O aumento de eventos climáticos extremos, já previstos a décadas por centenas de trabalhos na literatura científica, tem se tornado um desafio significativo para o futebol brasileiro. Nos últimos anos, as ondas de calor se intensificaram, com um número crescente de episódios que impactam diretamente o desempenho dos atletas e a segurança dos espectadores. O calor excessivo tem levado à necessidade de ajustes no horário das partidas, como a decisão da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) de realizar a reta final do Campeonato Carioca apenas após as 18h.
As partidas disputadas durante os momentos de maior pico de temperatura representam um risco para os jogadores. O calor extremo afeta a capacidade física e cognitiva dos atletas, aumentando a exaustão e dificultando a tomada de decisão dentro de campo. Esse cenário tem levado à busca por soluções, como mudanças no calendário e melhor monitoramento das condições climáticas.
Chuvas Intensas e Temporais no Futebol
Os temporais, acompanhados de chuvas intensas e granizo, têm causado diversos adiamentos e interrupções de partidas no Brasil. Esses fenômenos são exemplos claros do impacto do clima sobre o esporte, exigindo um acompanhamento constante por parte das federações e clubes. Partidas já foram suspensas devido às condições climáticas severas, como tempestades de raios e precipitação excessiva, comprometendo não apenas a integridade do jogo, mas também a segurança dos torcedores e atletas.

O caso das enchentes no Rio Grande do Sul exemplifica os danos mais amplos causados por esses eventos climáticos extremos. Além de comprometer a logística das equipes, os estragos financeiros também são expressivos, forçando remarcações de partidas e alterando competições nacionais e internacionais. A urgência de medidas preventivas e planos de contingência tem se tornado evidente diante desses episódios.
“Em menos de um mês dos eventos climáticos extremos, cerca de 88 partidas foram adiadas pelo Brasil, afetando campeonatos internacionais, como a Libertadores e Sul-Americana, além de 9 campeonatos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), masculino e feminino, como a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro”
Estudo do Terra FC durante a 19ª cúpula do G20
O jogo Palmeiras x Corinthians pelo Campeonato Paulista 2025 do dia 6/2 precisou ser adiado em pelo menos 30 minutos. Poças se formaram e prejudicaram o trabalho de aquecimento das duas equipes, que tiveram de sair do gramado diante das pedras de granizo que caíram com a chuva. Funcionários do Allianz Parque entraram com rodos para retirar o excesso de água do gramado, assim como da cortiça que fica embaixo do gramado e funciona como isolante térmico e amortecimento do terreno de jogo da casa do Palmeiras.
Queimadas
Note que a logística do futebol também é fortemente afetada por fenômenos como ondas de calor, enchentes e queimadas. Um estudo do Terra FC e da ERM revelou que 85% dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro estão expostos a riscos climáticos severos, sendo que 45% estão sujeitos a inundações e 55% a queimadas.
A presença de fumaça no ar reduz a qualidade da respiração, impactando diretamente a capacidade aeróbica dos jogadores, o que pode comprometer sua resistência e desempenho em campo. Além disso, a poluição gerada pelas queimadas pode levar a irritações nos olhos e na garganta, dificultando a concentração e a comunicação entre os jogadores. Para o público, a exposição prolongada a esse ambiente pode representar riscos à saúde, tornando a ida ao estádio uma atividade desconfortável e até perigosa em determinados momentos.
Altas temperaturas
A exposição a temperaturas extremas também tem gerado preocupações com a saúde dos atletas. Durante partidas disputadas sob calor intenso, jogadores têm sofrido com sintomas de exaustão térmica, como desidratação, tontura e até mesmo vômitos. Em um jogo do Campeonato Carioca de 2025, casos como o de Riquelme, do Fluminense, e Zé Ivaldo, do Santos, evidenciam como o calor excessivo pode comprometer o desempenho e bem-estar dos atletas.
A fisiologia humana reage ao calor com mecanismos de resfriamento, como a transpiração. No entanto, em ambientes de alta umidade, esse processo se torna menos eficaz, aumentando os riscos de superaquecimento corporal. Para evitar danos musculares e cardiovasculares, recomenda-se uma hidratação adequada, incluindo a reposição de eletrólitos através do consumo de isotônicos e uma alimentação balanceada, adaptada às necessidades individuais dos jogadores.
“Em 2023, tivemos nove episódios, em 2024, oito e, agora, já começamos 2025 sob esses efeitos (…) As partidas de futebol, muitas vezes, ocorrem no meio da tarde, quando o pico de temperatura está muito alto. Com essas massas quentes atuando, a temperatura fica acima da média normal para o mês, e é potencializada (…) Já houve partidas de futebol adiadas por tempestades de raio, por chuva de granizo.”
Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo
Baixas temperaturas
Não apenas o calor, mas também o frio extremo pode impactar o futebol. Um exemplo disso ocorreu nos Estados Unidos, quando a partida entre Sporting Kansas City e Inter Miami foi adiada devido às baixíssimas temperaturas e ameaça de nevasca. No dia da realização do jogo, os termômetros marcavam -14°C, e os jogadores relataram dificuldades para se movimentar e manter o controle do corpo em meio ao frio intenso.
Especialistas apontam que o corpo humano precisa de adaptação progressiva para atuar em condições extremas. O treinamento em ambientes similares pode ajudar na aclimatação, garantindo um melhor desempenho dos atletas. No entanto, situações climáticas fora do padrão exigem medidas adicionais para preservar a integridade física dos jogadores.
Conclusão
Os eventos climáticos extremos estão cada vez mais frequentes e impactam diretamente o futebol, tanto no Brasil quanto no mundo. Ondas de calor, temporais e condições climáticas severas impõem desafios que vão além da prática esportiva, afetando a logística, a saúde dos atletas e a experiência dos torcedores. Com a tendência de intensificação desses fenômenos, a adaptação é essencial para garantir a continuidade do futebol em um mundo impactado pelas mudanças climáticas.
(Esse texto foi baseado na matéria De enchente a calor: futebol sente impactos de eventos climáticos extremos, escrita pelo jornalista Alexandre Araújo para o UOL)