Depressão Claudia e impactos em Portugal

Entre os dias 10 e 15 de novembro de 2025, o oeste da Europa foi marcado pela passagem da depressão Claudia, nomeada pela AEMET na tarde de 10 de novembro. Tratou-se de uma depressão de grande impacto, caracterizada pelo seu enorme tamanho e pela particularidade de ter ficado “presa” num bloqueio atmosférico, com centros de alta pressão posicionados tanto a Oeste quanto a Leste. Essa configuração impediu o rápido deslocamento do sistema, prolongando os seus efeitos sobre Portugal e Espanha, abrangendo tanto o território continental quanto as regiões insulares, e resultando em vários dias de ventos fortes, chuvas persistentes e condições adversas.

Imagem de satélite com isóbaras e frentes de 14/11/2025. Fonte: Met Office
Imagem de satélite com isóbaras e frentes de 14/11/2025. Fonte: Met Office

No Brasil costuma-se falar em tempestade ou ciclone extratropical, enquanto em Portugal o termo mais usado é depressão — mas ambos se referem ao mesmo tipo de sistema atmosférico. Trata-se de uma área de baixa pressão que se forma fora da região tropical, geralmente sobre o oceano, e que organiza ventos intensos e chuvas persistentes. Esses sistemas surgem quando massas de ar com características diferentes (quente e fria) se encontram, criando instabilidade. A rotação da Terra faz com que o ar se mova em espiral em torno do centro de baixa pressão, e isso gera ventos fortes que podem atingir grandes extensões territoriais.

A tempestade Cláudia resultou em três mortes, dezenas de feridos e milhares de ocorrências registadas pelas autoridades. A Península de Setúbal foi uma das áreas mais afetadas, concentrando centenas de chamados de emergência, enquanto diversas localidades enfrentaram inundações, quedas de árvores e danos em estruturas.

O caso mais grave ocorreu em Fernão Ferro, Seixal, onde um casal de idosos morreu afogado dentro de casa após a residência ser rapidamente inundada. Em Montijo, comerciantes contabilizaram prejuízos significativos, com estabelecimentos invadidos pela água e escolas fechadas por precaução. A tempestade também provocou falhas no fornecimento de energia, deixando 20 mil clientes sem eletricidade em Lisboa, Santarém e Setúbal, embora o serviço tenha sido restabelecido ao longo do dia.

Estacionamento subterrâneo do Fórum Shopping (Faro) alagado. Fonte: SIC Notícias
Estacionamento subterrâneo do Fórum Shopping (Faro) alagado. Fonte: SIC Notícias

No interior do país, os ventos extremos causaram estragos em Nisa, onde um fenómeno descrito como tornado destelhou várias casas, e em Serpa, onde a queda de uma árvore sobre um caminhão deixou um ferido leve. Já no litoral, o mar agitado obrigou ao encerramento de 16 regiões marítimas. Em Faro, o mau tempo inundou áreas próximas ao hospital e um centro comercial, além de quedas de árvores e danos em estruturas urbanas; a partir das 16h30 de sexta-feira, o serviço da rede de autocarros Próximo para Gambelas chegou a ser interrompido, afetando o deslocamento dos estudantes do campus da Universidade do Algarve. Em Albufeira, no sábado, um fenômeno extremo de vento, provavelmente um tornado, atingiu um parque de campismo e um hotel. O episódio deixou 21 feridos, três deles graves, além de um desaparecido, e provocou a morte de uma mulher britânica de 85 anos.

Tornado em Albufeira. Fonte: Travel Algarve
Tornado em Albufeira. Fonte: Travel Algarve

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera confirmou que a região foi atravessada por linhas de convecção que geraram rajadas intensas e localizadas, com potencial destrutivo. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil contabilizou mais de mil inundações e centenas de quedas de árvores e estruturas em todo o território. O pior dia de eventos meteorológicos (14/11) aconteceu exatamente uma semana após o tornado de Rio Bonito do Iguaçu (Paraná, Brasil), com ventos estimados em mais de 330 km/h e que destruiu 90% da área urbana, resultando em mortes, feridos e centenas de pessoas desalojadas.

Fontes

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