Impacto do frio no GP noturno de Las Vegas

Las Vegas, conhecida como a cidade do entretenimento, é um oásis reluzente no deserto de Mojave, na região sudoeste dos Estados Unidos. Com seus cassinos icônicos, espetáculos deslumbrantes e uma energia ininterrupta, Las Vegas atrai milhões de visitantes anualmente. Situada em um clima desértico, a cidade experimenta verões escaldantes, com temperaturas frequentemente ultrapassando os 40°C durante o dia, enquanto as noites costumam oferecer um alívio com temperaturas mais amenas, mas ainda quentes.

Imagem aérea de Las Vegas: esfera e pistas do GP de F1. Foto: Michael Bittle
Imagem aérea de Las Vegas: esfera e pistas do GP de F1. Foto: Michael Bittle

O GP de Las Vegas estreia esse final de semana (18 de novembro de 2023), sendo que já sediou o evento mas nunca durante a noite (3h da manhã de domingo no Brasil). Com a proximidade do inverno, a expectativa é que seja a corrida mais gelada da história da Fórmula 1. A previsão é de que a temperatura fique perto dos 10º C, e com tendência de queda. Até mesmo os operadores de câmera terão roupas especiais para aguentar o frio.

Baixas temperaturas geram alguns desafios para a F1, especialmente para os pneus – conforme pontuados na matéria Como o frio promete roubar a cena na estreia do GP noturno em Las Vegas do UOL:

  • Pista fria devido à temperatura ambiente baixa e à falta de exposição solar. As sessões ocorrem das 20h até perto da meia-noite, e como o sol se põe antes das 17h, isso resulta em menos calor no asfalto quando os carros entram na pista;
  • Este cenário é distinto de outras corridas noturnas da F1, já que a pista não possui curvas de alta velocidade para aquecer os pneus, mas sim longas retas que, na verdade, ajudam a dissipar o calor dos pneus;
  • O asfalto é mais liso, típico de pistas urbanas, apesar de ter sido tratado para ser um pouco mais áspero. Isso implica menos geração de calor através da abrasão, enquanto a ausência de curvas rápidas também limita a temperatura dos pneus;
  • Durante as retas, os pneus giram mais rápido, aumentando sua temperatura interna. No entanto, a diferença entre a temperatura interna e externa dos pneus tende a causar granulamento, onde pequenos pedaços da borracha superficial do pneu começam a se soltar, criando um efeito granulado na superfície do pneu. Esses grânulos podem causar uma sensação de falta de aderência para o piloto, reduzindo o desempenho e a capacidade de tração do carro, afetando diretamente a performance durante a corrida;
  • Em circuitos urbanos, a probabilidade de um Safety Car entrar em ação é maior. Isso pode complicar a situação, já que os pneus perdem temperatura sob bandeira amarela, e recuperá-la não é fácil. Isso cria um ciclo negativo para o piloto, incapaz de forçar o ritmo por falta de temperatura nos pneus, enquanto a falta de ritmo impede a geração de calor nos mesmos.

Um carro de F1 opera em uma faixa estreita de temperaturas ideais. Freios frios podem levar a bloqueios ou saídas de pista, enquanto um motor abaixo da temperatura ideal não atua eficientemente, afetando o desempenho geral do carro.

Estas condições são semelhantes às encontradas nos testes de pré-temporada de inverno na Europa, mas os testes não são competitivos, permitindo um comportamento mais conservador. Esta corrida é diferente. Para lidar com diferentes temperaturas, as equipes ajustam estrategicamente a abertura de diferentes áreas do carro. Por exemplo, no México, onde o ar é menos denso, foi necessário aumentar a refrigeração. Já em Las Vegas, será o oposto: ajustes para reduzir a refrigeração serão necessários.

Atualização: O clima frio fez os pilotos sofrerem com a temperatura e aderência dos pneus durante a corrida, principalmente nos momentos de bandeira amarela. George Russell, piloto da Mercedes, disse “Foi realmente perigoso atrás do safety-car. Os pneus eram duros como uma rocha e estavam mais frios do que você sentiria na chuva, na verdade. Então isso era de se esperar aqui, nessas condições”. Carlos Sainz, piloto da Ferrari, afirmou “Na curva 1, após o safety-car, foi como dirigir no gelo. Precisamos encontrar uma solução para tornar o safety-car um pouco mais rápido nesses cenários específicos. Não consigo explicar como é andar a 340 km/h e saber que quando você vai pisar no freio, aquela coisa não vai parar. Foi muito complicado”. De acordo com a Accuweather, um pouco antes da largada a expectativa era de 16°C de temperatura ambiente (15°C para a segunda hora de prova), a chance de chuva era zero, ventos de 11 km/h de média e umidade relativa do ar de 51%. (Fonte: Grande Prêmio [1] e [2])

Excesso de chuva também prejudicou Fórmula 1 esse ano

As fortes chuvas que castigaram a região da Emilia Romagna, na Itália, fizeram a Fórmula 1 cancelar a sexta corrida da temporada 2023, que aconteceria no final de maio, no circuito de Imola. A área vinha sofrendo com enchentes desde o início do mês, e as chuvas voltaram a se intensificar no início desta semana.

A região em que aconteceria a corrida estava em calamidade, com casas debaixo d’água e oito mortos até então confirmados. Sob forte pressão, com partes do próprio circuito alagadas, a categoria anunciou que a etapa não iria acontecer. Logo depois, já começaram os rumores sobre uma remarcação da corrida, mas a prática é incomum e já foi descartada pela organização.

Paddock italiano inundado em Imola, 2023. Fonte: REUTERS/Jennifer Lorenzini
Paddock italiano inundado em Imola, 2023. Fonte: REUTERS/Jennifer Lorenzini

Esse cancelamento é um acontecimento raro na história da Fórmula 1. Em outros anos, os organizadores insistiram na realização de eventos mesmo sob fortes chuvas. Em 2022, o GP de Mônaco chegou a ser suspenso depois que uma forte chuva atingiu o principado, mas continuou dentro do previsto após uma hora de espera. Um ano antes, na Bélgica, a direção de prova aguardou por quase três horas para começar a corrida, em meio a uma tempestade no país. Depois que a chuva não diminuiu, os pilotos fizeram duas voltas sob safety car e a corrida foi encerrada, considerada realizada.

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