Chuvas fortes e acidentes aéreos

O ano de 2025 já começa com dois acidentes aéreos no estado de São Paulo. No primeiro, um aivão atravessou pista molhada de chuva em Ubatuba, pegou fogo e parou no mar. No outro, um helicóptero cai em uma região de morros em Caieiras durante uma noite de chuva forte. Em ambos, a chuva parece ter participado do cenário em que ocorrem os acidentes.

Acidente de Ubatuba

O acidente envolvendo o Cessna Citation C525 em Ubatuba, no litoral de São Paulo, destacou limitações operacionais do aeroporto local. Em 9 de janeiro de 2025, a aeronave, prefixo PR-GFS, ultrapassou os limites da pista 09, atravessou uma estrada que margeia a praia do Cruzeiro e explodiu ao atingir a faixa de areia. O piloto não resistiu, mas os quatro passageiros — um casal e dois filhos — foram resgatados com vida. O acidente, caracterizado como “excursão de pista”, será investigado pelo Cenipa, órgão da Aeronáutica responsável por apurar ocorrências aeronáuticas no Brasil.

Dados do manual do fabricante e da concessionária responsável pelo aeroporto indicam que o Cessna Citation necessitava de uma extensão mínima de 685 metros para pousar com segurança em pista molhada, mesmo no menor peso possível. No entanto, a pista de Ubatuba oferece apenas 560 metros disponíveis para pouso na direção utilizada pela aeronave, devido a restrições operacionais nos primeiros 380 metros. As condições meteorológicas no momento — chuva e pista escorregadia — ampliaram ainda mais os desafios, comprometendo a frenagem e a segurança do pouso.

Pista do aeroporto de Ubatuba. Fonte: g1 e Google Maps
Pista do aeroporto de Ubatuba. Fonte: g1 e Google Maps

Essa limitação da pista 09 ocorre devido à Serra do Mar, presente em sua aproximação e forçando um toque na pista mais à frente em sua extensão. Essa limitação não existe ao usar a pista “ao contrário”, ou seja, para um pouso vindo a partir do oceano na direção da serra. Em condições de vento calmo, a princípio pode-se optar por qualquer uma das aproximações.

O aeroporto de Ubatuba não é controlado, o que significa que não há torre de controle, e a coordenação das operações cabe aos próprios pilotos. O planejamento do voo, incluindo a análise de fatores como peso da aeronave, temperatura, pressão atmosférica, vento e condições da pista, é responsabilidade do piloto. Relatórios do Cenipa apontam que “excursões de pista” são incidentes frequentes no Brasil, com média de 28 casos por ano entre 2004 e 2013. As causas específicas deste acidente estão sob investigação e podem envolver múltiplos fatores operacionais e meteorológicos.

Acidente de Caieiras

Um helicóptero caiu na região de mata fechada do Morro do Tico-Tico, em Caieiras, na Grande São Paulo, na noite de quinta-feira, 16 de janeiro de 2025. A aeronave foi localizada na manhã seguinte, por volta das 6h15, a cerca de 150 metros da Rodovia dos Bandeirantes. O acidente resultou na morte de duas pessoas, enquanto outras duas, incluindo o piloto e uma passageira, sobreviveram. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) está apurando as causas do ocorrido.

Localização de acidente aéreo em Caieiras e imagem dos destroços. Fonte: g1 e Google Maps
Localização de acidente aéreo em Caieiras e imagem dos destroços. Fonte: g1 e Google Maps

O helicóptero, modelo Eurocopter EC 130 B4, havia decolado do heliporto Helicidade, no Jaguaré, em São Paulo, às 19h16, com destino a Americana, no interior do estado. No momento da decolagem, a capital paulista enfrentava condições meteorológicas adversas, com alerta para alagamentos emitido pelo Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE). A última comunicação do GPS da aeronave foi registrada às 20h34, e o desaparecimento foi reportado às 23h28. A investigação inicial confirmou que a aeronave estava com situação de aeronavegabilidade normal e autorizada apenas para uso privado.

Equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Força Aérea Brasileira participaram das operações de resgate. O Cenipa esteve no local pela manhã para realizar a Ação Inicial da investigação, que envolve coleta de dados, preservação de evidências e análise preliminar dos danos à aeronave. Apesar das condições climáticas adversas, ainda não está claro se o mau tempo foi determinante para a queda. A investigação continuará para esclarecer os fatores que contribuíram para o acidente.

Análise

Os dois acidentes aéreos registrados em Ubatuba e Caieiras têm em comum a presença de chuva e condições meteorológicas adversas, o que pode ter influenciado diretamente as operações das aeronaves. No caso do Cessna Citation em Ubatuba, a pista molhada foi um fator crítico, reduzindo a eficiência de frenagem e aumentando a necessidade de extensão para o pouso seguro. Com apenas 560 metros disponíveis, muito abaixo do recomendado pelo manual da aeronave para pousos em pista molhada, o risco de ultrapassagem dos limites da pista era elevado, independentemente do peso ou das condições de carga.

Imagem de câmera de monitoramento junto ao aeródromo de Ubatuba. Fonte: Camerite Ubatuba/Eduardo Reigadas via Globo
Imagem de câmera de monitoramento junto ao aeródromo de Ubatuba. Fonte: Camerite Ubatuba/Eduardo Reigadas via Globo

Já o acidente com o helicóptero em Caieiras ocorreu sob condições de visibilidade reduzida e chuva intensa, com toda a cidade de São Paulo em estado de atenção para alagamentos no momento da decolagem. Diferente do caso de Ubatuba, onde o pouso era o desafio, em Caieiras o problema parece ter sido a navegação em condições meteorológicas degradadas. Problemas com os sinais de comunicação/localização e o voo noturno em tempo fechado podem ter comprometido a orientação e a segurança operacional, fatores que o Cenipa irá investigar em detalhes.

Embora ambos os acidentes envolvam chuva, as influências meteorológicas diferem nos dois contextos. Em Ubatuba, o impacto foi direto na operação do pouso, onde a pista escorregadia reduziu as margens de segurança. Em Caieiras, o mau tempo pode ter agido de forma mais indireta, dificultando a navegação e aumentando os riscos em voo. Contudo, em ambos os casos, as condições climáticas reforçam a necessidade de planejamento meticuloso e análise de viabilidade, especialmente em situações onde as condições de operação se aproximam dos limites técnicos das aeronaves. Condições extremas cada vez mais frequentes exigem repensar os voos nessas condições em diferentes esferas.

As investigações do Cenipa estão em curso e serão essenciais para determinar as causas exatas dos dois acidentes. A emissão de relatórios finais pelo órgão será fundamental para identificar falhas, propor medidas corretivas e evitar a repetição de situações semelhantes no futuro. Com base nos resultados das investigações, será possível aprimorar normas, práticas e treinamentos para aumentar a segurança nas operações aéreas em condições adversas.

Fontes

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.