Ferrovia Paranaguá-Curitiba

Um dos passeios de trem mais curiosos do mundo fica no Brasil, fazendo o trajeto entre Curitiba e Paranaguá. Transportando cerca de 150 mil pessoas por ano, o roteiro é o segundo atrativo turístico do Paraná, atrás apenas da cidade de Foz do Iguaçu.

O passeio

Diariamente há trens partindo de Curitiba (estação Rodoferroviária) para Morretes e, aos domingos, até Paranaguá, com partida de manhã e retorno a tarde. No saguão de espera para o embarque, ficam as bilheterias, informações turísticas e uma maquete de ferromodelismo muito bem feita.

Locomotiva da ALL. Foto: ViniRoger.
Locomotiva da ALL. Foto: ViniRoger.

A composição inteira é puxada por uma locomotiva da ALL (América Latina Logística, concessionária da ferrovia) e pode chegar a 21 vagões (mais um cargueiro), com capacidade total de transportar 1.104 passageiros por passeio. São divididas em quatro classes: econômico (os bancos lembram os de ônibus), turístico (com serviço de bordo simples), executivo (kit lanche diferenciado e guia bilíngue) e camarote (6 cabines exclusivas com até 8 lugares cada).

As janelas do trem são amplas e a viagem dura aproximadamente três horas até Morretes. É possível levantar durante a viagem para observar do outro lado do vagão: para quem sai de Curitiba, do lado direito tem atrações como a Represa Caiguava e a estação de Roça Nova, enquanto que do lado esquerdo estão a maioria das estações, cachoeira Véu da Noiva e a vista panorâmica da serra e litoral. Um guia em cada vagão avisa os momentos de tirar boas fotos e conta a história de cada trecho.

A ferrovia

Com 110 km de extensão, mais de 13 túneis, 30 pontes e vários viadutos, as estruturas mais surpreendentes da ferrovia são a Ponte São João (com 118 metros de extensão), o Viaduto do Carvalho (um contorno sobre uma montanha com a sensação de estar flutuando), e o túnel Roça Nova (com 457 metros de extensão e 900 metros acima do nível do mar). Além disso, antigas estações, cachoeiras, represas e vegetação bem próxima ao trem tornam o passeio uma experiência única.

Vagões do trem Paranaguá - Curitiba. Foto: ViniRoger.
Vagões do trem Paranaguá – Curitiba. Foto: ViniRoger.

Foi uma obra que teve de vencer os obstáculos da Serra do Mar, que pareciam intransponíveis nos anos 1880. Aberta pela então E. F. do Paraná, o primeiro trecho foi inaugurado em 1883, na baixada, e no início de 1885 alcançava Curitiba. Foi a primeira ferrovia do Estado do Paraná, prolongada apenas em 1891 a partir de Curitiba. Em 1892, um ramal partindo de Morretes foi construído para levar o trem até outro porto, o de Antonina. A linha, incorporada depois pela RVPSC, passou ao controle federal da RFFSA em 1957 e em 1997 foi incorporada na privatização pela FSA (Ferrovia Sul-Atlântica), que em 1998 tornou-se a ALL.

Nos mesmos trilhos, também circulam trens de carga que podem conter até 88 composições. Existem alguns pontos com trilhos paralelos que permitem a ultrapassagem quando estão em sentido contrário – faz lembrar aqueles exercícios de Física, que dava o tamanho dos trens e a velocidade de cada e quanto tempo demorariam para um ultrapassar o outro. Tudo é monitorado por uma sala de controle, através de quilômetros de fibra óptica. A prioridade é para trens de passageiros.

Mapa das estradas da região Curitiba - Paranaguá. Fonte: livro "As montanhas do Marumbi" dentro do especial "Ferrovia 130 anos".
Mapa das estradas da região Curitiba – Paranaguá. Fonte: livro “As montanhas do Marumbi” dentro do especial “Ferrovia 130 anos”.

