Muitas vezes, o sistema de fiscalização eletrônica utilizado nas ruas para medir a velocidade dos automóveis é conhecido como “radar” mas, na verdade, não é um radar, e sim um sensor localizado no chão trabalhando em conjunto com uma câmera digital e um flash.
Os “radares” fixos (ou lombadas eletrônicas) funcionam de maneira semelhante ao sistema de contagem de tráfego (veja mais no post “Como é medido o trânsito em SP?“). Em cada faixa de rolamento, são instaladas duas ou três espiras sob o asfalto – geralmente são visíveis por conterem linhas de piche sobre o corte realizado para sua instalação. Como os veículos são compostos por elementos ferromagnéticos, as espiras (sensores magnéticos) são afetadas por eles, gerando um sinal elétrico.
Vamos detalhar um pouco mais esse processo. Os metais são materiais condutores, possuindo elétrons livres. Quando estão imersos em um campo elétrico, os elétrons se movimentam conforme a direção do campo. Enquanto existir campo elétrico no interior do material, existirá corrente elétrica e os elétrons migrarão de um ponto a outro. Dessa forma, é gerada uma corrente elétrica no carro suficientemente grande para gerar um campo magnético que induzirá uma nova corrente elétrica nos fios que compõem os laços enterrados no solo ou em um receptor de radar (móvel ou estático).
Como já se conhece a diferença de espaço entre as bobinas, agora com a diferença de tempo das medidas realizadas, é possível calcular sua velocidade. Se estiver acima da velocidade permitida, o cálculo é refeito entre o segundo e o terceiro sensor. Sendo confirmado o excesso de velocidade, as câmeras armazenam a imagem do veículo.
Interessante notar que existem casos que o sensor sob a pista pode estar localizado um pouco antes da câmera. Então, se o motorista reduz só para a “câmera não pegar”, na verdade sua velocidade já foi medida, bastando esperar a foto do flagrante.
As lombadas (ou barreiras) eletrônicas se distinguem do radar fixo pela instalação de um painel com um display que mostra o valor da velocidade do veículo detectado, normalmente utilizadas em vias de velocidade mais baixa.
Já os radares móveis emitem sinais de rádio para os carros. O tempo entre uma emissão e outra é constante, mas os reflexos não oferecem a mesma constância (a menos que o veículo esteja parado). A diferença entre uma reflexão e outra representa o efeito Doppler. Com esse efeito, o mesmo equipamento de medição realiza os cálculos e fornece a velocidade para o policial responsável ou armazena a imagem do veículo.
Note que os radares móveis sim são radares, pois trabalham com emissão e recepção de sinal, permitindo inferir a distância. Cada radar desse tipo fiscaliza até duas faixas de rolamento (da esquerda ou da direita, geralmente).
O radar móvel do tipo pistola emite radiação com maior frequência (luz visível, ou seja, mira laser), portanto mais colimado, o que permite medir a velocidade de uma motocicleta. Quando utilizado na forma estática, ele é colocado em um tripé e consegue flagrar todos os veículos na rodovia com até 1 Km de distância (650 metros de forma mais precisa). Na forma portátil, o agente responsável pela fiscalização é quem manuseia o aparelho, apontando-o para um veículo para detectar sua velocidade.
Na verdade, o que geralmente é chamado como “radar móvel” pela população (inclusive aqui no texto), não é móvel, e sim estático. O radar móvel de verdade se movimenta a bordo de um veículo. No popular, é mais conhecido como “móvel” porque pode estar um dia num lugar e outro dia em outro.
No caso de medir se um carro está parado sobre a faixa de pedestres ou fechando um cruzamento durante o sinal fechado, é possível usar apenas um laço magnético sob o asfalto. A partir do momento em que o foco vermelho é ativado, é iniciada a contagem de um tempo previamente configurado (tempo de retardo). Após o término do tempo de retardo, o sistema registra a imagem do veículo infrator (após a sua passagem pelos sensores).
Ainda existe um sistema para fiscalizar a invasão de faixas exclusivas de ônibus, composto de 2 laços indutivos distantes 6 metros um do outro. É registrada a imagem do veículo se o laço da frente ainda não tiver sido tocado no instante em que o veículo tiver terminado de passar pelo laço de trás. Note que o sistema em si pode diferenciar veículos longos de curtos, mas não os autorizados dos não autorizados, sendo essa etapa realizada pela identificação das placas.
