Malta

Um pequeno arquipélago localizado no centro do Mediterrâneo, cerca de 93 km ao sul da Sicília e 288 km a nordeste da Tunísia. Devido à sua localização estratégica, Malta sempre desempenhou um papel crucial nas interações entre diferentes civilizações, culturas e impérios. Suas ilhas oferecem uma paisagem diversificada, com falésias impressionantes, praias de areia e enseadas rochosas, refletindo a rica geodiversidade da região.

Geologicamente, Malta é composta predominantemente de calcário sedimentar, formado durante o Mioceno, e suas formações rochosas revelam uma história de atividade tectônica e erosão marinha. O arquipélago é constituído por três ilhas principais habitadas: Malta (a maior e mais populosa), Gozo e Comino, além de várias ilhotas desabitadas, como Cominotto, Filfla e as ilhas de São Paulo.

O clima de Malta é mediterrânico, caracterizado por verões quentes e secos e invernos amenos e chuvosos. Durante o verão, de junho a setembro, as temperaturas frequentemente ultrapassam os 30°C, enquanto os meses de inverno, de dezembro a fevereiro, apresentam temperaturas médias em torno de 15°C. As precipitações são concentradas nos meses de outono e inverno, com novembro sendo geralmente o mês mais chuvoso. A primavera e o outono são períodos de transição com temperaturas agradáveis e menor umidade. Malta recebe uma média de 300 dias de sol por ano, tornando o clima uma das principais atrações para os turistas.

História

Os primeiros vestígios de habitação humana em Malta datam do período neolítico, cerca de 5200 a.C. Os habitantes pré-históricos deixaram um legado de templos megalíticos, como os de Ħaġar Qim, Mnajdra e Tarxien. Particularmente os Templos de Tarxien foram construídos em quatro etapas ao longo de diferentes períodos entre 3600 e 2500 a.C., refletindo uma evolução arquitetônica contínua com estruturas adicionadas e expandidas progressivamente.

Tarxien Temples. Foto: ViniRoger
Tarxien Temples. Foto: ViniRoger

Por volta de 1000 a.C., os fenícios, grandes navegadores e comerciantes, colonizaram Malta, estabelecendo-a como um importante entreposto comercial. Seguiram-se os cartagineses e, mais tarde, os romanos, que anexaram Malta em 218 a.C. Durante o período romano, Malta prosperou, adotando a língua e a cultura romana, e tornando-se um importante centro de produção de azeite e vinho.

Com a queda do Império Romano, Malta passou por uma série de domínios, incluindo o controle dos bizantinos e dos árabes. A ocupação árabe, que começou em 870 d.C., teve um impacto duradouro na cultura maltesa, introduzindo novas técnicas agrícolas, sistemas de irrigação e influenciando a língua maltesa, que ainda hoje contém muitos elementos árabes.

Em 1091, o Conde Roger I da Sicília conquistou Malta, integrando-a ao Reino da Sicília. Ao longo dos séculos seguintes, continuou sob o domínio de várias potências europeias, incluindo o Reino de Aragão (que depois seria dominado pelo Reino de Castela para formar a Espanha atual).

Em 1530, o Sacro Imperador Romano Carlos V concedeu Malta à Ordem dos Cavaleiros de São João, uma ordem militar e religiosa que havia sido expulsa de Rodes pelos otomanos. Sob o comando da Ordem, Malta tornou-se uma fortaleza inexpugnável e um bastião do cristianismo contra as incursões otomanas. O Grande Cerco de Malta em 1565, em que os cavaleiros e os malteses repeliram um imenso exército otomano, foi um ponto de virada crucial, consolidando o papel de Malta na história europeia.

Os Cavaleiros de São João também embelezaram a ilha com magníficas obras de arquitetura barroca, incluindo a construção da nova capital, Valletta, que foi projetada como uma cidade fortificada de acordo com os mais modernos princípios de fortificação da época. Deles que vem a cruz de Malta, símbolo do país.

Em 1798, durante a campanha do Egito, Napoleão Bonaparte tomou Malta sem resistência significativa dos Cavaleiros. Contudo, o domínio francês foi breve. Em 1800, após um bloqueio e a ajuda da frota britânica, os malteses expulsaram os franceses e Malta tornou-se um protetorado britânico, e posteriormente uma colônia em 1814 pelo Tratado de Paris.