Estações e pontos importantes

Dentre as estações que foram construídas em madeira, a maioria foi demolida, sendo que algumas foram substituídas por modelos de alvenaria nos anos 1940. Somente são realizadas paradas para embarque/desembarque em Curitiba, Marumbi, Morretes e Paranaguá. O trem é Paranaguá – Curitiba, por isso a numeração dos túneis e dos vagões começa de Paranaguá. Geralmente, os passageiros saem de Curitiba para Morretes e voltam de estrada rodoviária, já que a subida é mais lenta e muitas vezes é mais barato e rápido voltar de van/ônibus – por isso segue uma descrição das estações e pontos importantes no sentido do planalto para a baixada.

* Curitiba

A capital do Paraná é internacionalmente reconhecida pelo tratamento diferenciado que oferece às questões sócio-ambientais: reciclagem do lixo, educação ambiental, área verde recorde por habitante entre as capitais brasileiras e sistema de transporte público modelo. Alguns dos principais pontos turísticos são o Museu Oscar Niemeyer (ou “museu do olho”), o Jardim Botânico, o Teatro Ópera de Arame, o centro histórico e a Torre Panorâmica (Telepar), além de diversos parques. Veja mais sobre Curitiba clicando no link.

A estação de Curitiba foi inaugurada em 1885. Em 1972, foi inaugurada a estação de Curitiba-nova, ou Rodoferroviária. Hoje, somente sobram os trilhos à frente da plataforma, abrigando algumas locomotivas e carros que fazem parte do museu que está instalado dentro da estação. Em 1909, foi inaugurada a ligação ferroviária com as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, através da junção do ramal de Itararé, da Sorocabana, e da linha Itararé- Uruguai, na então São Pedro do Itararé. No ano seguinte, por Marcelino Ramos, seria possível também viajar para Porto Alegre.

* Engenheiro Theodoro Stresser

Apenas um posto de cruzamento de trens aberto em 1985 pela RFFSA, entroncamento com a variante para o ramal de Rio Branco, antiga E. F. Norte do Paraná. Possui oficinas onde são feitas as manutenções nas locomotivas e vagões. O posto foi demolido, sobrando a placa e algumas casa de madeira, provavelmente da vila ferroviária.

* Quilômetro 103

Apenas um posto de cruzamento de trens aberto em 1986 pela RFFSA de onde sai a variante Pinhais-Engenheiro Bley.

* Pinhais

Estação dos anos 1940, desativada.

* Engenheiro Coral

Apenas um posto de cruzamento de trens aberto em 1986 pela RFFSA.

* Leprosário

Somente uma parada com plataforma, sem estrutura.

* Piraquara

É o ponto mais alto da ferrovia, com altitude de 955 metros. Fundada em 1889, a cidade tem muitos mananciais que também foram as nascentes do Rio Iguaçu, além do primeiro reservatório de água que abasteceu Curitiba, inaugurado em 1908. As grandes florestas de araucárias da região foram o principal produto de transporte da estrada de ferro e uma das razões de sua viabilidade econômica. A estação original foi substituída nos anos 1940 pelo prédio atual, que foi restaurado e hoje abriga um pequeno museu. Em uma das opções de pacotes, é possível jantar no restaurante Obra Prima, próximo à antiga estação.

* Roça Nova

Reformada, pertence a uma vinícola como atração turística, fica próxima do túnel de mesmo nome, o primeiro do trajeto Curitiba-Paranaguá. O túnel original, com diâmetro menor e desativado desde 1969, fica logo ao lado direito do atual e faz parte da vinícola, onde são guardados os vinhos.

* Banhado

De 1943, atual pernoite da ALL, é o fim do trecho eletrificado desde Curitiba (1953-1970).

* Véu da Noiva

Antiga estação Ypiranga, dos anos 1940, está abandonada. Próximo, está a antiga moradia do engenheiro da linha, também abandonada.

* Cadeado

Demolida, próxima à capela do cadeado e da cruz onde foram fuzilados presos políticos, dentre eles o Barão do Serro Azul.

