curso.”

Eclesiastes 1:6

Provavelmente era esse o regime de ventos na região e na época que foi registrado. O livro de Eclesiastes faz parte dos escritos atribuídos tradicionalmente ao Rei Salomão, por narrar fatos que coincidiriam com aqueles de sua vida – porém existem os que afirmam que foi escrito após o Exílio na Babilônia ou até mesmo por duas, três, quatro e até oito mãos distintas.

Esse vento poderia ser uma brisa de vale-montanha, por exemplo, que depende do contraste de temperatura à superfície criado pelo aquecimento diurno e o resfriamento noturno. O efeito é reforçado na ausência de fenômenos meteorológicos de grande escala (já que esse efeito é regional), pelo céu claro e solo seco.

No começo do dia, o aquecimento do ar no fundo do vale (que estava mais frio, denso e pesado) faz com que ele comece a fluir ao longo das encostas sob a forma de ventos de vales, já que o ar quente é mais leve. Esse vento que sobe a montanha é chamado de anabático. À noite, o processo se inverte e o ar frio e denso começa a se acumular no fundo dos vales – é a brisa da montanha, sendo que o vento que desce a montanha é chamado catabático.

No Hemisfério Norte (caso da região do oriente médio), ventos anabáticos tendem a ser mais fortes em encostas viradas para sul e mais fracos ou até mesmo inexistentes em encostas voltadas para norte. Isso acontece devido à inclinação da Terra com relação à iluminação promovida pelo Sol.

“Levantou-se um forte vendaval, e as ondas se lançavam sobre o barco, de forma que este foi se enchendo de água. Jesus estava na popa, dormindo com a cabeça sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e clamaram: ‘Mestre, não te importas que morramos?’ Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: ‘Aquiete-se! Acalme-se!’ O vento se aquietou, e fez-se completa bonança.”

Marcos 4:37-39

Aqui é demonstrado a autoridade de Jesus e a fé Nele. Primeiro jesus ensina, depois virão os ventos e tempestades para nos provar. Neste tempo, deveremos praticar aquilo que nos foi ensinado para permanecer com fé e discernimento e assim sair vitorioso em todas as coisas.

Por fim, essa passagem de Apocalipse, fala dos quatro ventos (norte, sul, leste, oeste) que representam os quatro cantos do céu:

Depois disso vi quatro anjos de pé nos quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos, para impedir que qualquer vento soprasse na terra, no mar ou em qualquer árvore.

Apocalipse 7:1-1

Esses ventos são retidos por quatro anjos, e se soprassem ao mesmo tempo, isso significaria uma terrível destruição sobre a terra. Isso parece muito com uma situação de convergência, onde o encontro dos ventos de diferentes direções força a subida de ar com umidade. Ao subir, o ar esfria e a umidade forma nuvens. Quanto maior a convergência, mas carregadas de água ficam as nuvens e maior a tempestade resultante.

Chuva de sangue

O seguinte versículo subentende-se água se transformando em sangue, o que já aconteceu em outras passagens bíblicas:

O segundo anjo derramou a sua taça no mar, e este se transformou em sangue como de um morto, e morreu toda criatura que vivia no mar.

Apocalipse 16:3

Existem vários relatos de chuvas de sangue além da Bíblia. O que se conhece são as chamadas chuvas de lama: ventos fortes levantam o pó e a poeira do deserto a centenas de metros de altura na atmosfera, que se combina com a chuva que cai em instantes próximos. Até mesmo microorganismo podem estar presentes. Tudo isso pode dar uma coloração avermelhada às gotas de chuva.

Em 2008, no Texas, aconteceu uma chuva de lama. Quando a água evaporou, as superfícies ficaram cobertas com uma considerável camada de pó. Em 2017, também aconteceu chuva de barro em Córdoba, Argentina. Veja mais no post Chuva de lama.

Fontes

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