Generalistas em um mundo de especialistas

O livro Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas (“Range: Why Generalists Triumph in a Specialized”) foi escrito pelo repórter investigativo estadunidense David Epstein (1980-) e publicado em 2020 – uma amostra gratuita pode ser vista no link. Nele, o autor apresenta vários exemplos de profissionais valorizados e bem-sucedidos em suas áreas de atuação por serem generalistas. Ou seja, a conexão entre áreas e ideias a principio incompatíveis pode resolver problemas aparentemente insolúveis.

A especialização é importante por ajudar no desenvolvimento das competências necessárias para atuar em um segmento. Por exemplo, a “regra das 10 mil horas”, que representa o tempo acumulado de treinamento altamente especializado como único fator no desenvolvimento de habilidades. Muita experiência traz muita confiança, o que pode estreitar a mente para novos problemas – como diria o ditado, “se você só tem um martelo, tudo parece prego”. Os sistemas de inteligência artificial ainda precisam de estruturas estáveis e mundos estreitos.

Talvez a hiper especialização seja eficiente no xadrez ou no golfe. No entanto, em ambientes que carecem de simplicidade e consistência (como combater um incêndio), é altamente recomendável dispor de conhecimentos e habilidades variados. Isso tem grande importância na criatividade, por exemplo – veja mais no post sobre o livro Um toc na cuca.

Em decorrência da necessidade humana de sobreviver e se adaptar em um mundo cada vez mais complexo, existe uma demanda crescente na capacidade de entender e resolver problemas. Generalistas, com uma base ampla de conhecimentos vindos de várias atividades, são comprovadamente mais capazes de encontrar soluções autodirigidas aos diferentes tipos de problemas – já que são também cognitivamente flexíveis.

“que tal um martelo, uma serra, um machado e um tronco — três deles são ferramentas. Eles não são um grupo, Rakmat respondeu, porque são inúteis sem o tronco, então por que estariam juntos?”
Exemplo de teste de QI aplicado em regiões rurais da União Soviética no início do período de industrialização

As pessoas que são melhores em realizar prognósticos e previsões demonstram três qualidades:

  • mantêm a mente aberta;
  • curiosos sobre tudo;
  • consideram suas ideias como meras hipóteses que precisam ser testadas antes de obterem validação.

Esses pontos trazem a necessidade em tentar aprender com as outras pessoas com quem se interage. Isso permite enxergar os nossos “pontos cegos”, ou seja, conhecimentos que nos faltam para resolver um certo problema.

Ser autodidata é interessante para criar métodos para aprender sozinho, o que leva a mais experimentações (um pouquinho de cada coisa). Quanto algo é aprendido em diferentes contextos, maiores são as chances da pessoa criar modelos abstratos e independentes, aprimorando a aplicação dos conhecimentos em diferentes cenários.

Metas de aprendizagem longas resultam em melhores resultados. Isso quer dizer que colocar intervalos longos entre uma etapa e outra traz uma necessidade em relembrar algumas informações e que prepara o cérebro para novos aprendizados. Mesmo o processo sendo mais longo e difícil, acaba dando mais resultados a longo prazo. Veja mais dicas de estudo no post do link.

Em centros de pesquisas compostos por acadêmicos de origens diversas, a identificação de padrões alternativos é acelerada, sendo mais improvável que os elementos importantes passem despercebidos. Um dos motivos é que a formação específica presume que todos entendam das mesmas coisas, mas um profissional com formação mais diferente precisa aprender o conhecimento necessário ao trabalho de uma forma diferente. Isso implica no surgimento de novas analogias para esse entendimento.

Em muitos casos, quando novas informações e o bom senso mostram que estamos em um caminho não mais interessante para nós, a decisão mais prudente pode ser a de abandonar o atual projeto. Para Seth Godin, empresário e autor de livros de negócios desde os anos 1990, “fracassamos quando insistimos em tarefas das quais não temos coragem de desistir”.

Mudanças estão relacionadas também com a capacidade de resiliência aos problemas e adaptação às novas condições. As personalidades mudam em diferentes ambientes, por causa das diversas experiências pelas quais os indivíduos passam. Para aprender mais sobre si mesmo, em vez de fazer grandes perguntas como “quem eu quero me tornar?”, prefira questões menores que possam ser rapidamente testadas e avaliadas.

Os especialistas são mais eficazes quando trabalham em um ambiente familiar, com poucas incertezas. Já os generalistas experientes e com maior amplitude de conhecimentos costumam ser mais capazes de pensar lateralmente (ressignificar informações em novos contextos). Pessoas com sucesso extraordinário em suas áreas, como Charles Darwin, Albert Einstein e Richard Feynman, tinham correspondência ativa com pessoas de várias áreas.

Também deve-se fazer uso da razão. Por exemplo, evitar o apego a métodos de resolução de problemas que já funcionaram e na nova situação, não funcionam. Um novo método pode aparecer em pequenos avanços inesperados. E esses avanços podem começar indiretamente lá atrás, na infância. Brincar, imaginar, se divertir são ações fundamentais que impactam toda a vida de uma pessoa.

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