1984

O livro 1984 é um romance distópico do autor britânico George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair) publicado em 1949. Ele retrata o cotidiano de um regime político totalitário e repressivo, com grande fiscalização, controle e invasão sobre os direitos individuais e da privacidade.

Cena do filme 1984 (dirigido por Michael Radford), onde ocorre a exaltação ao Grande Irmão (ou "Big Brother")
Cena do filme 1984 (dirigido por Michael Radford), onde ocorre a exaltação ao Grande Irmão (ou “Big Brother”)

Ambiente

No livro, as nações se dividem em três grandes impérios modernos (Oceania, Eurásia e Lestásia) e territórios sob disputa. A sociedade se divide em 3 classes: Alta (Grande Irmão e Partido Interno, 2% da população), Média (Partido Externo, 13%) e Baixa (Proles, 85%). Os Ministérios são as principais representações do Partido, e encarregados, cada um, de manter a harmonia da ideologia do Partido:

  • Ministério da Verdade – responsável pela readequação de documentos e literatura que possam servir de referência ao passado, de forma que ele sempre condiga com o que o Partido diz ser verdade atualmente
  • Ministério da Paz – responsável por manter a Guerra contra os inimigos da Oceania (Lestásia ou Eurásia)
  • Ministério da Fartura – divulga boletins de produção exagerados fazendo toda a população achar que o país vai muito bem
  • Ministério do Amor – julga, tortura e faz lavagem cerebral em quem é contra o governo – não basta eliminar a oposição, é preciso convertê-la

Enredo

A história narrada é a de Winston Smith, um homem com uma vida aparentemente insignificante que trabalha no Ministério da Verdade da Oceania. Sua desilusão na vida, amor por Júlia (sexo é considerado crime, exceto se for para procriação) e incentivado por O’Brien (membro do Partido Interno com quem Winston simpatiza) levam-no a revoltar-se.

O protagonista tem a informação de que a Oceania está em guerra com a Eurásia e que a Lestásia é aliada, só que ele lembra de um momento no passado em que isso era diferente. Somente por ter esta lembrança, Winston já é um criminoso, pois contraria o que diz o Partido e ele nem mesmo pode verificar se isso é verdade.

Novilingua

Os especialistas do Ministério da Verdade criaram a Novilíngua, uma língua ainda em construção, que quando estivesse finalmente completa impediria a expressão de qualquer opinião contrária ao regime. Esse novo idioma condensa diversas palavras de modo a restringir a elaboração de novos pensamento, e portanto cerceando a percepção da realidade.

Uma de suas mais curiosas palavras é “duplipensar“: corresponde a um conceito segundo o qual é possível ao indivíduo conviver simultaneamente com duas crenças diametralmente opostas e aceitar ambas. Os nomes dos Ministérios são exemplos do duplipensar: o Ministério da Verdade, ao retificar as notícias, na verdade estava mentindo e construindo uma nova verdade.

Ideologia

O Partido é marcado pela onipresença do Grande Irmão, que ao país governa e a todos vigia. Seus lemas são:

Guerra é paz

“A guerra é travada pelos grupos dominante contra seus próprios súditos, e o seu objetivo não é conquistar territórios, nem impedir que os outros o façam, porém manter intacta a estrutura da sociedade.”

Depois da Oceania ficar em gurra contra uma nação (e era dito que sempre estiver em guerra contra ela), muda-se a nação inimiga, e também muda-se o inimigo eterno: sempre estiveram em guerra contra ele, as notícias são inclusive reescritas para não contradizer o grande líder. No fim, pela frase acima do livro, tanto faz o inimigo, o importante é ter um. Muitos governantes fazem uso de um inimigo externo para fortalecer seu mandato – a força do governo Bush após os atentados às torres gêmeas aumentou consideravelmente, por exemplo.

“Para manter as rodas da indústria sem aumentar a riqueza real do mundo, era necessário produzir mercadorias, porém sem distribuí-las. A única maneira é através da guerra contínua. Destruir o produto do trabalho humano.”

Essa parte lembra muito o American Way of Life: “conumir para produzir, produzir para consumir” (e assim fazer a economia crescer).