As câmeras, geralmente no alto de postes e uma para cada faixa de rolamento, ficam ligadas o tempo todo, mas não armazenam os dados de todos os carros. Quando um veículo está mais rápido do que deveria, a imagem é paralisada. Para imagens tomadas pela frente do veículo, deverá ser utilizada luz não visível (normalmente, é utilizada luz na banda do infra-vermelho) para não causar ofuscamento aos condutores.
Em alguns modelos (geralmente mais antigos), as imagens registradas são armazenadas e um agente deve copiá-las para um dispositivo móvel de armazenamento ou mesmo levar o negativo para a revelação. Os novos modelos de radares fixos enviam as imagens em tempo real para uma central via conexões de banda larga (como ADSL ou rádio), onde as imagens com as placas dos carros são digitalizadas.
A partir da imagem obtida, é possível fazer a leitura da placa e realizar a fiscalização além da velocidade. Por exemplo, podem identificar se o veículo está infringindo o rodízio municipal, realizando invasões a faixas e corredores exclusivos, se o veículo parou em cima de uma faixa de pedestre ou fechando o cruzamento, ou mesmo descobrir a localização de um carro furtado ou com licenciamento vencido. A cidade de São Paulo tem restrição à circulação de veículos na área do mini-anel viário, de segunda à sexta-feira, das 7h às 10h e das 17h às 20h, de acordo com o último número da placa do veículo.
E se frear logo antes do radar, será que evita multa?
Em parte, a resposta depende do sistema de fiscalização. Quando são os laços magnéticos, as chances de freada funcionar para escapar da multa são maiores nos que fotografam a placa traseira (ou seja, as câmeras ficam posicionadas de modo que fiquem apontadas para o mesmo sentido da via, com as linhas de aferição posicionadas mais adiante).
No caso de um radar móvel, onde a detecção de velocidade ocorre em uma “faixa” invisível, frear antes do radar pode funcionar, desde que o tempo de reação do condutor tenha sido rápido o bastante para que o carro não chegue ao campo de detecção. Já com a pistola, depende do momento em que o fiscal de trânsito realizou o disparo – ela pode registrar veículos a até um quilômetro de distância.
Identificação de veículo
A identificação da placa na imagem pode ser realizada por um ser humano ou automaticamente, através de um algoritmo para reconhecimento de imagens. A tecnologia de OCR (Optical Character Recognition) possibilitou o desenvolvimento de sistemas automáticos para Leitura Automática de Placas (LAP). O programa no computador considera o contraste entre um pixel e outro para criar linhas, e a distância dessas linhas a símbolos pré-definidos para tentar adivinhar os caracteres (letras e números) da placa. Depois, consulta a placa em um banco de dados, que contém, por exemplo, o endereço para envio da multa.
Existem sistemas de identificação automática de veículos, como o “Sem Parar” e o SINIAV (projeto do governo). O funcionamento ocorre por meio de uma “tag” (cartão de identificação que funciona por radiofrequência), instalado no espelho retrovisor do automóvel. Quando o carro se aproxima das cancelas, as antenas instaladas conectam-se com a “tag” do automóvel, processando a informação. Desse modo, é possível realizar a cobrança e liberar automaticamente as cancelas nas praças de pedágios e estacionamentos.
Caso o veículo passe direto em um pedágio sem ter a “tag” (ou não estiver com o cadastro/pagamento em dia com a operadora do serviço), um alarme soa e a placa do veículo é registrada automaticamente por fotografia. A concessionária responsável pela rodovia e pedágio não tem poder para autuar, mas ela pode enviar as imagens para a polícia rodoviária, responsável pela autuação.
Atualização 2023: novos radares experimentais vêm sendo instalados em cidades brasileiras com a tecnologia de Efeito Doppler. Nela, ondas eletromagnéticas são emitidas na direção do veículo para detectar a velocidade do veículo até 50 metros depois da passagem pelo aparelho. Ou seja, se o veículo passar da velocidade permitida logo após o radar, dentro dessa distância o equipamento é capaz de flagrar a irregularidade – e gerar a autuação. Fonte: UOL – Radar Doppler
Fontes
- Tecmundo – Como funcionam os radares de trânsito
- Fiscalização eletrônica de trânsito (artigo de Sun Hsieng Ming)
O site Sinal de Trânsito tem vários artigos mais técnicos mas de fácil compreensão muito interessantes sobre trânsito.
One comment