Iansã: ventos e tempestades

No carnaval de 2025, a escola de samba Barroca Zona Sul levou para o Sambódromo do Anhembi uma homenagem à orixá Iansã com o enredo “Os Nove Oruns de Iansã”. O tema celebra a divindade dos ventos e tempestades e destaca seu papel como condutora das almas para um dos nove oruns (céus) na tradição iorubá.

Carro abre-alas da Barroca Zona Sul no carnaval 2025: Leve Como Borboleta, Forte Como Búfalo. Fonte: TV Globo
Carro abre-alas da Barroca Zona Sul no carnaval 2025: Leve Como Borboleta, Forte Como Búfalo. Fonte: TV Globo

A Barroca Zona Sul é uma das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo, levando para a avenida enredos que exaltam a cultura afro-brasileira e a ancestralidade. Fundada em 1974, adotou as cores verde e rosa em homenagem à Estação Primeira de Mangueira, outra escola de samba mas do Rio de Janeiro. A cada ano, cada escola cria seu samba-enredo, que é formado de melodia e letras criada a partir de um tema escolhido para o desfile.

Cultura africana

Os iorubás são um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental, principalmente concentrados na Nigéria, mas também presentes no Benim e no Togo. Detentores de uma rica tradição cultural e religiosa, os iorubás desenvolveram um complexo sistema de crenças baseado no culto aos orixás, divindades que regem diferentes aspectos da vida e da natureza. Sua mitologia, transmitida oralmente por gerações, influenciou profundamente as religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, trazidas ao Brasil pelos africanos escravizados. Além da espiritualidade, os iorubás se destacam por suas expressões artísticas, como a escultura em bronze e madeira, a música dos tambores e a tradição da narrativa oral, que preserva mitos, lendas e ensinamentos ancestrais.

O Candomblé e a Umbanda são religiões afro-brasileiras que cultuam os orixás, divindades associadas às forças da natureza e aos elementos do mundo espiritual. O Candomblé tem raízes diretas nas tradições religiosas de povos africanos, especialmente os iorubás, os jejes e os bantus, mantendo ritos ancestrais e transmitindo conhecimento através da oralidade. A Umbanda, por sua vez, nasceu no Brasil, mesclando elementos do Candomblé, do espiritismo kardecista e do catolicismo, promovendo o culto a entidades espirituais que auxiliam os fiéis em suas jornadas.

Divindades

Os orixás são entidades espirituais que representam diferentes aspectos da natureza e da vida humana. Eles não são deuses supremos, mas sim intermediários entre o mundo divino e o mundo terreno, influenciando os caminhos dos seres humanos. Cada orixá possui características específicas e é cultuado com rituais, danças e oferendas que evocam sua presença e seu poder.

Iansã, conhecida também como Oyá, é uma das mais reverenciadas orixás do panteão iorubá. Senhora dos ventos, das tempestades e do fogo, é símbolo de coragem, independência e transformação. Representa o ímpeto da vida e a força feminina indomável, sendo associada ao movimento e às mudanças bruscas que impulsionam o destino. Na tradição, Iansã também tem o dom de transitar entre os mundos, sendo a condutora das almas dos mortos, guiando-os para os oruns.

Os oruns são os diferentes céus ou esferas espirituais na cosmologia iorubá, cada um destinado a um tipo específico de alma. São nove ao todo, e para cada espírito há um orun correspondente, dependendo da trajetória e das ações em vida. Iansã, com seu poder sobre os ventos, conduz essas almas ao destino que lhes é reservado, garantindo que cumpram seu ciclo e encontrem repouso ou preparação para um novo caminho.

Seu nome, Oyá, está ligado ao rio Níger na África, e sua energia simboliza o movimento rápido e incontrolável da natureza, manifestando-se em redemoinhos, rajadas de vento e trovões. Como senhora dos ventos, ela é responsável por varrer energias estagnadas, trazer mudanças bruscas e renovar ciclos, tanto na natureza quanto na vida humana. Seu domínio sobre as chuvas e tempestades reforça seu papel de transformação, pois essas forças naturais tanto podem destruir quanto fertilizar a terra, permitindo o recomeço.

Xangô, por sua vez, é o orixá do trovão, dos raios e da justiça. Enquanto Iansã governa os ventos e as tempestades, Xangô é quem comanda os trovões e os relâmpagos, castigando com sua fúria aqueles que cometem injustiças. Ele é frequentemente representado com um machado duplo, símbolo de sua força, e sua relação com as tempestades indica seu poder sobre o equilíbrio e a ordem. Na mitologia iorubá, Xangô e Iansã possuem uma forte conexão, sendo considerados parceiros tanto em batalha quanto no amor. Segundo as lendas, Iansã teria aprendido com Xangô a manipular os raios e a cuspir fogo, tornando-se uma de suas mais leais guerreiras. Juntos, eles representam a força dos elementos da natureza em seu estado mais intenso e transformador.

Além de Iansã, outros orixás também estão ligados a fenômenos meteorológicos. Nanã, por exemplo, é a orixá das águas paradas e dos pântanos, representando a lama primordial da criação. Ela rege as chuvas persistentes e os ciclos da vida e da morte, sendo associada à sabedoria ancestral e à passagem dos espíritos. Oxum, a senhora dos rios e cachoeiras, está conectada às águas doces e à fertilidade, enquanto Iemanjá, a grande mãe, governa os mares e oceanos, influenciando as marés e o fluxo das águas. Obá, uma guerreira como Iansã, também possui ligação com os rios caudalosos e sua força indomável.

Fontes

  • g1 – Barroca Zona Sul: veja o enredo e cante o samba
  • Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
  • Verger, Pierre. Orixás: Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. São Paulo: Corrupio, 1981.
  • Santos, Juana Elbein dos. Os Nàgô e a Morte: Padrões de Culto Funerário no Candomblé. Petrópolis: Vozes, 1986.

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