Por Paulo Roberto Roggério
Os termos estrutura e conjuntura têm significados distintos, e ainda permitem conceitos diferentes, como subdivisões, segundo a forma e o tempo em que são aplicados em relação a um organismo específico.
Estrutura tem como representação primeira a ideia de base ou conjunto de elementos de fixação nos quais um organismo é disposto segundo uma ordem harmônica e lógica. Essa base ou esse esqueleto permite que sobre eles se assente, de forma organizada, os elementos que constituem o organismo.
Cada organismo, material ou imaterial, depende da existência de uma estrutura precedente, uma base ou um esqueleto, para que tenha sua existência, concreta ou abstrata.
A amplitude destes conceitos: material ou imaterial, concreto ou abstrato, corpóreo ou anímico, permanente ou provisório, dá a exata dimensão da estrutura como condição de existência de cada organismo.
Essa amplitude é demonstrada em qualquer organismo: os elementos do corpo humano estão dispostos sobre um esqueleto, que dá equilíbrio e sustentação ao conjunto; um prédio é construído sobre uma base, ou fundações, que sustenta o conjunto, e sobre colunas, que permitem a disposição dos demais elementos deste corpo.
A definição de estrutura parece estar ligada à base de um corpo material, mas sua característica de suporte ou de base sobre o qual estão ordenados os elementos de um corpo tem a mesma aplicação, em mesma intensidade, aos organismos incorpóreos.
Tal é o conceito de estrutura das organizações, nas quais a estrutura está representada por conceitos, isto é, sobre uma filosofia, doutrina ou programa de administração da vida da organização.
Estes conceitos preliminares de estrutura de um organismo concreto ou de uma organização em abstrato podem receber complementos na forma de definição da estrutura de cada um dos elementos que compõe o organismo principal. Ao analisar a estrutura de uma empresa, a análise pode se deter sobre parte dela, como a ligada à administração financeira e aferir, entre as várias ramificações, a estrutura de capital da empresa em análise. Neste caso em particular, a análise recai na mensuração do capital e sua composição em capital próprio e capital de terceiros.
A estrutura do capital, ou sua divisão em capital próprio e de terceiros, é de grande importância para a administração financeira, para avaliação do grau de exposição ou se os coeficientes encontrados estão conforme a média das empresas de mesmo ramo de atividades.
De importância ressaltar a existência de termos compostos que definem determinados tipos de estruturas: infraestrutura, usualmente designada para definir o conjunto de estruturas públicas, é um termo de realce para a política de administração e para a sociedade compreender como está formada a base em que vive a sociedade, e onde ela desenvolve suas atividades.
Conjuntura, por sua vez, é conceito que tem a mesma amplitude de estrutura, porém, explicando as circunstâncias em que se dá determinado fenômeno, ou em quando ocorre o fenômeno, em um tempo determinado.
Nesta ordem de ideias, conjuntura pode ser traduzida por situação. Está ligada a um acontecimento ou a um conjunto deles, simultâneos no tempo ou em ordem sucessiva, temporalmente considerada.
Assim, conjuntura trata dos sucessos prósperos e adversos na vida de uma pessoa, de uma empresa, de uma organização ou de uma nação, e traz implícita a ideia de limitação ao tempo, em curto, médio ou longo prazo.
Expressões quase dogmáticas, como “atual conjuntura”, de largo uso em tempos pretéritos, marcam a característica temporal de conjuntura.
Na avaliação de um organismo, concreto ou abstrato, o estudo da estrutura mostra como o organismo está formado e sobre quais bases está erigido, enquanto a conjuntura mostra como os eventos, quase sempre fatores externos à estrutura, influenciam a estrutura.
Neste sentido, é possível dizer que a estrutura de um determinado organismo poderá atrair, ou repelir, determinadas situações conjunturais que afetam o organismo considerado, enquanto a conjuntura dita de que forma os eventos externos afetam a estrutura.