Ponte São João. Fotos: ViniRoger.
Ponte São João. Fotos: ViniRoger.

Nesse trecho, começa um dos trechos mais espetaculares. A Ponte São João, com 118 metros de extensão, possui três pilares de ferro que sustentam dois vãos. O trem passa por uma altura de 58 metros (o equivalente a um edifício de 24 andares). O Viaduto do Carvalho possui os trilhos construídos sobre 5 pilares de sustentação construídos junto às pedras do Morro do Rochedo, criando a sensação de que os vagões parecem flutuar sobre o precipício, já que os passageiros não conseguem ver a base dos trilhos. Originalmente foi planejado um túnel, mas o excesso de explosivos usados durante a perfuração fez com que a encosta fosse abaixo.

Viaduto do Carvalho e túnel que existe logo antes. Fotos: ViniRoger.
Viaduto do Carvalho e túnel que existe logo antes. Fotos: ViniRoger.

* Marumbi

Prédio também substituído por alvenaria nos anos 1940, serve de parada para as trilhas de ecoturismo. Faz parte do Parque Estadual Pico do Marumbi, que também possui um Centro de Visitantes com Museu, Polícia Florestal, Camping e a sede do COSMO (Corpo de Socorro em Montanha), além do Reservatório do Carvalho.

Estação Marumbi. Foto: ViniRoger.
Estação Marumbi. Foto: ViniRoger.

* Engenheiro Lange

Estação de 1935, abandonada.

* Porto de Cima

Dos anos 1940, abandonada.

* Eng. Roberto Costa

Apenas um posto de cruzamento de trens aberto em 1987 pela RFFSA.

* Morretes –> saída do ramal de Antonina (estação de Antonina é atualmente o centro cultural da Prefeitura)

Fundada em 1721, é uma simpática cidade de natureza exuberante e centro histórico bem preservado no estilo colonial. Dentre suas atrações gastronômicas, estão as balas de banana com gengibre, sorvete de banana e o barreado, um prato típico do litoral paranaense feito após o cozimento de carne bovina em uma panela de barro vedada durante horas e misturado com farinha de mandioca e banana da terra.

Centro histórico de Morretes. Foto: ViniRoger.
Centro histórico de Morretes. Foto: ViniRoger.

A estação de Morretes foi inaugurada em 1883 e hoje parcialmente demolido. A partir de 1892, passou a ser a estação de saída para os trens do ramal de Antonina. Por volta de 1950, o prédio original deu lugar a uma estação com características modernas.

Centro histórico de Morretes. Foto: ViniRoger.
Centro histórico de Morretes. Foto: ViniRoger.

* Saquarema

Demolida.

* Alexandra

Fechada, única estação que conserva seu traçado original.

* Quilômetro 5

Prédio de 1986, de uso pela ALL.

* Porto Dom Pedro II

Demolida.

* Paranaguá

Primeiro município fundado no estado, é cercado pela Serra do Mar e pela Mata Atlântica. Seu crescimento se deu através da construção da Estrada de Ferro, que impulsionou o Porto, um dos maiores do Brasil. A estação de Paranaguá foi inaugurada em 1883. Assim como a estação, seus museus, igrejas e casarios antigos são as principais atrações turísticas. Não é tão visitada por ser uma cidade predominantemente portuária, deixando a preservação histórica em segundo plano. O trecho de planície acaba se tornando um pouco “monótono” depois do “emocionante” trecho de serra até Morretes, desanimando também os turistas de seguirem viagem até o começo da linha.

Vista da baixada paranaense e do conjunto do Marumbi a partir dos trilhos da ferrovia na Serra do Mar. Foto: ViniRoger.
Vista da baixada paranaense e do conjunto do Marumbi a partir dos trilhos da ferrovia na Serra do Mar. Foto: ViniRoger.

