Houve uma intensa queda de granizo dia 18 de maio de 2014 em São Paulo. Após 32 dias sem chuvas significativas e uma prolongada seca sobre os rios que desaguam no sistema Cantareira (fundamental para o abastecimento de água da região metropolitana), foram registradas fortes chuvas que causaram alagamentos, prejudicaram o fluxo de rodovias e fecharam os aeroportos de Congonhas e Cumbica por alguns minutos. A queda de granizo, mais intensa em alguns bairros, pode se repetir novamente (como já aconteceu) em outras datas e lugares. Vejamos mais sobre o fenômeno ocorrido.
O granizo forma-se na nuvem Cumulonimbus, típica de tempestades severas. Os raios solares aquecem a superfície da Terra, que por sua vez aquece o ar logo acima da superfície. O ar quente (mais leve que o ar ao redor) sobe junto com o vapor d’água, que passa do estado gasoso para o estado líquido e forma a nuvem. Quanto mais calor, mais ar quente sobe e mais alta fica a nuvem, até um ponto em que a temperatura é tão baixa que as gotículas de água passam do estado líquido para o sólido. Os cristais de gelo caem e vão encontrando gotículas de água super-resfriada (água líquida em temperaturas entre 0°C e -40°C). Essas gotículas congelam sobre o cristal de gelo (processo esse chamado de acreção) e aumentam o tamanho do granizo. Se essas pedras de gelo crescerem muito, elas podem precipitar e atingir a superfície ainda no estado sólido (ou derreterem no meio do caminho, devido ao atrito e aquecimento com o ar, e formar aqueles pingos enormes que caem uns 30 segundos antes de começar a tempestade).
Apesar de certas vezes (como na foto) ocorrer o acúmulo a ponto de forrar o chão de branco, o granizo é bem diferente da neve. A neve forma-se quando o vapor d’água passa diretamente para o estado sólido, o que é bem mais difícil de acontecer no Brasil e restringe-se a regiões de serra em grandes latitudes. Como as temperaturas variavam entre 15 e 20°C e a quantidade de gelo era muito grande, alguns lugares demoraram dois dias para derreter todo o granizo (nas ruas próximas ao Parque da Aclimação, foram usados caminhões para retirar toneladas de granizo). Veja esse vídeo de uma tempestade com granizo e os estragos causados nos Estados Unidos:
No caso de São Paulo, o que favoreceu esse ar subir tão alto com a umidade foi um fenômeno de frente de brisa marítima. Devido à diferença de temperatura entre o continente e o oceano, forma-se um vento contínuo de fraca intensidade conhecido com brisa marítima. Quando esse ar mais úmido vindo do oceano encontrou o ar mais seco e quente do interior, formou-se a frente de brisa marítima. Como a cidade já estava em condições de estabilidade favoráveis para a formação de tempestades, faltou apenas a umidade para formar a tempestade.
Segue uma imagem de radar mostrando a linha de tempestades que se formou no sul do estado de São Paulo e avançou pelas regiões oeste e central da capital paulista. Sobre a linha rosa do mapa, foi feito um corte vertical para analisar a estrutura da tempestade (corte PPI, veja mais no post sobre radar). O sinal enviado pelo radar é refletido pela tempestade e apresentado no gráfico em dBZ (quanto maior o valor de refletividade, maior a concentração e densidade dos alvos, no caso, gotas de chuva e pedras de gelo).
Veja essa notícia mostrando como uma aeronave ficou com a parte da frente acidentada depois de uma sequência de colisões com granizo: Chuva de granizo amassa avião, e piloto faz pouso forçado no Rio.
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