Avião é danificado por granizo

Em 26 de outubro de 2022, um avião saiu de Santiago (Chile) com destino ao Paraguai mas precisou fazer uma mudança de rota em Foz do Iguaçu devido a uma previsão de fortes tempestades. Viralizaram imagens do nariz do avião quebrado por granizo e um vídeo de passageiros assustados durante uma forte turbulência.

Para-brisas comprometido pelo granizo do avião do voo LA1325 de 26/10/2022. Fonte: redes sociais
Para-brisas comprometido pelo granizo do avião do voo LA1325 de 26/10/2022. Fonte: redes sociais

Sobre o voo

Um avião Airbus A320-214 partiu no voo LA1325 da Latam às 15h50 (26/10/2022) de Santiago, capital do Chile, com destino o aeroporto Luque, na região metropolitana de Assunção (Paraguai). Quando já sobrevoavam o território paraguaio por volta de 21h, os pilotos se depararam com formações de nuvens pesadas. Isso levou à decisão de alternar o voo para Foz do Iguaçu (Paraná), permanecendo ali por algumas horas. Por fim, o avião retomou a viagem e pousou em Assunção por volta das 23h, com vários danos na sua estrutura.

Informações do voo LA1325, com destaque para a região de Assunção. Fonte: Flightradar24
Informações do voo LA1325, com destaque para a região de Assunção. Fonte: Flightradar24

Uma das passageiras contou à rádio Monumental 1080 AM que, na hora da primeira tentativa de aproximar para Assunção, começaram a sentir uma forte turbulência, então o voo mudou de destino para a cidade brasileira. Ali, não puderam desembarcar porque não havia autoridades para recebê-los. No entanto, a porta foi aberta para todos receberem um pouco de ar, enquanto aguardavam pela nova decolagem.

Conforme o Direção Nacional de Aeronáutica Civil do Paraguaia (Dinac), em entrevista ao jornal ABC, a aeronave foi atingido por granizo 15 minutos após a decolagem de Foz do Iguaçu, o que causou danos à estrutura. Quando se aproximavam novamente a Assunção, a turbulência mais uma vez se fez presente, chacoalhando a aeronave de maneira violenta. O piloto chegou a declarar emergência e a aeromoça anunciou para preparar para posição de impacto. O pouso ocorreu normalmente em meio à tempestade por volta das 23h09 e tanto passageiros quanto tripulação saíram ilesos.

O vídeo a seguir contém um filme gravado no momento da turbulência, seguido de outro mostrando uma sequência de vários relâmpagos a bordo, finalizando com fotos do estado final do avião:

Segundo os relatos, o avião chegou a perder os dois motores em voo, mas um deles voltou a funcionar, viabilizando o pouso. As janelas do cockpit ficaram danificadas pela colisão com as pedras de granizo e até a RAT estendida. A Ram Air Turbine (RAT) é o último recurso de geração de eletricidade para a aeronave quando ela deixa de receber a energia gerada a partir do funcionamento do motor, da unidade auxiliar (APU – Auxiliary Power Unity) ou das baterias. Ao ser estendida para fora na parte inferior da fuselagem, é acionada por uma hélice exposta ao fluxo de ar, funcionando assim como um gerador eólico. Sua carga gera energia suficiente para que os sistemas básicos de navegação possam funcionar.

Fotos de danos no radome do avião do voo LA1325 de 26/10/2022. Fonte: redes sociais
Fotos de danos no radome do avião do voo LA1325 de 26/10/2022. Fonte: redes sociais

O radome (“nariz” do avião) estava completamente destruído. Isso acontece porque o radome é o domo do radar meteorológico, ou seja, deve permitir a passagem dos pulsos eletromagnéticos utilizados para seu correto funcionamento. Assim, ele é feito de um material não-metálico e leve (fibra de vidro), que é mais frágil e acaba sofrendo mais com a colisão de granizo.

Como funciona o radar meteorológico a bordo?

