No dia 17 de janeiro de 2025, a região de Sorocaba, no interior de São Paulo, foi palco de um fenômeno meteorológico relativamente raro e impressionante: a formação de uma supercélula, uma tempestade severa que chamou a atenção e assustou moradores devido ao seu formato característico e aos eventos climáticos associados. Vídeos e relatos nas redes sociais mostraram uma “nuvem gigante”, conhecida como “nuvem prateleira”, que se aproximou da cidade, cobrindo o céu e trazendo chuvas intensas. O fenômeno também foi visível de cidades vizinhas, como Vinhedo, Boituva e outras localidades da região.

De acordo com a Defesa Civil do Estado de São Paulo, o fenômeno atingiu a zona rural de Sorocaba, mas, felizmente, não resultou em ocorrências graves. Apesar disso, eventos como esse podem ser perigosos, pois frequentemente estão associados a granizo, ventos fortes e chuvas torrenciais. Veja como esse fenômeno se forma e quais condições meteorológicas contribuíram para sua ocorrência.
O Que é uma Supercélula?
Uma supercélula é uma tempestade severa caracterizada por uma corrente de ar ascendente rotativa no interior da nuvem, conhecida como mesociclone. Essas tempestades são raras no Brasil, mas podem ocorrer sob condições atmosféricas específicas que combinam calor intenso, alta umidade e cisalhamento do vento (variação na velocidade ou direção do vento com a altitude). O ar quente e úmido da superfície sobe rapidamente, encontrando camadas de ar mais frias na atmosfera superior. À medida que o ar sube, causa a condensação do vapor d’água e a liberação de calor latente, o que intensifica ainda mais o movimento ascendente.
Dentro da nuvem, a presença de cisalhamento do vento favoreceu a criação de uma corrente de ar giratória, formando o mesociclone. Esse movimento rotativo deu à nuvem seu aspecto visual impressionante e potencializou sua severidade. Durante algumas horas, a supercélula cobriu o céu de Sorocaba e cidades próximas, trazendo chuvas intensas e tempestades localizadas.
Condições Meteorológicas
Diversos fatores meteorológicos comuns no verão na região sudeste do Brasil contribuíram para a formação dessa supercélula:
- Aquecimento Local Intenso: Durante o verão, a radiação solar aquece rapidamente a superfície, elevando a temperatura do ar próximo ao solo. Em Sorocaba, na tarde de 17 de janeiro de 2025, esse aquecimento criou instabilidade atmosférica, favorecendo a ascensão do ar quente e úmido.
- Cisalhamento do Vento: A variação da velocidade e direção dos ventos em diferentes altitudes criou as condições ideais para a formação de um mesociclone dentro da nuvem, permitindo o giro do ar e contribuindo para o formato visual característico da supercélula.
- Jatos de Baixos Níveis e Transporte de Umidade (Rios Voadores): A presença de jatos de baixos níveis (JBNs) trouxe grandes volumes de umidade da Amazônia para a região sudeste, intensificando o potencial para chuvas severas. Esse transporte de umidade é conhecido como “rios voadores” e é fundamental para alimentar tempestades durante o verão.
- Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (ASAS): O ASAS, posicionado de forma favorável sobre o oceano Atlântico, contribuiu para a convergência de ventos úmidos em direção ao interior do continente. Essa interação intensificou a disponibilidade de umidade na região, ajudando a sustentar o desenvolvimento da tempestade.

Embora a supercélula não tenha causado danos graves, a Defesa Civil alertou que eventos desse tipo podem ser perigosos. Além de chuvas intensas, essas tempestades podem produzir granizo e ventos fortes, aumentando o risco de danos materiais e impactos à população. Fenômenos semelhantes já foram registrados no Brasil anteriormente, como em Corguinho, Mato Grosso do Sul, em 2021.
Fontes