Economia
Os conceitos de estrutura e conjuntura são elementos hábeis para analisar a economia de todas as instituições, desde a economia pessoal, passando pelas atividades econômicas das sociedades empresárias e das organizações, até a economia das nações.
Cada país, analisado individualmente, apresentará uma estrutura econômica definida e única, diferente essencialmente de países vizinhos ou de países que se lhes assemelhem pela dimensão territorial, pela população ou por qualquer acidente geográfico.
A estrutura da economia de um país é formada a partir de suas características territoriais, de suas riquezas naturais, e da forma em que foi o país administrado, através dos tempos.
Alguns países tem grande extensão territorial e, por essa razão, possuem riquezas naturais expressivas. Essas riquezas naturais serão encontradas em reservas minerais ou em importantes ou extensas áreas cultiváveis. A natureza também pode favorecer a economia lastreada na criação animal.
Em princípio, esses países tem a economia com base na indústria extrativa mineral ou vegetal. As atividades extrativas mineral e vegetal, assim como as demais atividades rurais, são chamadas de setor primário da economia.
Esses países com expressivas riquezas minerais, vegetais ou animais, ou por uma combinação de todas, se concentram na atividade primária, com predominância da atividade extrativa, ou ingressam também na atividade secundária, que é a indústria.
Enquanto a indústria extrativa retira recursos da natureza, o setor secundário os transforma, em operações graduadas segundo a complexidade ou número de fases operacionais executadas sobre a matéria prima.
As operações mais simples executadas sobre as matérias primas são chamadas de primeira fase da transformação, quando as matérias primas básicas retiradas da natureza resultam em produtos semi-manufaturados, fase intermediária na qual a matéria prima não está mais na forma bruta em que entregue pela Natureza, porém ainda não tem a forma final do produto para uso.
A indústria abrange desde a primeira fase, em que a matéria prima é transformada em produtos semi-manufaturados, e nas atividades de transformação, ou manufatura, quando se obtém o produto final na forma em que será levado ao consumo. Alguns produtos, por sua essência, são considerados industrializados ao passar por operações simples como acondicionamento ou nas de recondicionamento.
Nem sempre os países onde se encontram as riquezas naturais avançam para a fase seguinte, para industrializar as matérias primas, embora o façam ao menos em parte. Outros países, sem dispor dos recursos naturais como os mencionados, esmeram-se no setor secundário, transformando as matérias primas vindas de outros países.
No setor terciário encontram-se todas as outras atividades econômicas não compreendidas nas extrativas ou rurais ou na indústria de transformação: o comércio de produtos, doméstico ou internacional, as atividades bancárias ou financeiras em geral e os serviços, sejam os domésticos, sejam os internacionais: transportes, turismo etc. …
Como se pode ver, todos os países desenvolvem, em maior ou menor grau, cada uma dessas atividades. O conceito essencial é que cada país possui uma atividade econômica preponderante.
Nas economias em que a natureza aquinhoou com consideráveis recursos naturais, com predominância do setor primário, é possível desenvolver também a indústria de transformação, assim como também as atividades do setor terciário: comércio e instituições financeiras, turismo etc. …
Não dispondo de recursos naturais em mesma magnitude, outros países se distinguirão pela vigorosa indústria de transformação, e outros, não dispondo nem de recursos naturais nem de indústria em larga escala, terão sua economia baseada no setor terciário: comércio, bancos, turismo, serviços, transportes etc …. .
Estas são as possibilidades oferecidas pela estrutura de base da economia de cada país. Estrutura de base, mas não a única. De grande importância é a disponibilidade de capitais do país, ou da soma do capital de seus agentes econômicos, para que a economia toda possa ser movimentada.
A estrutura de capitais de um país é de grande importância, para que, da comparação entre as reservas e as dívidas, a diferença entre os juros recebidos e os juros pagos possam auxiliar na composição das contas nacionais, como receita, se positivo o saldo, ou como despesa, se negativo o saldo.
A estrutura da economia de um dado país deve ser mensurada pela existência de recursos naturais, por sua indústria, ou pelas diversas atividades do setor terciário, eis que cada nação possui uma estrutura delineada e única.
