Chuva e petricor

A chuva ocorre quando as gotículas das nuvens ficam grandes demais, sua sustentação no ar não é mais possível e a força da gravidade vende. Nem todas as chuvas atingem o solo, algumas evaporam-se enquanto estão ainda a cair, num fenômeno que recebe o nome de virga e acontece principalmente em períodos/locais de ar seco.

Chuva na região do parque Hopi Hari. Foto: ViniRoger

O equipamento que mede a chuva é conhecido como pluviômetro e sua unidade é o mm (milímetro). Cada mm de chuva equivale a 1 litro d’água por metro quadrado. Por exemplo: uma chuva de 30 mm em um dia são 30 litros de água que caíram por metro quadrado.

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Chuva de 30 mm em um dia: 30 litros de água que caíram por metro quadrado. Ilustração: William Raphael Silva

A intensidade de uma chuva deve ser analisada através da taxa de precipitação, dada em milímetros por hora (mm/h). Uma chuva com um grande volume de água por um período de tempo curto é conhecido como pancada. Já uma chuva que dura muito tempo e com um volume pequeno geralmente é conhecida como chuvisco ou garoa. Geralmente, uma chuva fraca ou um chuvisco é mais perigoso para o trânsito no que diz respeito à aderência dos pneus ao solo: em uma chuva, os pingos caem, se juntam e escorrem, lavando a superfície; já com o chuvisco, os pingos permanecem na superfície, junto das partículas sólidas depositadas, formando uma película escorregadia.

Chuvisco

  • Muito leve – traços de precipitação (gotículas parecem flutuar no ar);
  • Leve – aproximadamente 0,2 mm/h e visibilidade maior que 1000 metros;
  • Moderado – 0,2 a 0,5 mm/h e visibilidade entre 500 e 1000 metros;
  • Forte – maior que 0,5 mm/h e visibilidade máxima de 500 metros.

Chuva

  • Muito leve – 1 mm/h (traços de precipitação, gotas; os pingos não se unem no solo);
  • Leve – 1,1 mm a 5 mm/h (gotas destacadas; pingos fracos no telhado, escutando-os cair isoladamente;formação de poças d’água e fios de água nas sarjetas);
  • Moderada – 5,1 a 21 mm/h (gotas bem nítidas, borrifos; chuva com ruído ou chiado);
  • Forte – 21,1 a 50 mm/h (chuva cai intensamente; borrifos acima do solo; ruído muito forte);
  • Muito forte – acima de 50 mm/h (chuva torrencial, inviável pra pessoa andar de carro).

Essas regras entre parênteses ajudam a estimar a força da chuva.

Curiosidades sobre a chuva

Existem relatos e estudos sobre chuvas muito estranhas. Por exemplo, em 1954, em Birmingham (Inglaterra), rãs começaram a cair do céu. Imagina-se que pequeninas rãs devem ter sido expulsas da água por fortes ventos e subiram em direção ao céu. Mais tarde, quando os ventos cessaram, as rãs “choveram” num local muito distante. Em maio de 1930, houve uma chuva de caranguejos vermelhos em uma cidadezinha no norte da Austrália, talvez levados da água por um tornado.

Chuvas cor de sangue caíram durante seis dias sem interrupção, em 1962, na pequena cidade de My Thanh, a 7 quilômetros de Phu Yn (China). Acredita-se que ventos fortes levantaram poeira vermelha do chão e que voltou ao solo com a chuva. Mais relatos estão na Wikipedia, How stuff works e principalmente no livro “Handbook of unusual natural phenomena”, de William R. Corliss.

Fora do planeta Terra também chove, mas geralmente não é água que cai do céu. Por exemplo, em Vênus existe chuva de ácido sulfúrico, em Titã (satélite de Saturno) chove metano e em Netuno cai diamante do céu! Veja mais no site Meteorópole.

Foto de fósseis de chuva (pingos pré-históricos em argila).
Foto de fósseis de chuva (pingos pré-históricos em argila). Foto: ViniRoger

De onde vem o cheiro da chuva?

Petricor é um termo que vem do grego “pedra” + “fluido eterno”, o que poderia ser traduzido também como “sangue dos deuses”. Esse é o nome do aroma que a chuva provoca ao cair em solo seco.

O termo foi cunhado em 1964 por dois pesquisadores australianos, Bear e Thomas, para um artigo na revista Nature (Nature of argillaceous odour). No artigo, os autores descrevem como o aroma deriva-se de um óleo exalado por certas plantas durante períodos de seca, que é então absorvido pela terra e pedras argilosas. Durante a chuva, o óleo desprende-se no ar juntamente com outro composto, a geosmina, produzindo um cheiro característico.

Geosmina vem do grego para “perfume da terra”, sendo um composto orgânico produzido pela bactéria Streptomyces coelicolor (espécie de actinobactéria presente no solo). Alguns fungos filamentosos, tais como Penicillium expansum também produzem geosmina. Em termos químicos, é um álcool bicíclico com fórmula C12H22O.

Não só a geosmina, mas as próprias bactérias podem ser levadas por movimentos ascendentes até o interior das nuvens ou mesmo até a estratosfera, devido ao seu baixo peso. Conforme estudo da Nature (Bioaerosol generation by raindrops on soil), elas também podem servir como uma superfície para que o vapor d’água possa se condensar ou se congelar, ajudando na formação das gotículas e de cristais de gelo nas nuvens – os chamados núcleos de condensação e de congelamento.

Em outro artigo da nature (Aerosol generation by raindrop impact on soil), de 2015, cientistas do MIT usaram câmeras de alta velocidade para registrar como o perfume se move para o ar. Os testes envolveram aproximadamente 600 experiências em 28 superfícies diferentes, incluindo materiais de engenharia e amostras de solo. Quando uma gota de chuva pousa sobre uma superfície porosa, o ar dos poros forma pequenas bolhas que flutuam para a superfície e liberam aerossóis. Esses aerossóis carregam o cheiro, bem como bactérias e vírus do solo. Pingos de chuva que se movem a uma taxa mais lenta tendem a produzir mais aerossóis; isto serve como uma explicação para porque o petricor é mais comum após chuvas fracas.

Alguns cientistas acreditam que os seres humanos apreciam o cheiro da chuva porque os antepassados podem ter confiado no tempo chuvoso para a sobrevivência. O nariz humano é extremamente sensível à geosmina, sendo capaz de detectá-la mesmo em concentrações muito baixas, na faixa de 5 ppm (partes por milhão). Suspeita-se que esta molécula é detectado por receptores olfativos dos camelos quando viajam através do deserto, dizendo-lhes que não há água nas proximidades. Se confirmado, explicaria por que os camelos do deserto de Gobi são capazes de encontrar água para mais de 80 quilômetros de distância.

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