Sob o domínio britânico, Malta foi transformada em uma importante base naval, especialmente durante as Guerras Napoleônicas e as duas Guerras Mundiais. A resistência e resiliência do povo maltês durante o cerco levaram o Rei Jorge VI a conceder a Cruz de Jorge a Malta em 1942.

Malta tornou-se independente do Reino Unido em 21 de setembro de 1964, mantendo-se como um membro da Commonwealth. Em 1974, Malta tornou-se uma república, com o Presidente substituindo a Rainha como chefe de Estado. Malta aderiu à União Europeia em 2004 e adotou o euro como moeda oficial em 2008.

Hoje, Malta é uma nação próspera, com uma economia diversificada que inclui turismo, finanças, tecnologia da informação e jogos online. A rica herança cultural e histórica de Malta, aliada ao seu clima ameno e localização estratégica, continua a atrair visitantes e investidores de todo o mundo.

Atrações turísticas

As casas de pedras amareladas e as varandas coloridas são símbolos da identidade cultural e estética da ilha, junto com suas vielas estreitas. As construções em Malta são predominantemente feitas de blocos de calcário amarelado, conhecido como “Globigerina Limestone”, devido à abundância desse material na ilha. Esse tipo de pedra, além de ser fácil de extrair e moldar, possui boas propriedades térmicas, ajudando a manter os edifícios frescos no clima quente do Mediterrâneo. A arquitetura maltesa também reflete diversas influências históricas, como a dos árabes e dos Cavaleiros de São João, e é marcada pelas varandas fechadas chamadas “gallarijas”, que oferecem privacidade e ventilação. É comum também existirem pés de Bougainvillea, uma planta trepadeira é muito comum em Malta e famosa por suas brácteas (folhas modificadas) coloridas, que parecem flores e variam de rosa escuro a roxo.

Rua de casas com blocos de calcário amarelado e varandas típicas de Malta na cidade de Sliema. Foto: ViniRoger
Rua de casas com blocos de calcário amarelado e varandas típicas de Malta na cidade de Sliema. Foto: ViniRoger

A maioria dos pontos turísticos estão na ilha principal (Malta). As ilhas de Gozo e Comino tem várias atrações e um post próprio. A capital de Malta, Valletta, e as Três Cidades do lado oposto ao Grand Harbour (baía com porto) também são apresentadas em outro post, assim como Mdina e Rabat. Aqui seguem pontos de interesse em outras cidades da ilha de Malta – um mapa das divisões administrativas pode ser visto no link.

O Fort Manoel está localizado na Ilha Manoel, em frente a Gżira, uma cidade próxima a Valletta, sendo um exemplo notável da arquitetura militar barroca construída pelos Cavaleiros de São João no século XVIII. O forte foi nomeado em homenagem ao Grão-Mestre António Manoel de Vilhena, que ordenou sua construção entre 1723 e 1755 como uma defesa estratégica para o Porto de Marsamxett. Fort Manoel ganhou fama internacional por ter sido uma das locações da série “Game of Thrones”, sendo o cenário da execução de Ned Stark na primeira temporada, onde foi representada a Praça de Baelor em King’s Landing. Nos últimos anos, o forte vem passando por um extenso projeto de restauração iniciado em 2001, e por isso abre poucas vezes ao ano.

Saint Julian’s, ou San Ġiljan em maltês, é uma vibrante cidade costeira situada ao longo da costa de Malta, conhecida por sua vida noturna animada e atrações turísticas. Originalmente uma tranquila vila de pescadores, Saint Julian’s se transformou em um destino popular tanto para locais quanto para visitantes internacionais, oferecendo uma variedade de restaurantes, bares, clubes e hotéis de luxo. A área mais icônica da cidade é o St. George’s Bay, uma enseada protegida com uma praia de areia fina e águas cristalinas, ideal para relaxamento e atividades aquáticas.

Spinola Bay em Saint Julian's, enfeitada em um sábado a noite do final de agosto. Foto: ViniRoger
Spinola Bay em Saint Julian’s, enfeitada em um sábado a noite do final de agosto. Foto: ViniRoger

O Hypogeum de Ħal Saflieni é um complexo subterrâneo de câmaras funerárias que data de aproximadamente 4000 a.C., na cidade de Paola. É um sítio arqueológico significativo, listado como Patrimônio Mundial da UNESCO, mas apresenta umas avaliações negativas no Google Maps que valem uma leitura antes de planejar uma visita.