Parte das condições meteorológicas durante o voo podem ser dadas pelo radar meteorológico que fica a bordo, no nariz do avião. Basicamente, ele emite pulsos eletromagnéticos que interagem (ou não) com gotas de água e cristais de gelo que estejam flutuando na região à frente da aeronave. O sinal dessa onda eletromagnética que é espalhado de volta para a antena é então analisado.

Conforme a intensidade do sinal refletido, cada região é exibida em uma tela a bordo com uma cor diferente. Alta refletividade está relacionada a grandes porções de água líquida, como granizo molhado e chuva; média refletividade associa-se a neve molhada e granizo seco; baixa refletividade, neve seca e chuvisco.

Note que, com essa classificação, pode-se ter uma refletividade média, que geralmente não é considerada perigosa, mas com a ocorrência de granizo. Como a refletividade depende do conteúdod e água líquida na atmosfera, é mais provável que tenha um sinal mais forte quanto mais perto da superfíficie. Nuvens convectivas sem muito sinal de retorno também podem apresentar forte turbulência. Certas regiões atrás de áreas com grande refletividade ficam sem sinal devido à atenuação. É possível também escolher diferentes alturas para obter o plano horizontal das imagens e fazer ajustes de ganho. Por isso, é importante conhecer bem a interpretação e limitações dessas imagens.

Exibição do radar meteorológico em diferentes configurações de inclinação ("tilt"). Fonte: Marconnet et al. (2016)
Exibição do radar meteorológico em diferentes configurações de inclinação (“tilt”). Fonte: Marconnet et al. (2016)

Alguns radares meteorológicos estão equipados com um modo de exibição de turbulência. Esta função (TURB) é baseada no efeito Doppler e é sensível ao movimento da precipitação. Assim como o radar meteorológico, a função TURB precisa de uma quantidade mínima de precipitação para ser eficaz. Uma área de chuva leve, representada em verde no modo normal, é mostrada em magenta quando há alta atividade de turbulência. A função TURB está na maioria dos radares meteorológicos ativa apenas dentro de uma faixa de 40 milhas náuticas (capacidade de medição Doppler) e deve ser usada apenas em turbulência úmida.

Condições meteorológicas

Ao longo do dia do ocorrido, o tempo estava bastente instável na região. Isso era resultado de um sistema de baixa pressão, que favorece a convergência e ascenção de ar e umidade para formação de tempestades. Além disso, havia a aproximação de uma frente fria, o que favorece o levantamento da massa de ar local e a intensificação das tempestades, ocasionadno rajadas de vento, raios e queda de granizo.

Imagem de satélite com realce para áreas de nuvens com grande desenvolvimento vertical (tempestades severas). Fonte: NASA/NOAA
Imagem de satélite com realce para áreas de nuvens com grande desenvolvimento vertical (tempestades severas). Fonte: NASA/NOAA

O meteorologista da MetSul Luiz Fernando Nachtigall, especialista em Meteorologia Aeronáutica e que foi chefe de prognósticos dos aeroportos Salgado Filho e Galeão, fez alguns comentários a respeito do tipo de granizo do evento. Ele observou que as tempestades que atingiram o Paraguai não eram de granizo seco e estavam acompanhadas de chuva pesada em muitos pontos ao longo de toda a extensão da frente fria. Dessa forma, inevitavelmente apareceram no radar formações pesadas.

Nachtigall também comenta sobre a rota usada pelo piloto. “O piloto fez um grande desvio ao sair de Foz do Iguaçu, rumando para o Norte do Paraguai antes de descer para o Sul rumo à cidade de Assunção. É possível que tenha recebido alguma informação por rádio sobre diminuição da instabilidade em Luque depois do temporal do fim da tarde, mas no caminho e ao se aproximar encontrou as tempestades que já tinham passado pelo aeroporto e que avançavam para Norte acompanhando a frente fria”.

Sobre o cenário atmosférico do evento, o meteorologista complementa: “O que víamos sobre o Paraguai nos radares de superfície e satélites mostrava uma situação extremamente perigosa para voar (…) Havia um alinhamento de células de tempestade de muito difícil desvio porque formavam uma verdadeira linha contínua de tempestade em rota, condição que será objeto da investigação aeronáutica”.

Fontes

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