Liberdade é escravidão

Em um ambiente onde a individualidade é reprimida, todos devem se vestir e fazer coisas muito parecidas. Mais importante, todos recebem os mesmos conteúdos, levando a todos pensarem da mesma forma: a forma do Partido.

Atualmente, a mídia de massa age sobre a população dessa forma, fazendo o povo agir em efeito manada para onde a classe dominante julgar necessário. Se devem esquecer a corrupção do governo, dão pão e circo (ou novela e futebol); se devem forçar o governo corrupto a cair para que outro grupo corrupto tome o poder, chega a hora de incitar o ódio na população.

Diariamente, os cidadãos deveriam parar o trabalho por dois minutos e se dedicar a atacar histericamente o traidor foragido Emmanuel Goldstein e, em seguida, adorar a figura do Grande Irmão. A exaltação à raiva em detrimento da razão é uma das ações para movimentar uma massa de manobra política. Isso pode ser feito no horário do telejornal que seja nacional, para derrubar um presidente, ou também para distrair o povo de escândalos de corrupção ao focar em uma tragédia em particular. Tudo depende de onde a classe dominante queira “virar o gado”.

Ignorância é força

Na concepção do Partido, o Ministério da Verdade não está mentindo. Essa modificação do passado é porque o passado (a História) não importa, só o presente. Sem comparar com o que já aconteceu, não há questionamentos. Além disso, as pessoas estão fadadas a repetirem os erros do passado. Dessa forma, a ignorância do povo é a força do Partido.

A Teletela era como que um televisor bidirecional, isto é, que permitia tanto ver quanto ser visto. Quando nenhum programa estava sendo exibido, aparecia a figura inanimada do líder máximo, o Grande Irmão.

Conclusões

É possível notar muitas semelhanças com Stálin, a começar pelo regime totalitarista, idolatria ao soberano, falsificação de documentos históricos para reescrever a história e até um traidor e inimigo público (Goldstein seria o Trotsky da URSS). Porém, um dos maiores equívocos em relação à obra de Orwell é de que se trata de uma desilusão com as ideias socialistas. Em uma carta reproduzida na revista Life (edição de 25 de julho de 1949) e no The New York Times Book Review (31 de julho de 1949), Orwell declarou o seguinte:

“Meu romance recente [Nineteen Eighty-Four] NÃO foi concebido como um ataque ao socialismo ou ao Partido Trabalhista Britânico (do qual sou um entusiasta), mas como uma mostra das perversões… que já foram parcialmente realizadas pelo comunismo e fascismo. O cenário do livro é definido na Grã-Bretanha a fim de enfatizar que as raças que falam inglês não são intrinsecamente melhor do que nenhuma outra e que o totalitarismo, se não for combatido, pode triunfar em qualquer lugar.”

Em tempos de manipulações de notícias e virais superficiais na internet, incluindo vigilância por câmera, informações cadastrais na internet e via GPS, muitos pontos continuam atuais e promovem uma intensa discussão sobre diversos aspectos da sociedade contemporânea.

“As circunstâncias, sejam externas ou puramente psicológicas, produzem, por exemplo, em determinadas pessoas, um estado de descontentamento. Este estado pode encontrar saídas fortuitas em ações violentas, mas intermitentes e sem direção. Surge então um escritor com uma teologia ou uma teoria política cujas fórmulas racionalizam esses sentimentos vagos. (…) A racionalização teórica pode ser totalmente absurda do ponto de vista científico – o racismo alemão é um bom exemplo de teoria absurda -, mas o absurdo de uma teoria não tem nenhuma importância conquanto os homens a julguem verdadeira. Uma vez aceita a teoria, os adeptos trabalharão segundo preceitos, inclusive nos períodos de tranquilidade emocional. Além disso, tal teoria os fará executar, frequentemente e a sangue frio, atos que teriam sido objeto de críticas, ao cometê-los, mesmo num estado de excitação passional.”

Aldous Huxley, escritor de Admirável Mundo Novo sobre a influência de escritores na comunicação

Fonte

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