Sombras e reflexos dos prédios podem gerar problemas

Os primeiros arranha-céus começaram a surgir no final do século XIX nos Estados Unidos. Desde então, eles vêm se espalhando nas grandes cidades de todos o mundo, para abrigar moradias, comércio e escritórios. O crescimento populacional e o desenvolvimento econômico promovem o uso intensivo do espaço urbano e sua valorização. Assim, começa a expansão vertical, gerando construções cada vez mais altas graças às inovações tecnológicas de engenharia e arquitetura.

Edifícios com fachadas de vidro espelhado são uma tendência arquitetônica mundial de origem europeia, muito utilizada em prédios comerciais. O uso de vidro permite a entrada de luz solar, mantendo o ambiente aquecido, além de aumentar a iluminação interna. Seu estilo é apreciado esteticamente por muitas pessoas, dominando o “skyline” de várias cidades.

O adensamento populacional promove uma mudança brusca no estilo de vida de um bairro. A influência da especulação imobiliária impulsiona o crescimento vertical. Infelizmente, é comum que o aumento da infraestrutura de água, esgoto, energia elétrica, transporte, lazer e outros pontos importantes para a qualidade de vida na região venha em ritmo mais lento – ou até mesmo permaneça de modo insatisfatório por muito tempo.

Deve-se estudar e projetar bem as construções, pensando nos impactos também no ambiente e na sociedade que estão inseridas. Existem outras consequências de construções muito altas, particularmente envolvendo a iluminação natural.

Vivendo nas sombras

Em certas cidades, como São Paulo (SP), os prédios foram construídos tão próximos uns dos outros que certos locais, públicos ou privados, nunca recebem iluminação solar direta. Isso aumenta a umidade e a proliferação de fungos, gerando problemas nas construções em si e problemas respiratórios nas pessoas que convivem no local. Balneário Camboriú (SC), que possui alguns dos maiores prédios do Brasil, e em outras cidades litorâneas, muitos prédios provocam sombra sobre a praia, prejudicando o banho de sol de turistas e moradores. Em Vila Velha (ES), foi criada uma lei para restringir a altura de novos prédios a serem construídos, de modo a gerarem menos sombra sobre a praia.

Sombra em Balneário Camboriú. Foto: Diorgenes Pandini

Atualização (2021): foram finalizadas as obras de alargamento da faixa de areia na Praia Central de Balneário Camboriú, de 25 para 70 metros. No entanto, a sombra dos prédios avança até 200 metros sobre a orla ao longo da tarde. Com a obra finalizada, a sombra, que começa a se estender sobre a praia por volta das 15h, demora mais para chegar à linha d´água.

Em cidades como Londres (Reino Unido), onde a maior parte dos dias do ano o céu é nublado, o efeito colateral da verticalização é ainda mais dramático. Um escritório de arquitetura da cidade chegou a desenvolver inovador edifício-conceito batizado de “arranha-céu sem sombra”. Ele consiste em duas torres espelhadas que atuam como “parceiras”: a maior anula parte da sombra projetada pela menor, refletindo a luz solar sobre a sombra do outro.

Um reflexo solar que pode derreter um carro

O uso de vidro para revestimento de construções, por permitir a luz do Sol entrar e manter o calor, é um problema para regiões tropicais, sendo necessário o uso contínuo de ar condicionado e cortinas. As novas tecnologias já minimizam bastante esse efeito devido aos vidros especulares, que possui duas camadas de vidro e uma lâmina translúcida metálica no meio. No entanto, essa aparência espelhada é a causa da colisão de muitas aves contra prédios, que geralmente acabam morrendo. Algumas cidades, como Santos (SP), proibiram o uso de vidro refletivo espelhado em fachadas. Uma forma de reduzir esse problema é o uso de adesivos.

O reflexo gerado pelos espelhos de alguns prédios afeta motoristas em trânsito, que recebem um “flash” de luz ao passarem sobre o ponto onde os raios de Sol são refletidos. Em Londres, quando um prédio começou a preencher sua fachada com vidros espelhados em 2013, vizinhos começaram a ter problemas como carpetes queimados, frutas estragadas e partes plásticas dos carros estacionados nas ruas derretidas. Devido ao formato côncavo do prédio, as janelas do prédio atuaram como um espelho esférico, e os raios de luz do sol convergiram sobre um ponto, concentrando a energia a ponto de aquecer consideravelmente o que estivesse ali.

Edifício “Walkie Talkie”. Foto: PA

A empresa Land Securities, responsável pela construção do arranha-céus em parceria com o Canary Wharf Group, diz que o problema é um fenômeno causado pela posição atual do sol. Acredita-se que o sol permanece nessa posição por duas horas por dia e que poderia causar problemas pelas duas ou três semanas seguintes (período do ano em que o sol incide de forma a gerar a concentração de energia solar nesses pontos).

Alguns plásticos, como o PVC, podem derreter a uma temperatura de 100°C, mas podem amolecer antes disso. Um termômetro mostrou que temperatura no “ponto quente”, onde o carro estava estacionado, era de 91,3°C. Como medida de precaução, prefeitura de Londres concordou em suspender o estacionamento em três vagas na região que podem ser afetadas. Uma grade lamelar foi adicionada posteriormente; estende-se sobre a frente de vidro curvado para criar um maior efeito de sombreamento e evitar maiores danos.

Apesar de espelhos parecerem um problema em construções, podem ser a solução em muitos casos. A cidade de Rjukan, na Noruega, está localizada em um vale de montanhas tão altas que, devido à sua latitude, fica completamente nas sombras nos meses de inverno. Para minimizar esse problema, idealizaram um projeto para usar espelhos no topo de uma das montanhas e refletir a luz do Sol para uma praça da cidade.

Fontes

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