As Ilhas de São Paulo, conhecidas em maltês como “Selmunett”, são um pequeno arquipélago localizado ao largo da costa nordeste de Malta, próximo a Mellieħa. Compostas por duas ilhotas principais, essas ilhas são um local de interesse histórico e natural, abrigando uma estátua de São Paulo que rememora a tradição cristã de que o apóstolo naufragou nas proximidades em 60 d.C. A estátua, erigida em 1845, celebra esse evento significativo para a história religiosa de Malta, pois São Paulo é considerado o responsável pela introdução do Cristianismo na ilha. Já a Gruta de São Paulo, localizada em Rabat, é um local sagrado onde se acredita que o apóstolo viveu e pregou durante seu naufrágio na ilha, sendo um importante símbolo do início do Cristianismo em Malta.

A Rotunda de Mosta, também conhecida como Igreja de Santa Maria, é uma impressionante igreja católica em Mosta, famosa por sua enorme cúpula, uma das maiores do mundo sem suporte interno. Durante a Segunda Guerra Mundial, em 9 de abril de 1942, a igreja foi alvo de um incidente notável que ficou conhecido como o “Milagre da Bomba de Mosta”. Durante uma missa com mais de 300 pessoas presentes, uma bomba aérea alemã de 500 kg perfurou a cúpula e caiu no interior da igreja, mas, surpreendentemente, não explodiu. Dois outros projéteis também caíram, mas sem causar danos. Nenhum dos presentes foi ferido, e o fato foi amplamente considerado um milagre pela população local. Hoje, uma réplica da bomba está em exposição dentro da igreja.

Exterior e interior da Rotunda de Mosta. Fotos: Eliana Reis
Exterior e interior da Rotunda de Mosta. Fotos: Eliana Reis

As Victoria Lines são uma linha de fortes, redutos, muralhas e trincheiras que se estendem por aproximadamente 12 quilômetros ao longo da largura de Malta, construídas no século XIX pelos britânicos. Conhecidas como a “Grande Muralha de Malta”, essas fortificações seguem o contorno natural de uma escarpa rochosa, servindo como uma linha defensiva que divide o norte do sul da ilha. A construção começou em 1875 e foi concluída em 1897, sendo nomeada em homenagem à Rainha Vitória para celebrar o seu Jubileu de Diamante.

Għar Dalam Cave é uma caverna pré-histórica localizada no sudeste de Malta, na cidade de Birżebbuġa, sendo um dos sítios arqueológicos mais importantes da ilha. Conhecida como “Caverna das Trevas”, Għar Dalam remonta a cerca de 500.000 anos atrás e abriga uma rica coleção de fósseis e artefatos que revelam a história natural e humana local. A caverna contém ossos fossilizados de animais extintos, como elefantes anões e hipopótamos, que datam de uma época em que Malta fazia parte do continente europeu. Além disso, os níveis superiores da caverna exibem evidências de ocupação humana que datam de cerca de 7.400 anos, oferecendo um vislumbre da vida dos primeiros habitantes neolíticos da ilha.

Próximo ao complexo dessa caverna, está outro importante sítio arqueológico: Borġ in-Nadur. O local é conhecido por suas ruínas de um templo megalítico e uma fortificação da Idade do Bronze, que datam de aproximadamente 2000 a.C. As ruínas do templo, com suas grandes pedras e entradas monumentais, indicam a importância religiosa do local, enquanto as muralhas defensivas que cercam o assentamento sugerem que seus habitantes estavam preocupados com invasões ou conflitos.

A vila de pescadores de Marsaxlokk é famosa pelo mercado de peixe aos domingos e pelos tradicionais barcos de pesca malteses, chamados de “luzzus”, pintados com cores vibrantes. Ainda na na costa sudeste e perto da vila, está a piscina natural de St. Peter’s Pool. Conhecida por suas águas cristalinas de um azul-turquesa vibrante, a formação rochosa que circunda a piscina cria uma série de plataformas naturais, perfeitas para relaxar ou dar saltos no mar. O acesso à St. Peter’s Pool é um pouco desafiador devido ao terreno acidentado, sendo longe das praias mais convencionais e urbanizadas da ilha.

Ħaġar Qim e L-Imnajdra são dois notáveis complexos megalíticos situados no sul de Malta, na vila de Qrendi, ambos datados de aproximadamente 3600 a.C. a 3200 a.C.. O complexo de Ħaġar Qim é famoso por suas enormes estruturas de pedra e templos de formato circular e retangular, com impressionantes alinhamentos astronômicos, incluindo uma pedra que marca o nascer do sol no solstício de verão. L-Imnajdra, situado a cerca de 500 metros ao sudoeste, é composto por três templos interligados, conhecidos por suas sofisticadas estruturas de pedra e também por seus alinhamentos astronômicos que coincidem com eventos solares e lunares.

