Aurora polar no Brasil?

Auroras polares são conhecidas por produzirem uma luminescência com várias tonalidades que ganha grande destaque no céu noturno. Em 24 de abril de 2023, um espalhamento do tipo auroral ocorreu no céu da região de Santa Maria/RS. Mas será que auroras podem ser vistas no Brasil?

O que é uma aurora polar (boreal/austral)?

Aurora vista do espaço (fotos superiores) e do solo.
Aurora vista do espaço (fotos superiores) e do solo.

A aurora polar é um fenômeno óptico composto de um brilho observado nos céus noturnos nas regiões polares. Também pode assumir a aparência de uma cortina de raios alinhada com o campo magnético terrestre, com cores específicas e mudam de forma constantemente. Forma-se em decorrência do impacto de partículas de vento solar e a poeira espacial encontrada na via láctea com a alta atmosfera da Terra, canalizadas pelo campo magnético terrestre. Cada colisão envolve dissociação, ionização, onde os elétrons são ejetados e ionizam outros átomos, e excitação, resultando na emissão de fótons na frequência específica dos elementos excitados quando da estabilização do átomo. Esses processos são fundamentais na formação da ionosfera. A emissão de oxigênio em altas camadas da atmosfera (aproximadamente 200 km de altitude) produz a tonalidade verde. Em tempestades solares mais fortes, camadas mais baixas (100 km) são atingidas pelo vento solar, produzindo a tonalidade vermelha escura pela emissão de átomos de Nitrogênio (principalmente) e oxigênio. Também pode ocorrer iluminação ultravioleta, violeta e azul.

Em latitudes do hemisfério norte é conhecida como aurora boreal (nome batizado por Galileu Galilei em 1619, em referência à deusa romana do amanhecer, Aurora, e ao seu filho, Bóreas, representante dos ventos nortes). Ocorre normalmente nas épocas de setembro a outubro e de março a abril. Em latitudes do hemisfério sul é conhecida como aurora austral, nome batizado por James Cook, uma referência direta ao fato de estar ao Sul. O fenômeno não é exclusivo somente à Terra, sendo também observável em outros planetas do sistema solar como Júpiter, Saturno, Marte e Vênus. O vídeo abaixo mostra as auroras boreais (em si são iguais às auroras austrais) com uma explicação do fenômeno. Veja a previsão de auroras nesse site: OVATION Aurora (NOAA).

Um tipo de aurora recentemente catalogada é conhecida como Steve (sigla para “Strong Thermal Emission Velocity Enhancement”, ou “emissão térmica forte com aumento de velocidade”). Ela ocorre em latitudes mais baixas que a das auroras clássicas, forma uma linha no céu e possui o roxo como cor predominante. Isso porque ela é fruto de outra dinâmica, ligada ao fluxo de íons na atmosfera. Impulsionados por campos elétricos e pelo campo magnético da Terra, os íons viajavam de leste a oeste em velocidade próxima a 6 quilômetros por segundo. Veja mais na matéria da National Geographic.

Evento de abril de 2023

No dia 22 de abril houve uma ejeção de massa coronal que foi observada na coroa solar após uma explosão de média intensidade, cujo impacto na Terra pôde ser sentido em várias regiões na madrugada do dia 24. O serviço de clima espacial brasileiro no INPE, o Programa EMBRACE (Estudos e Monitorando Brasileiro do Clima Espacial), acompanhou a evolução dessa tempestade e a chegada da estrutura solar na Terra.

A fase principal desta tempestade geomagnética intensa ocorreu entre 23-24/04. Radares mostraram perturbações na ionosfera, revelando uma região de espalhamento do sinal do tipo auroral na região de Santa Maria/RS. No ionograma divulgado pelo EMBRACE, observa-se um borrão no sinal de retorno (eco) na região conhecida como Região Esporádica Auroral em 100 km de altura.

Ionogramas (altura em função da frequência) observados nos dias 24 (acima) e 25 de abril de 2023. Fonte: INPE
Ionogramas (altura em função da frequência) observados nos dias 24 (acima) e 25 de abril de 2023. Fonte: INPE

O local do globo em que ocorreu o evento foi no centro da anomalia magnética da América do Sul (SAMA, do inglês South American Magnetic Anomaly). A SAMA caracteriza-se por ser a região que apresenta as mais baixas intensidades do Campo Magnético da Terra, comparada com qualquer outra região do mundo. Esses valores baixos do campo magnético ocasionam um aumento de precipitação de partículas, principalmente durante períodos perturbados, fazendo com que a ionosfera se comporte como em regiões aurorais.

Anomalia magnética da América do Sul (SAMA) em azul (com o centro em violeta), que apresenta campos magnéticos fracos. Fonte: INPE
Anomalia magnética da América do Sul (SAMA) em azul (com o centro em violeta), que apresenta campos magnéticos fracos. Fonte: INPE

No Brasil, o efeito luminoso da aurora não é visto devido sua latitude magnética muito baixa. Em latitudes altas (regiões aurorais), as partículas carregadas ejetadas do Sol podem também precipitar para a atmosfera. No entanto, é importante destacar que estas estão muito acima da nossa atmosfera mais densa nas latitudes próximas ao equador se comparadas às regiões de latitudes altas, em que as linhas de campo magnético penetram na Terra.

É conhecido que as tempestades solares produzem efeitos danosos aos equipamentos em satélites modificando sua órbita, mal funcionamento de equipamentos e até queima de sensores e circuitos. Outras áreas tecnológicas importantes também são afetadas, como por exemplo, as grandes linhas de transmissão de energia elétrica, aviação civil, comunicação e posicionamento por GPS.

Fontes

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