Fallstreak hole e nuvem funil

Nesse começo de outono de 2025, algumas nuvens curiosas foram reportadas no estado de São Paulo e até viraram notícia de jornal. A primeira foi um “fallstreak hole” em Peruíbe e a outra foi uma nuvem funil em Cotia em 23 de março. Um dia antes, uma nuvem rolo já havia se formado na região de Santana do Livramento/RS.

O outono é uma estação de transição entre o verão quente e úmido e o inverno mais seco e frio. No verão, as chuvas são predominantemente convectivas (associadas a calor e umidade), sendo mais previsíveis em modelos de alta resolução. Com o avançar do outono, os dias ficam mais curtos e a radiação solar diminui, o que afeta o aquecimento da superfície e altera padrões de circulação atmosférica. Com o enfraquecimento do aquecimento solar, a atmosfera tende a estabilizar mais frequentemente, favorecendo inversões térmicas matinais.

No outono, há um enfraquecimento da convecção e a chuva passa a ser mais influenciada por sistemas sinóticos (como frentes frias), tornando-se mais espaçada e de difícil previsão. Durante esse período, massas de ar quente e fria alternam-se rapidamente, gerando grande variabilidade nas condições meteorológicas. Modelos numéricos de previsão de tempo têm mais dificuldade em prever períodos de transição entre padrões distintos.

Fallstreak hole em Peruíbe em março/2025. Foto: Redes sociais
Fallstreak hole em Peruíbe em março/2025. Foto: Redes sociais

O “fallstreak hole“, também chamado de “hole punch cloud”, é um fenômeno atmosférico que se manifesta como uma grande abertura circular ou elíptica em uma camada de nuvens, frequentemente acompanhada por uma trilha de cristais de gelo caindo do centro. Esse nome vem da aparência distinta da formação: “fallstreak” refere-se às faixas de precipitação de gelo que caem da abertura, enquanto “hole” descreve a lacuna na nuvem. Essa estrutura pode ser visualmente impressionante, parecendo um buraco no céu cercado por nuvens contínuas.

Esse fenômeno pode acontecer em nuvens do tipo altocumulus ou cirrocumulus (particularmente da espécie stratiformis), que são compostas por gotículas de água super-resfriadas (ou seja, ainda líquidas, apesar de estarem abaixo de 0°C). Quando ocorre uma perturbação externa, como a passagem de uma aeronave, ela pode induzir a rápida formação de cristais de gelo dentro da nuvem. Esses cristais crescem rapidamente ao redor das gotículas de água e começam a cair, iniciando um processo chamado efeito Bergeron, onde as gotículas evaporam e deixam um espaço vazio na nuvem. Esse mecanismo faz com que o buraco se expanda, criando a característica abertura circular ou oval.

Nuvem funil em Cotia. Foto: reprodução TV Globo
Nuvem funil em Cotia. Foto: reprodução TV Globo

Diferentemente do “fallstreak hole”, a nuvem funil acontece em uma atmosfera bem mais tempestuosa. A nuvem funil é uma formação atmosférica caracterizada por uma coluna alongada de nuvens que se estende da base de uma nuvem convectiva, geralmente um cumulonimbus ou um cumulus congestus, mas sem tocar o solo. Sua aparência lembra um cone ou tubo pendente da nuvem-mãe, girando ao redor de um eixo vertical. A rotação dessa estrutura ocorre devido à presença de vorticidade na atmosfera, frequentemente associada a tempestades severas.

Apesar de sua semelhança com um tornado, a nuvem funil não gera impactos significativos no solo, pois os ventos rotacionais mais intensos ainda não atingiram a superfície. Para que uma nuvem funil se transforme em um tornado, é necessário que a rotação dentro da nuvem se intensifique e que a circulação descendente alcance o chão, o que pode acontecer quando há um forte gradiente de pressão e um intenso fluxo ascendente dentro da tempestade. Caso a nuvem funil toque o solo e seja acompanhada por uma circulação fechada de ventos, ela passa a ser oficialmente classificada como um tornado. Esse processo geralmente ocorre em tempestades supercelulares, onde a presença de um mesociclone favorece o desenvolvimento de tornados.

Outro nuvem curiosa havia se formado no dia anterior (22/03) na fronteira Oeste do Rio Grande do Sul: uma nuvem rolo. Elas se formam devido a variações na velocidade e direção dos ventos em diferentes altitudes dentro da baixa atmosfera, já que surgem em camadas mais próximas da superfície. A espécie volutus pertence aos gêneros Altocumulus e Stratocumulus, podendo ser classificada como Altocumulus volutus, quando está em altitudes mais elevadas e apresenta menor alongamento, ou Stratocumulus volutus, quando se forma em níveis mais baixos e tem um formato mais estendido.

Essas nuvens podem se estender por centenas de quilômetros e frequentemente se destacam em imagens de satélite. Comumente, elas aparecem à frente de uma massa de ar frio, como ocorreu nessa manhã no Uruguai. O fotógrafo Fabian Ribeiro fez um vídeo com drone (incorporado acima) que deu uma ideia melhor da sua dimensão e extensão.

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