Ozônio e poluição

Em maio de 2016, apareceu novamente a notícia de que o “campus da USP é área mais poluída de SP”. Mas por quê um lugar com tantas árvores seria poluído? Afinal, de que tipo de poluição estão falando?

Entende-se por poluição a introdução de substâncias ou energia no ambiente pelo ser humano, de modo direto ou indireto, provocando um efeito negativo no seu equilíbrio, causando assim danos à saúde humana, aos seres vivos e aos ecossistemas. Ou seja, o cheirinho do pão saindo do forno de uma padaria pode ser gostoso às vezes, mas os moradores próximos que respiram as partículas desse cheiro várias vezes ao dia durante anos podem considerar isso uma forma de poluição do ar.

A poluição do ar pode ocorrer de várias formas. Uma das mais conhecidas é a do material particulado: partículas muito finas de sólidos ou líquidos suspensos no ar, com dimensões geralmente entre 20 e 0,05 micrômetros de diâmetro. Existem fontes naturais (como vulcões, poeira, incêndios em florestas, aerossol marítimo) e antropogênicas (queima de combustíveis fósseis em motores de combustão interna de veículos, termoelétricas e indústrias, poeiras de construção e de áreas onde a vegetação natural foi removida). As partículas maiores costumam compor aquela poeira que suja a nossa casa, juntamente com restos de pele morta. As menores podem ser inaladas durante a respiração, causando problemas nas vias respiratórias.

No entanto, o poluente abordado na reportagem é o gás ozônio (O3), que tem um processo de formação um pouco mais complexo.

Mas o ozônio não é aquele gás “bonzinho”, que nos protege da radiação ultravioleta gerada no Sol? Quando o ozônio está na estratosfera, ou seja, entre 15 e 35 quilômetros de altura, ele forma a camada de ozônio. Nessa altitude, ele se forma a partir da ação dos raios solares ultravioleta (UV) e também das descargas elétricas nas moléculas de oxigênio (O2). Se o UV participa da formação de ozônio, então ele não chega aqui na superfície. A radiação ultravioleta pode causar danos à pele e olhos, podendo até mesmo gerar câncer.

O chamado ozônio estratosférico teve uma redução brusca em sua concentração sobre a Antártida, que conhecemos como Buraco na Camada de Ozônio. Isso acontece devido à liberação do gás CFC, antigamente muito utilizado em sistemas de refrigeração e latinhas de aerosol. Apesar do CFC contribuir um pouco com o efeito estufa, essa questão não está ligada aos problemas de aquecimento global e mudanças climáticas.

Já o ozônio troposférico (quando localizado próximo à superfície) geralmente não é uma substância desejada. Aqui embaixo, ele causa tosse, irritação nos olhos e na garganta e coriza, além de cansaço.

O ozônio troposférico é formado na atmosfera a partir de gases emitidos pelos veículos (principalmente óxido nitroso e compostos orgânicos voláteis) em conjunto com a luz solar. Quando esses carros estão muito próximos das vias, o ozônio é destruído rapidamente devido a reações com outros poluentes e à movimentação dos automóveis. Quanto mais longe das vias, maior a concentração de ozônio, o que ocorre nas regiões bem arborizadas.

Cidade Universitária vista do topo do Pelletron (IF-USP). Foto: ViniRoger
Cidade Universitária vista do topo do Pelletron (IF-USP). Foto: ViniRoger

A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) monitora a qualidade do ar em diversos pontos da região metropolitana de São Paulo. O padrão seguro de ozônio, de 140 microgramas por metro cúbico em oito horas, foi ultrapassado em 26 dias no campus da USP no ano de 2015 inteiro. No ano anterior, esse mesmo padrão deixou de ser seguido em 35 dias. De acordo com normas internacionais da OMS (Organização Mundial da Saúde), esse padrão não deveria ser ultrapassado mais do que um dia por ano. Considerando todas as 21 estações da Cetesb na Grande São Paulo, houve 36 dias com ozônio acima do padrão aceitável em 2015, contra 43 dias em 2014.

A estação da Cetesb para medir a poluição do ar na região da USP fica perto do prédio do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares). Uma das hipóteses para maior concentração de ozônio nessa região está relacionada ao padrão de ventos. Como a USP não tem um trânsito muito intenso em relação a outras áreas, é provável que o ozônio medido lá seja empurrado pelos ventos de outras partes da capital.

Ou seja, se fizer atividade física perto de grandes avenidas, vai sofrer com o material particulado, monóxido de carbono, óxido nitroso, compostos orgânicos voláteis e enxofre, enquanto que, nos parques, vai sofrer mais com o ozônio. Entre os dois males, ainda é melhor correr no parque. Ao contrário do que se costuma acreditar, as árvores não filtram os poluentes, mas formam uma barreira natural contra o avanço da poluição gerada nas vias (poluição do ar e sonora), além de aumentar a umidade e melhorar a qualidade do ar.

O ozônio tem maior concentração em São Paulo nos meses da primavera, período em que não há tanta nebulosidade – então existe maior incidência de radiação solar – e, sem chuvas, a atmosfera não é limpa com frequência. Logo, se acumulam muitos precursores do ozônio na presença de radiação solar, o que resulta em maiores concentrações do poluente.

Como a formação de ozônio depende da luz solar, o período de maior insolação é o que ocorre maior formação de ozônio, ou seja, entre 13h e 16h. De acordo com a pesquisadora Viviana Urbina Guerrero, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), um pico acontece às 14h e outro durante o período noturno. No caso da região metropolitana de São Paulo, a ocorrência de picos noturnos de ozônio tem maior influência na circulação local (mistura da camada residual e intensidade das correntes subsidentes). No entanto, outras regiões podem ter a influência de transporte horizontal conforme o padrão de ventos em maior escala ou mesmo uma combinação desse efeito com a mistura vertical de camadas próximas à superfície.

Também devido a essa dependência da luz para se formar, é comum encontrar maiores concentrações de ozônio em maior altura. Andares mais altos de prédios e altos de morros possuem mais luz porque estão longe de sombras. A diferença da concentração de ozônio do térreo até o 15º andar pode ser um acréscimo de 100%. Diferentemente de quem mora em andares altos, quem está perto dos veículos sofre mais diretamente os efeitos de outros poluentes: material particulado, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio.

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