A tecnologia é fator a ser considerado, levando em conta a clássica definição da ciência econômica sobre a classificação dos recursos: natureza, capital e trabalho.
Ciclos e crises
A estrutura de base da economia de um país é identificada pelos recursos naturais e pelo desenvolvimento da indústria e do comércio deste país, e demais atividades terciárias. Países com pequena extensão territorial, sem possuir recursos naturais em quantidade suficiente, e até sem poder desenvolver uma indústria influente, formarão sua estrutura nas atividades de comércio internacional intensivo, transportes, turismo, operações financeiras etc. …
Enquanto a estrutura é formada pela natureza, quanto aos recursos naturais, os meios para sua exploração ou a acumulação de capital, as atividades secundária ou terciária dependem da iniciativa da administração pública e dos agentes econômicos, ao longo do tempo.
A estrutura estará sempre sujeita a uma conjuntura, isto é, a fatores externos que evidenciem os pontos positivos da estrutura, ou como alguns pontos da mesma estrutura estejam fragilizados.
As matérias primas minerais, vegetais e animais, in natura, ou semi-manufaturadas, além de servir ao consumo doméstico, ou interno, servem ao comércio exterior, ante a necessidade de o país obter divisas por meio de exportações. Estas matérias primas são também conhecidas como mercadorias ou commodities, que tem seu preço fixado ou regulado segundo a procura e a oferta internacionais em bolsas de mercadorias.
O grande volume em que estas mercadorias são comercializadas faz com que sejam normalmente compradas e vendidas em bolsas de mercadorias, onde compradores e vendedores realizam seus negócios.
Quando a atividade econômica mundial encontra-se retraída ou em baixo nível de crescimento, a tendência é a de os preços diminuírem, pela redução da demanda, ou, ao contrário, de subir, quando a atividade econômica está em crescimento.
Esta é uma demonstração de como um acontecimento externo pode influir em toda a economia interna de um país, dependente da exportação de commodities. Trata-se de uma situação, ou de uma conjuntura.
Da mesma forma, nas épocas de baixo crescimento econômico, ou até de redução da atividade, chamadas de crise, as demais atividades também são afetadas, pois a redução das receitas nas atividades de base levará à redução das atividades terciárias: o turismo tende a reduzir, e com ele todos os serviços correlatos, e assim por diante.
Construindo as estruturas
As economias baseadas nas estruturas fornecidas pela natureza já as tem quase prontas. Quase, porque é necessário prover o necessário à sua extração, circulação e transporte, tais como, na extração do petróleo: prospecção, perfuração de poços ou instalação de plataformas ou oleodutos; na extração vegetal: preparação do solo, armazenagem, transportes.
Outras economias necessitam da formação completa da estrutura, como é o caso da indústria. E, para que a indústria seja eficaz, necessária a preparação das infraestruturas: estradas, rodovias e ferrovias, portos e aeroportos, e toda a forma de promover o produto para despertar o interesse do consumidor final.
No setor terciário, a construção das estruturas, como no caso do turismo, dependerá da existência das infraestruturas: portos e aeroportos, estradas, ferrovias, rede hoteleira e rede de serviços compatível com o que se espera do turismo.
Interessante é a formação das estruturas para o setor secundário da economia, ou indústria, porque seus produtos permitem a geração de maior renda por meio de empregos diretos e indiretos, próprios da atividade industrial, à qual se segue a comercial.
Todas as atividades tem um poder multiplicador na economia: para a produção de um artigo industrializado é necessário o prévio desenvolvimento da indústria extrativa, para obtenção da matéria prima aplicável; de outros setores, produtores de insumos utilizados no processo industrial, e depois de pronto, as subsequentes operações de compra e venda, transporte, seguro, financiamento etc. …
Alguns ramos industriais tem acentuado efeito multiplicador na economia, porque, para produzir um artigo, será necessária a ativação de vários outros setores industriais. Dois exemplos são dignos de nota: a construção civil, pelo número de insumos utilizados e pela utilização extensiva de mão de obra, e a indústria automobilística. Todos os empregos diretos e indiretos geram renda que beneficiarão outros setores, através do consumo, possível pela existência de renda.