Próximo desses templos, está a Blue Grotto: um conjunto de cavernas marinhas acessíveis por barco, conhecidas pelas águas azuis intensas e formações rochosas impressionantes. Uma dica de visitação é pegar um ônibus e descer no ponto chamado “panoramico”, de onde se desce um pequeno acesso de terra para uma vista de cima da Blue Grotto. Depois é só descer o caminho mais a frente que os carros descem e fazer o passeio de barco, que dura uns 20 minutos. Existe um outro ponto de ônibus na parte mais baixa, que pode ser usado para evitar a subida íngrime até a parte mais alta.

Blue Grotto vista a partir de mirante. Foto: ViniRoger
Blue Grotto vista a partir de mirante. Foto: ViniRoger

Originalmente construído como cenário para o filme “Popeye” de 1980, a Popeye’s Village hoje é um parque temático com atividades para famílias e shows ao vivo. Ele pode ser visto todo a partir do outro lado da baía gratuitamente. “Popeye” é um filme do gênero comédia musical produzido pela Walt Disney e uma adaptação da tira de jornal “Thimble Theatre” do cartunista E. C. Segar, onde surgiram os famosos personagens Popeye, Olívia Palito e Brutus. Nele, estrelam Robin Williams como Popeye e Shelley Duvall como Olivia Palito.

Popeye's Village. Foto: ViniRoger
Popeye’s Village. Foto: ViniRoger

Situado na vila de Mġarr, o templo Ta’ Ħaġrat é um dos monumentos megalíticos mais antigos da ilha, datando de cerca de 3600-3200 a.C. É composto por duas estruturas principais e acredita-se que tenha sido um local de culto religioso na era pré-histórica. As escavações no local revelaram várias relíquias arqueológicas, como cerâmicas e esculturas. Próximo, está o templo de Skorba (Tempji Ta’ Skorba), construído entre 3600 e 2500 a.C.. O local foi descoberto mais tardiamente em relação a outros templos malteses e forneceu informações valiosas sobre as fases iniciais da civilização maltesa. Suas ruínas mostram evidências de um santuário, e cerâmicas foram encontradas no local.

Transporte

A principal forma de se chegar em Malta é através do aeroporto internacional, localizado em Luqa. Muitas companhias aéreas europeias oferecem voos diretos para Malta, tornando-o facilmente acessível para viajantes de todo o continente. Além disso, Malta também pode ser alcançada por ferry de outras ilhas do Mediterrâneo, como Sicília, proporcionando uma opção cênica e relaxante para chegar ao arquipélago.

Os ferries são uma opção viável para se deslocar entre as duas ilhas principais de Malta. Operados pela empresa Gozo Channel, os ferries oferecem uma experiência tranquila (no caso de barcos grandes) e pitoresca, com travessias frequentes ao longo do dia. Para Comino, são oferecidos passeios em barcos menores por outras empresas em forma de cooperativa.

O transporte público em Malta é formado por um sistema de ônibus que cobre praticamente toda a ilha mas muitas vezes necessitando de baldeações. Operados pela empresa pública Malta Public Transport, os ônibus são conhecidos por sua cobertura extensa e horários regulares. Os veículos são modernos e confortáveis, oferecendo uma maneira acessível e prática de explorar as principais cidades, praias e pontos turísticos de Malta.

Para utilizar o transporte público, é possível adquirir os bilhetes diretamente no próprio ônibus em dinheiro ou simplesmente encostando seu cartão de débito com tecnologia sem contato. É emitido um papel na hora com validade de 2 horas para realizar baldeações, bastando apresentar o papel ao motorista. Também é possível adquirir cartões em diferentes pontos estratégicos, incluindo o aeroporto e através de totens de autoatendimento.

O Tallinja é o aplicativo oficial do transporte público de Malta. Permite traçar rotas e acompanhar em tempo real a chegada dos ônibus nos pontos, informando o tempo de espera. Os pontos de ônibus possuem totens informativos com os horários e números das linhas. Mesmo que a parada exata não seja encontrada imediatamente, há sempre outra parada nas proximidades onde as informações podem ser verificadas. Com o uso combinado dos aplicativos Google Maps e Tallinja, é fácil planejar trajetos e evitar atrasos, garantindo uma experiência de transporte público eficiente em Malta.

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