Um desastre natural ocorre quando um evento físico muito perigoso provoca diretamente ou indiretamente danos à propriedade e à vida. A previsão do tempo tem um forte papel na prevenção e na contenção desses eventos.
No final de abril de 2019, uma tempestade com muito vento ocorreu em cidades da Baixada Santista e do litoral norte do Estado de São Paulo. Ela já havia sido prevista pelos meteorologistas com pelo menos três dias de antecedência. A expectativa era que a velocidade dos ventos atingisse cerca de 80 km/h, o que já o suficiente para gerar muitos problemas, mas o que se viu foram vendavais de até 150 km/h – pois existe uma grande dificuldade de modelos numéricos de previsão de tempo realizarem previsões de eventos extremos.
De acordo com o meteorologista Fábio Luengo (da Somar Meteorologia), o fenômeno foi causado pela chegada de uma frente fria que se deslocava rapidamente pelo litoral, associada a uma área de instabilidade a 5 mil metros de altitude e um cavado (área de baixa pressão atmosférica). O choque da massa de ar frio com o oceano aquecido foi intenso devido à grande diferença de temperatura. Quanto maior essa diferença, mais intensos são os ventos – a temperatura da água estava em 27 graus, cerca de 1,5 grau acima da média.
Mesmo assim com as previsões, ocorreram muitos estragos, duas mortes em São Vicente e outras duas em Ilhabela: a modelo Caroline Bittencourt e o marido Jorge Sestini, que faziam um passeio de lancha e acabaram caindo no mar revolto. O marido tentou resgatá-la, mas a modelo submergiu. O corpo de Caroline foi achado no fim da tarde do dia 29 de abril por uma embarcação civil que ajudava nas buscas. A embarcação onde o casal estava foi achada por volta de meio-dia do mesmo dia, perto da praia do Massaguaçu, em Caraguá.
Muitos banhistas são enganados pelas aberturas de sol que costumam marcar o início de um dia na orla e acabam surpreendidos pelas viradas de tempo. No entanto, se observassem as previsões de tempo publicadas e ficassem atentos aos sinais do tempo, não seriam surpreendidos.
Existem muitas situações em que as pessoas ficam presas em locais de risco por falta de informação para evitar a região em horários que o perigo ronda. No entanto, em tempos com as pessoas cada vez mais conectadas, esse problema começa dar lugar a outros: desde falta de importância dada à informação até impossibilidade física de locomoção para fora do local.
Em atividades ao ar livre ou não, quanto mais inóspito o lugar, mais importância deve ser dada aos avisos das condições de tempo severo.
A ciência de base é fundamental para desenvolver modelos e técnicas para prever fenômenos com precisão cada vez melhor. No entanto, a redução de investimentos nessa área do conhecimento e os problemas na divulgação científica geram indiferença do público às informações anunciadas pela ciência. Assim, esse é mais um dos pilares em que se sustentam a ocorrência de vítimas nas chamadas “tragédias anunciadas”.
Atualização: o dono da marina enviou uma primeira mensagem com o alerta de mau tempo durante a tarde. Sestini respondeu o áudio às 15h44, agradecendo o aviso. A segunda mensagem do dono da marina foi enviada às 17h15, mas não houve uma resposta do casal. O vendaval atingiu Ilhabela por volta de 17h. Veja a transcrição das três mensagens:
Dono da marina: “Fala Jorge, tudo bom? Dá uma olhadinha aí se puder se antecipar o tempo vai ficar feio. Já mandaram um alerta lá de Itanhaém. O canal por aqui, ali por trás da ilha, está ficando ruim, tem cliente nem conseguindo navegar ali. Então, fica esperto aí. Abraço.”
Sestini: “Valeu, Magrão! Valeu pela preocupação, por cuidar da gente. Tranquilo, eu estou aqui no canal já, devo chegar aí umas 17h30 mais ou menos. Valeu!”
Dono da marina: “Fala Jorge, tudo bom? O negócio está feio, cara. O canal fechou, tá feio, e não tem previsão de terminar isso tão cedo. É bom você nem tentar atravessar o canal porque afundou barco no canal. Então, é melhor você pernoitar por aí mesmo e amanhã se o tempo tiver legal você sai mais cedo e vem embora. Porque hoje está feio o negócio. É melhor você ficar para vir amanhã, na hora que der uma melhorada. Me confirma aí, um abraço.”
No plano de navegação, Jorge ainda assinou um documento em que dizia estar ciente das condições climáticas.
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