Pistas do Aeroporto de Guarulhos mudam numeração

Apesar de certas manchetes sensacionalistas anunciarem que o “magnetismo da Terra está alterando pistas de aeroportos”, a mudança na numeração de pistas de pouso é reflexo de um fenômeno natural que ocorre continuamente ao longo de toda a história da Terra. Para entender o que aconteceu, devemos compreender como funciona o magnetismo terrestre e o que isso tem a ver com a numeração das pistas de um aeroporto.

Nova marcação na pista de GRU. Fonte: GRU/Divulgação
Nova marcação na pista de GRU. Fonte: GRU/Divulgação

Magnetismo terrestre

Se a Terra fosse do tamanho de uma maçã, a crosta terrestre seria da espessura da casca dessa maçã. Isso porque essa camada externa de nosso planeta tem de 5 a 70 quilômetros de espessura, enquanto que a distância até o centro é de mais de 6300 quilômetros. O interior da Terra pode ser dividido em manto, diretamente abaixo, e núcleo. Por sua vez, o núcleo é dividido em duas partes: a interna, formada por ferro, níquel e outros metais em estado sólido, e a externa, em que esses elementos estão na forma líquida.

Por causa da rotação terrestre, os metais líquidos estão em movimento constante. Isso produz correntes elétricas e um campo magnético associado, que exerce influência em todo o planeta. O nome que essa explicação recebe é “Teoria do Dínamo”. Com isso, a Terra tem polos norte e sul magnéticos, o que é usado pelos seres humanos e outros animais como orientação através de bússolas naturais e artificiais.

Magnetismo terrestre. Fonte: Mundo Educação
Magnetismo terrestre. Fonte: Mundo Educação

No entanto, justamente devido ao movimento constante dos fluídos metálicos no interior da Terra, os polos magnéticos não coincidem com os polos geográficos. Isso porque os polos geográficos foram definidos com base no movimento de rotação da Terra, ou seja, formam o eixo do movimento ao redor de si.

Além disso, esse movimento interno gera uma mudança contínua da localização dos polos norte e sul magnéticos. Esse deslocamento é registrado em rochas que se formam quando o magma é expelido pela crosta terrestre e se derrama como lava. O material da lava possui campo magnético atômico altamente maleável, por isso, à medida que ela esfria e se torna rocha sólida, os átomos são alinhados com o campo magnético da Terra.

Assim, a posição do campo magnético da Terra muda de posição já faz milhões de anos. Em algumas ocasiões, até mesmo ocorre a inversão dos polos magnéticos do planeta. Essa mudança é lenta se comparada ao tempo de vida dos seres humanos, mas deve ser considerada para uma navegação de precisão.

Uma bússola geralmente é construída utilizando-se uma agulha magnetizada, conhecida como ímã. Ela tende a se alinhar com o campo magnético terrestre e apontar para o norte magnético. No entanto, para se orientar usando um mapa, que está todo referenciado com o norte geográfico, deve-se considerar a diferença entre esses valores. Essa diferença entre o norte magnético e o norte geográfico é conhecido como declinação magnética.

Devido às diferenças de intensidade do campo magnético terrestre em diferentes pontos da superfície terrestre, o valor da declinação também é diferente. Isso gera mapas de declinação para o mundo todo. E esse mapa deve ser atualizado periodicamente, já que o campo magnético terrestre está sempre se movimentando. A média de modificação é de 1 grau a cada dez anos – ou seja, a posição do polo Norte e do polo Sul pode andar até quase 50 km por ano.

Aeroportos

Os dois algarismos que identificam as cabeceiras de uma pista são definidos de acordo com o seu rumo ou orientação magnética da bússola. Eles podem variar de 1 a 36, pois 360 graus indicam uma volta completa na rosa dos ventos. Ou seja, quando a bússola for apontada para determinada cabeceira e indicar 250 graus, por exemplo, ela é identificada com o número 25.

rosa dos ventos
Rosa dos ventos com siglas, nomes e identificação em graus – no inglês, o O vira W, de West

Esses números servem como um auxílio aos controladores para o direcionamento de voos no momento em que informam aos pilotos quais são as pistas que devem decolar ou pousar. Os números das cabeceiras de pistas podem ser alterados com o passar do tempo em razão da declinação magnética.

Numeração antiga das pistas no GRU. Fonte: Adaptado de Google Earth
Numeração antiga das pistas no GRU. Fonte: Adaptado de Google Earth

As cabeceiras das pistas do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, têm novos números desde 08/09/2022. Essa é a primeira vez que os designativos das cabeceiras passam por alterações desde a inauguração do aeroporto, em 1985. Os rumos das pistas mudaram de 95 para 96 e de 275 para 276. Assim, foi necessário substituir as sinalizações horizontais e verticais no solo dos designativos das cabeceiras, arredondando-os para as dezenas superiores – 10 e 28, respectivamente.

O aeroporto possui duas pistas, totalizando quatro cabeceiras – conforme o sentido de pouso, a mesma pista pode ser identificada por um número ou pelo outro. Elas tinham os números 09 e 27 estampados, acompanhados pelas letras L e R (esquerda e direita). Agora, elas passam a indicar 10L/28R e 10R/28L.

Fontes

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