Na história econômica recente do Brasil, vários períodos de crescimento tiveram início com o estímulo às atividades de construção civil, como a construção de Brasília, nos anos 50, e com a criação do Sistema Financeiro da Habitação, nas décadas de 60 e 70, principalmente. A indústria automobilística, outro vetor de desenvolvimento, teve início no Brasil também na década de 50.
O mais importante efeito multiplicador se dá na exportação do conjunto de produtos, mas, sobretudo, nos industriais. É que o comércio exterior não se limita a commodities, a um produto ou a um ramo industrial, mas deve ser visto como poderoso instrumento de política econômica.
A exportação de commodities, ou matérias primas vegetais e minerais, e as de origem animal, constitui importante fonte de receitas em divisas para o país e receita para os produtores. A exportação de produtos industriais, além de desenvolver o setor primário da economia, que fornecerá a matéria prima extraída da natureza, também influirá positivamente em toda a cadeira produtiva dos artigos exportados, gerando emprego e renda, e consumo nos setores não ligados diretamente às cadeias produtivas de produtos exportáveis.
Enfrentando a conjuntura
Para se formar a estrutura, é necessário trabalhar o que a natureza dá graciosamente, ou edificar a estrutura, com a implantação de projetos industriais, comerciais ou de serviços, com o amparo das infraestruturas necessárias.
Toda estrutura está sujeita à conjuntura. A falta de capital próprio é um problema estrutural, e afeta a produção de bens ou serviços. Mas outros fatores conjunturais, por retratarem situações, por sua própria natureza passageiras ou temporárias, também afetam as estruturas.
Os preços das commodities, fixados por bolsas de valores, serão mais altos ou mais baixos conforme a conjuntura, de sorte que na época de preços baixos a receita obtida pode não corresponder ao que se espera em condições normais ou que os custos de produção requerem. A retração das atividades econômicas nos países importadores, de commodities ou de produtos industrializados, acarreta a redução das atividades dos países exportadores, e das empresas produtoras.
A estrutura deve ser continuamente feita e refeita. A edificação das estruturas dificilmente é de curto prazo, mas de médio ou longo, assim como uma estrutura para a extração de um produto ou para produção de outro não pode ser adaptada ou modificada completamente. Quando tal é possível, como na mudança das culturas, a agricultura requer prazos médios ou longos para iniciar uma nova produção.
Enquanto a criação e a manutenção das estruturas requerem políticas econômicas definidas, de longo prazo, também em relação à conjuntura, que requer política econômica de natureza distinta.
Se estrutura traduz a força motriz da economia de um país, pela disponibilidade de riquezas naturais, e pela escolha feita para aplicação do capital e do trabalho, é possível afirmar que estrutura é a base da economia do país, e a conjuntura mostra como ela se comporta em dado período de tempo.
As dificuldades conjunturais, ou da situação da economia em determinado momento, devem ser superadas por alguns dos instrumentos também aplicados na política de base da estrutura: política tributária adequada, disponibilidade de capital para investimento ou para financiamento de capital de giro, custos voltados ao desenvolvimento, prazos de comercialização adaptados, política nacional de abastecimento e de estoques, geração de renda. São linhas de ação, que não excluem diversas outras, específicas para cada atividade econômica.
Para promover o desenvolvimento econômico é preciso ter políticas eficazes para construir a estrutura, devendo ser permanentes as políticas voltadas à promoção de exportação.
O poder público, através de suas atividades de investimento ou de custeio, sempre pode promover o crescimento econômico. Quando, por falta de recursos próprios, não é possível promover o desenvolvimento, sempre será possível induzir o desenvolvimento econômico.
Isto significa: se não é possível alterar a estrutura, mexa-se na conjuntura.