Outros passeios

A empresa Serra Verde Express, criada em 1996 pelo grupo High Service, administra o trecho ferroviário apresentado – antes, o serviço era gerido pelo Governo Federal por meio da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). No início de 2007, renovaram a concessão por mais 10 anos junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Em 2008, lançaram o Great Brazil Express, o primeiro trem de luxo do país: são dois vagões, chamados “Foz” e “Copacabana”, com 22 lugares cada, poltronas de couro, sofás de veludo e Bar. Além de operar o trecho entre Ponta Grossa e Cascavel (em breve, até Foz do Iguaçu), no interior do Paraná, o Trem de Luxo opera também entre as cidades de Curitiba e Morretes e entre Curitiba e Piraquara, também fazendo um diferente passeio noturno. Também administram o Trem do Pantanal (que liga as cidades de Campo Grande e Miranda, no Mato Grosso do Sul) desde 2009 e o Trem das Montanhas Capixabas (que liga o litoral às montanhas do Espírito Santo) desde 2010.

Vagões Litorina Standard (veículo automotriz com ar refrigerado) e Litorina de Luxo (poltronas de couro, sofás de veludo e Bar). Foto: ViniRoger.
Vagões Litorina Standard (veículo automotriz com ar refrigerado) e Litorina de Luxo (poltronas de couro, sofás de veludo e Bar). Foto: ViniRoger.

A linha unindo Curitiba a Ponta Grossa teve o seu primeiro trecho aberto em 1891, chegando a Ponta Grossa em 1894. Depois foram construídos ramais e variantes. No início dos anos 1990, já não sobrava mais nada da antiga linha em seu leito original.

Ilha do Mel vista do Farol das Conchas (abaixo, ao pôr do sol, visto do barco). Fotos: ViniRoger.
Ilha do Mel vista do Farol das Conchas (abaixo, ao pôr do sol, visto do barco). Fotos: ViniRoger.

Uma opção de passeio para depois da viagem de trem é contratar um translado para Pontal do Sul e balsa até a Ilha do Mel – dá para ir de Paranaguá também, mas a viagem de barco demora duas horas. As balsas vão para Nova Brasília (centro) ou Encantadas (mais ao Sul). A ilha faz parte do município de Paranaguá, sendo administrada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) – aproximadamente 95% de sua área é considerada de preservação ambiental. Possui um restrito programa de manejo, não permitindo a tração animal ou a motor e restringindo a presença de visitantes em alguns lugares. A ilha possui quatro pontos turísticos de destaque: ao norte, a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, do século XVIII; no centro, o Farol das Conchas (de 1872); ao Sul, a gruta das Encantadas, fenda natural de 20 metros de altura esculpida pelo mar e acessível por passarela. Do Farol, tem-se uma vista de quase toda a ilha, sendo acessível por trilha com escadaria a 20 minutos de caminhada de Nova Brasília.

Farol das Conchas - Ilha do Mel. Fotos: ViniRoger.
Farol das Conchas – Ilha do Mel. Fotos: ViniRoger.

Estrada da Graciosa

Uma interessante opção de retorno a Curitiba é através da estrada rodoviária da Graciosa (ou Rodovia PR-410). Utiliza a antiga rota dos tropeiros em direção ao litoral do Estado, que a utilizavam como rota de escoamento da produção agrícola (café, erva-mate e madeira) rumo ao Porto de Paranaguá e ao Porto de Antonina. Começa no município de Quatro Barras (Região Metropolitana de Curitiba), com um belo portal de acesso visível da Régis Bittencourt (BR-116), e vai até as cidades de Antonina e Morretes.

São 33 quilômetros calçados em paralelepípedos e repleto de curvas sinuosas evolvidas por encostas de rica vegetação, rios e cachoeiras. Existem mirantes estratégicos que permitem visualizar morros, picos e o mar. A estrada foi inaugurada em 1873 e requer baixa velocidade. Vá somente em dias de sol, já que a ocorrência de nevoeiros é constante – isso tira a beleza das vistas e aumenta o risco de acidentes.

Fontes

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